Conheça o Moonwalker, “o calçado mais rápido do mundo”

Metade sapato, metade patins, esse dispositivo pretende ser o futuro da micromobilidade

Crédito: Shift Robotics

Elissaveta M. Brandon 4 minutos de leitura

Por uma fração de segundo, você vai se sentir como um fantasma flutuando sobre a calçada. É emocionante e assustador ao mesmo tempo. Não, não é nenhuma mágica. Também não é como andar de patins. É como caminhar sobre rodas. 

As rodas em questão são conhecidas como Moonwalkers, uma criação da Shift Robotics. A empresa de engenharia arrecadou mais de US$ 320 mil no site de financiamento coletivo Kickstarter para fabricar os “sapatos” inteligentes, que começarão a ser vendidos no início do próximo ano.

Os Moonwalkers são uma máquina curiosa. Eles parecem uma combinação maluca de sandálias e patins. Estão sendo anunciados como “os calçados mais rápidos do mundo”, mas eu continuo chamando-os de máquinas, porque são movidos por um controlador de motor personalizado, uma caixa de câmbio e uma bateria – tudo espremido para caber em um sapato de quase dois quilos – oito vezes mais pesado do que um par de tênis da Nike.

Xunjie Zhang teve essa ideia pela primeira vez depois de quase ser atropelado por um carro enquanto dirigia sua scooter na rua. Os Moonwalkers, diz ele, são feitos para se andar na calçada, diminuindo o risco de colisão. Eles deslizam a uma velocidade de cerca de 11 quilômetros por hora – para fins de comparação, e-scooters rodam entre 24 e 40 km/h e uma pessoa comum caminha entre 4,8 e 6,5 km/h.

Para usar os Moonwalkers, a pessoa precisa calçar seus sapatos normais e encaixá-los nas tiras dos sapatos robóticos. A experiência é parecida com a de andar sobre uma passarela rolante, que foi o que inspirou Zhang. “E se pudéssemos pegar emprestada a ideia de uma passarela, mas miniaturizar em sapatos, para que eles possam servir ao propósito de uma mini passarela rolante?”, ele se questionou.

 

Crédito: Shift Robotics

No que diz respeito às soluções de micromobilidade, elas são uma tentativa nobre de revolucionar uma indústria que causou mais de 70 mil feridos e cerca de 50 mortes entre 2017 e 2021, nos EUA. Mas, apesar de sua pegada descontraída, os Moonwalkers também têm potencial para causar alguns acidentes.

PROCESSO DE APERFEIÇOAMENTO

Zhang fundou a Shift Robotics em 2018, depois de se formar no Instituto de Robótica da Carnegie Mellon University. Desde então, os Moonwalkers passaram por nove grandes iterações de design.

A primeira versão tinha duas rodas de cada lado (como os patins comuns de quatro rodas) e era controlada por um pequeno motor enquanto o usuário usava um microcontrolador e uma bateria presa à cintura.

A versão final tem oito rodas: três de cada lado, uma atrás e outra na frente. Engenhosamente, a equipe de Zhang empilhou duas das rodas laterais, o que lhes permitiu dobrar o raio, para que pudessem passar por lombadas e rachaduras na estrada sem precisar aumentá-las.

Crédito: Shift Robotics

A experiência geral do usuário é bastante inteligente. Para evitar que você escorregue na calçada, os sapatos começam no “modo travado”, com os freios acionados. Para destravar as rodas, tudo só é preciso levantar o calcanhar direito e movê-lo em direção à perna esquerda até que uma luz LED na lateral fique verde.

Para retornar ao modo de bloqueio, basta parar e levantar o calcanhar direito novamente. Isso trava as rodas e permite que você suba escadas ou entre em um ônibus sem precisar tirá-las. Como dizia o slogan da campanha do Kickstarter: “Para andar mais rápido, basta andar mais rápido. Para desacelerar, ande mais devagar. Para parar, é só parar de andar.”

Quando experimentei um par, demorei cerca de 20 passos para aprender a “andar” novamente. Primeiro por causa do peso: os sapatos foram feitos para me ajudar a me transformar no Papa-Léguas, mas, em vez disso, me senti como o Bambi calçando botas de esqui.

Foi preciso internalizar uma mudança mental – um lembrete constante de que eu não precisava empurrar as pernas para baixo e para fora, como fazemos quando estamos patinando, mas apenas normalmente.

Crédito: Shift Robotics

Usei os Moonwalkers por cerca de 10 minutos – tempo suficiente para dar uma volta em um quarteirão no Brooklyn. O primeiro trecho foi um pouco instável. Quando peguei o jeito, o medo de quebrar uma perna foi dando lugar à adrenalina. Assim que completei a volta, comemorando minha corrida de teste impecável, perdi o equilíbrio e agarrei a primeira pessoa ao meu lado.

Aqui devo comentar que já fiz aulas de patinação no gelo. Passei inúmeras horas de domingo andando de patins e joguei hóquei no gelo na adolescência. Ou seja, tenho um bom equilíbrio – e, ainda assim, o perdi em um par de Moonwalkers.

Não tenho dúvidas de que mais algumas tentativas ajudarão a aliviar algumas das minhas queixas. Mesmo assim, acredito que os Moonwalkers funcionarão mais para passeios divertidos do que como uma ferramenta de micromobilidade. Por US$ 1.399, prefiro comprar uma bicicleta elétrica. Ou continuar caminhando – o que, felizmente, ainda é de graça. 


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais