Como uma construtora de Nova York reduziu seu lixo em 96%

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A construção civil gera um volume enorme de resíduos. Ela é responsável por mais de 600 milhões de toneladas de lixo por ano nos EUA, segundo dados da Agência de Proteção Ambiental de 2018, o dobro do volume produzido por residências e estabelecimentos comerciais em uma cidade.

Com 40 anos de experiência na área, Ken Colao, CEO da construtora CNY Group, sediada em Nova York, conhece de perto o problema. Ao iniciar o processo de transformação da construtora em uma Empresa B – ou seja, com certificação de compromissos e padrões ambientais, sociais e de governança –, ele entendeu que precisava saber o quanto os projetos de companhia estavam contribuindo para o problema.

Começou quantificando os fluxos de resíduos, com o objetivo de reciclar pelo menos 50% do lixo produzido em cada canteiro de obras. Este é o padrão usado pelo sistema de certificação LEED, criado e concedido pelo United States Green Building Council. Por isso, Calao sabia que era algo viável.

Ao acompanhar os fluxos, descobriu que poderia diminuir ainda mais a quantidade de resíduos dos canteiros de obras. De acordo com dados de alguns projetos recentes, o CNY Group conseguiu eliminar ou reciclar mais de 90% dos resíduos e materiais excedentes. “Sem dúvida, foi uma grande surpresa”, conta Colao.

OS RESÍDUOS DE CONCRETO  PASSARAM A SER TRITURADOS PARA SER REUTILIZADOS NA PAVIMENTAÇÃO DE ESTRADAS.

Em dois grandes projetos na cidade de Nova York, a CNY se comprometeu a observar de perto os materiais e resíduos gerados durante todo o processo. Os gerentes de construção acompanhavam tudo o que estava sendo usado (madeira, vidro, lixo eletrônico e chapas de gesso), o que sobrava e para onde esses materiais iam depois que o projeto era concluído.

Durante a construção de duas torres com 729 unidades residenciais, a empresa constatou que era capaz de reciclar, reduzir ou reutilizar 93% do material que antes teria como destino o aterro sanitário. “Isso equivale a mais de 5.600 toneladas de material”, diz Colao. Na construção do Halletts Point, um edifício residencial com 405 apartamentos, no Queens, a empresa atingiu a marca de 96%.

REUTILIZAÇÃO, REAPROVEITAMENTO, RECICLAGEM

Esses altos índices de reaproveitamento só  foram possíveis porque a empresa tomou a decisão de ficar atenta à quantidade de materiais utilizados nos projetos e de contratar transportadores de resíduos que pudessem levar o material para unidades de reciclagem certificadas. Colao explica que os resíduos de concreto  passaram a ser triturados para ser reutilizados na pavimentação de estradas. Já os de madeira agora são partidos em pedaços pequenos e enviados para uma fábrica de papelão em Staten Island.

No entanto, o problema não está apenas em novas construções. A maioria dos resíduos da indústria – cerca de 90% – é resultante da demolição de edifícios. Pedaços de concreto, madeira e gesso de prédios demolidos raramente recebem um novo destino, embora designers estejam buscando maneiras de criar edifícios que possam ser desmontados e facilmente reutilizados ou reciclados no futuro. Novos edifícios poderão ser a chave para diminuir a quantidade de resíduos em demolições. Já em se tratando de construção, o volume ainda é de 60 milhões de toneladas por ano.

Colao ressalta que os índices de reciclagem e reutilização que o CNY Group alcançou são a prova de que a indústria da construção é capaz de reduzir seu impacto ambiental. Mas argumenta que abordar a questão exigirá mais do que apenas o esforço por parte das construtoras. “Somos como um exército. Estamos no front de batalha fazendo tudo acontecer. Mas não somos os únicos responsáveis, não controlamos coisas que fogem ao nosso escopo”, diz ele.

O MAIOR DESAFIO QUE TEMOS É EM RELAÇÃO À CONSCIÊNCIA AMBIENTAL NO SETOR.

O Grupo CNY começou a trabalhar com subempreiteiros desde os estágios iniciais dos projetos, para controlar melhor quais materiais são selecionados e em quais quantidades, garantindo que os responsáveis pela compra adquiram a quantidade certa de gesso, por exemplo, ou convencendo o subempreiteiro a priorizar telhas que podem ser recicladas mais facilmente.

“O maior desafio que temos é em relação à consciência ambiental”, diz Colao. “Estamos convencidos de que, quando o setor adotar alguns desses padrões, vir os custos dos projetos diminuírem e seus lucros aumentarem, se tornará mais competitivo. Há uma vantagem comercial muito evidente nisso.”

O empreiteiro observa que o ideal é que o acompanhamento de reciclagem e reutilização de materiais fosse feito logo nos estágios iniciais do projeto. Por exemplo, em sua concepção inicial, ou como uma condição vinculada à realização de empréstimos para a construção. Ele esclarece que isso é algo que “vai acontecer de forma lenta, à medida que os arquitetos e engenheiros começarem a especificá-lo e os desenvolvedores e proprietários passarem a exigi-lo. Acredito que assim veremos uma evolução no setor”.


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