“Computação espacial” da Apple pode ser o próximo estágio da UX

A mais recente aposta da empresa pode representar o próximo estágio na evolução do design da interface e da experiência do usuário

Crédito: Apple

Costas Michalia 4 minutos de leitura

A história da interface de usuário (UI) é marcada por uma constante evolução. Tudo começou nos anos 1960, com as interfaces de linha de comando, que exigiam que as pessoas digitassem comandos de texto para interagir com os computadores.

Nos anos 1980, surgiram as interfaces gráficas, que utilizavam ícones e janelas para representar comandos e arquivos, tornando os computadores mais acessíveis para usuários comuns.

Com o surgimento da internet nos anos 1990, as interfaces baseadas na web se tornaram a norma. Em meados dos anos 2000, os smartphones e tablets deram início à era das interfaces baseadas em toque, transformando fundamentalmente a maneira como interagimos com dispositivos digitais.

Fonte da imagem: Apple Spatial Design

Agora, estamos prestes a entrar na era da computação espacial e podemos esperar uma nova mudança no design de interfaces. Ela utiliza a tecnologia de realidade aumentada (RA) e realidade virtual (RV), permitindo que os usuários interajam com conteúdo digital em um ambiente imersivo 3D.

Isso representa uma ruptura radical em relação às telas 2D tradicionais e exige uma revisão dos princípios de design da interface e da experiência do usuário (UX, na sigla em inglês).

Um dos principais desafios é o desenvolvimento de interfaces intuitivas e ergonômicas para a computação espacial.

Especialistas da área acreditam que a computação espacial possibilitará interações muito mais intuitivas e naturais com a tecnologia. No entanto, sua adoção e sucesso dependem da superação de alguns desafios importantes.

Isso inclui o desenvolvimento de novos princípios de design para interfaces espaciais, o estabelecimento de diretrizes de conforto e segurança do usuário para ambientes imersivos e a criação de usos atraentes que convençam os consumidores a investir em um hardware novo e caro, como o Vision Pro.

O mais novo produto da Apple será o catalisador de uma série de discussões e avanços no campo da computação espacial. Ele representa um passo significativo na evolução contínua da UI e da UX. Nos próximos anos, certamente veremos inovações incríveis à medida que desenvolvedores, designers e usuários exploram as possibilidades dessa tecnologia.

Fonte da imagem: Apple Spatial Design

Em essência, ela permite que dispositivos digitais compreendam e mapeiem o ambiente físico, possibilitando aos usuários interagir com o mundo digital da mesma forma que interagem com o mundo real. Isso é feito através da sobreposição de informações digitais sobre o ambiente físico – realidade aumentada – ou da criação de mundos totalmente digitais – realidade virtual.

A Meta tem desempenhado um papel importante no mercado de RV com seus headsets Oculus Rift e Quest. A empresa conquistou essa posição ao oferecer experiências imersivas de alta qualidade para jogos, entretenimento e até para aplicações profissionais, como treinamento e educação.

No campo da educação, a computação espacial abre novas possibilidades de aprendizado. Ao transportar estudantes e profissionais para salas de aula e ambientes virtuais de treinamento, essa tecnologia pode proporcionar experiências envolventes e práticas, mais eficazes do que os métodos tradicionais de ensino.

Por exemplo, estudantes de medicina poderiam praticar técnicas cirúrgicas em um uma sala de operações virtual, enquanto engenheiros poderiam solucionar problemas em equipamentos virtuais.

Crédito: Apple

O entretenimento e a interação social também poderão ser transformados por essa tecnologia. Além dos jogos, a computação espacial poderia criar experiências compartilhadas nas quais as pessoas se sintam verdadeiramente conectadas, não importa onde estejam. Shows, peças de teatro e mesmo encontros do dia a dia poderiam acontecer no mundo digital.

No entanto, apesar de todas essas possibilidades incríveis, existem desafios e preocupações importantes a serem considerados. Um dos principais é o desenvolvimento de interfaces intuitivas e ergonômicas para a computação espacial.

Ao contrário dos dispositivos de tela plana, os headsets de RA e RV levam em conta a natureza tridimensional da computação espacial. Por isso, é fundamental que os designers desenvolvam interfaces fáceis de navegar e que não causem desconforto ou fadiga ao usuário.

Fonte da imagem: Apple Spatial Design

Além disso, há questões importantes de privacidade e segurança. Como acontece com qualquer nova tecnologia, a computação espacial apresenta riscos potenciais em termos de segurança de dados. Empresas como a Apple e a Meta precisarão adotar medidas concretas para proteger os dados dos usuários.

A acessibilidade também é uma preocupação. Embora a tecnologia possa oferecer novas possibilidades extraordinárias, é necessário garantir que esteja disponível e possa ser utilizada por um número maior de pessoas. Portanto, o design precisará levar em consideração diferentes habilidades e oferecer opções de acessibilidade.

Headsets como o Vision Pro e o Oculus marcam o início de uma transformação radical na maneira como interagimos com a tecnologia. Mas seu verdadeiro impacto dependerá de como os desenvolvedores, as empresas e os usuários os usarão para criar experiências benéficas e envolventes.

Este texto foi publicado originalmente no Medium e reproduzido com a devida permissão. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Costas Michalia é diretor de estratégia e inovação da Fiora e da Fiora Consultancy. saiba mais