Concorrente do Instagram triplica base de usuários – e isso virou um problema

O aplicativo Cara viralizou. Agora, o app de compartilhamento de imagens está tentando descobrir como criar um negócio sustentável

Crédito: Cara

Grace Snelling 4 minutos de leitura

No início de junho, o aplicativo Cara, especializado em compartilhamento de imagens e portfólios de artistas, chegou ao topo na lista de downloads nas lojas de aplicativos.

Anunciado como uma plataforma que protegeria o trabalho dos artistas da IA, o aplicativo experimentou um raro caso de viralização: em um único fim de semana, sua base de usuários triplicou. De menos de 100 mil usuários, passou para mais de 300 mil.

Mas, de acordo com uma nova postagem do fundador do aplicativo, o sucesso veio acompanhado de uma leva de obstáculos práticos.

O Cara foi lançado há mais de um ano, mas sua ascensão meteórica à fama só começou por volta de 31 de maio. Depois que surgiu a notícia de que a Meta estava treinando sua ferramenta de IA generativa em publicações do Instagram, muitos artistas decidiram migrar para o Cara. 

Para a maioria dos usuários, o principal atrativo do Cara é sua política de IA. O aplicativo promete não treinar modelos de IA em seu conteúdo, além de usar softwares como o Cara Glaze e tags de metadados em html como forma de bloquear os sensores das IAs (embora a eficácia real dessas ferramentas seja discutível).

Desde junho, o site continuou a crescer, ultrapassando recentemente um milhão de usuários e cinco milhões de imagens publicadas.

Agora que a poeira baixou, a fundadora do Cara, Jingna Zhang, publicou uma atualização financeira sobre a plataforma que revela as desvantagens da viralização precoce – e também a dificuldade de conquistar a confiança de artistas humanos na era da inteligência artificial. 

Para início de conversa, Zhang compartilhou que administrar seu negócio é algo bem caro. Antes de o aplicativo estourar, ela evitou intencionalmente a promoção para evitar os custos que vêm com a expansão.

Seu plano inicial era esperar até que todos os recursos do aplicativo estivessem completos, fazer um piloto de assinaturas nesse meio tempo para ver o quanto elas compensariam as despesas e arrecadar dinheiro de "pessoas confiáveis, como amigos e familiares". Mas quando o crescimento começou, no início de junho, não havia muito que sua equipe pudesse fazer além de observar o que acontecia.

De acordo com a publicação no blog de Zhang, quando a plataforma se tornou viral, os custos de hospedagem aumentaram de US$ 2 mil por mês para US$ 100 mil por uma semana de tráfego. Agora que o crescimento se estabilizou, ela estima que custará US$ 660 mil para hospedar os serviços do app por um ano.

A equipe de Zhang está se desdobrando para moderar o fluxo de conteúdo de spam (os bots pornográficos são um problema, por exemplo) e para descobrir como financiar a plataforma. Como primeira medida, Cara começou a pedir doações no site de crowdfunding  Buy Me a Coffee, embora Zhang considere esse tipo de apoio como uma solução provisória para um problema maior.

O aplicativo promete não treinar modelos de IA em seu conteúdo e usa softwares para bloquear os sensores das IAs.

Em uma publicação no aplicativo, Angelo Sotia, cofundador e ex-CEO da DeviantArt (outra plataforma de portfólio), sugeriu que Cara adotasse um sistema de paywall somente para assinaturas. O aplicativo DeviantArt, por sua vez, ficou marcado por instituir mais paywalls ao longo dos anos para se manter lucrativo.

No entanto, como uma das primeiras usuárias do DeviantArt, Zhang reluta em se submeter à ideia de cobrar de todos. "Sei que um acesso pago pode ajudar a eliminar os bots e reduzir a coleta de dados para a IA generativa. Mas, mesmo assim, minha intenção com Cara é beneficiar o maior número de pessoas pelo máximo de tempo que eu puder."

Atualmente, o plano financeiro de Zhang é trabalhar na "otimização do código para redução de custos e escala", enquanto implementa algumas assinaturas no aplicativo e considera ofertas de empresas de capital de risco. Ela também vai buscar uma rodada de captação de recursos entre amigos de sua confiança.

Crédito: Cara

Além dos problemas financeiros, a plataforma está enfrentando pressão interna da comunidade de artistas. "O maior sofrimento que tive desde que fundei o Cara foi a quantidade de ódio e assédio com que tive de lidar por parte da comunidade de artistas que nos critica", escreveu Zhang, referindo-se a reações relacionadas a bugs e políticas do aplicativo, bem como a recursos que a equipe ainda não consegue desenvolver.

Atualmente, os artistas profissionais têm alguns motivos para serem sensíveis em relação ao seu trabalho, porque a IA se torna cada vez mais poderosa e plataformas populares como DeviantArt e ArtStation se tornaram extremamente comerciais.

No entanto, canalizar essa frustração contra Zhang e sua equipe é injusto, tendo em vista seus esforços para reunir feedback da comunidade, apesar de o site parecer cada vez mais difícil de gerenciar.

    "Uma das melhores coisas das redes sociais é ter uma plataforma gratuita para ver uma enorme variedade de arte de pessoas de todo o mundo", declara a artista Abigail Larson, que aderiu ao Cara logo no início de seu desenvolvimento.

    "Espero sinceramente que seja encontrado um bom meio-termo para o aplicativo, para que todos que queiram apreciar e compartilhar arte continuem podendo fazê-lo."


    SOBRE A AUTORA

    Grace Snelling é colaboradora da Fast Company e escreve sobre design de produto, branding, publicidade e temas relacionados à geração Z. saiba mais