Construída a partir do zero, Elysium será a Las Vegas da Europa

Novo projeto inclui mais atividades econômicas além do entretenimento e procura evitar os erros cometidos por outras cidades planejadas

Crédito: Gensler

Elissaveta M. Brandon 4 minutos de leitura

Uma cidade totalmente nova está sendo construída na Europa. Não se trata de um novo distrito na periferia de Paris ou de um novo bairro nos subúrbios de Milão, mas sim de uma cidade inteira, construída do zero nas margens irregulares de uma represa, a cerca de duas horas e meia a sudoeste de Madri.

Elysium está sendo anunciada como a primeira cidade circular da Europa a ser concebida do zero, seguindo um plano diretor do escritório de arquitetura Gensler. Ela se estenderá por cerca de 6,5 quilômetros quadrados e espera-se que seja concluída dentro de 20 anos, com a primeira fase sendo inaugurada daqui a aproximadamente cinco anos. Seu custo será de pouco menos de US$ 20 bilhões.

Ao saber disso, você talvez esteja traçando paralelos entre Elysium e Neom, a cidade futurista em linha reta da Arábia Saudita que está lentamente tomando forma nas profundezas de um deserto às margens do Mar Vermelho.

Imagem conceitual da proposta da cidade de Neom (Crédito: Gensler)

Faz sentido. Ambas as cidades estão sendo planejadas em uma área que antes era inabitada. São descritas como paraísos sustentáveis, com fazendas solares, uma rede ferroviária e veículos elétricos. E, apesar de não terem nada a ver com a Grécia, seus nomes compartilham raízes gregas antigas (Elysium significa “paraíso”; Neom significa basicamente “novo futuro”).

Neom foi alvo de críticas e controvérsias desde sua concepção, enquanto Elysium ainda não foi atacada pela mídia internacional. Mas antes mesmo de a primeira estrada ser construída, ela pode já ter acertado naquilo em que o plano saudita errou: seus idealizadores pretendem trabalhar em conjunto com a natureza, e não contra ela.

espera-se que a cidade seja concluída dentro de 20 anos, com a primeira fase sendo inaugurada daqui a aproximadamente cinco anos.

Em 2018, Elysium foi anunciada como uma espécie de “Eurovegas” – uma extravagância brilhante composta por hotéis de luxo, cassinos, parques temáticos e shopping centers. Porém, logo depois, veio a pandemia.

Carlos Cubillos, diretor de design da Gensler (que acabou liderando o novo plano diretor) estava na Costa Rica, onde morava na época, quando recebeu uma ligação de Francisco Nuchera, o empreendedor da “Eurovegas”.

Nuchera tinha ouvido falar dos trabalhos de planejamento urbano da Gensler e queria saber se Cubillos poderia criar um novo plano diretor para o terreno que havia comprado na região da Estremadura. “Antes, ele queria criar outro polo de desenvolvimento turístico e de entretenimento fora da Costa del Sol, na Espanha”, relata Cubillos.

Crédito: Gensler

Mas, de repente, tudo parecia não fazer mais sentido. “Ele estava muito preocupado com o fato de que, passada a pandemia, as pessoas não valorizariam mais essa ideia.” E, assim, a “Eurovegas” se transformou em Elysium. A Gensler elaborou um plano piloto totalmente novo, com um centro urbano, marina, instalação esportiva, centro de pesquisas e, sim, hotéis de luxo e cassinos.

Naturalmente, um espaço dessa magnitude só pode ser organizado se for dividido em seções menores, ou distritos, cada um deles conectado por uma rede de corredores verdes. Os arquitetos se inspiraram em Bogotá e em seus corredores verdes; na Cidade do México e em seu extenso Parque Chapultepec; e em Cingapura, que, nos últimos anos, ganhou a reputação de “cidade na natureza”.

O problema é que nenhuma dessas cidades foi planejada do zero como é o caso de Elysium. E, mesmo que tenham surgido a partir de um plano piloto original, foram crescendo mais do que o planejado, avançando sobre encostas e chegando mais perto da água.

Crédito: Gensler

Mais importante ainda, elas se desenvolveram lentamente e de forma mais ou menos orgânica. As pessoas que moravam lá cresceram com um senso de comunidade que foi fomentado por gerações. Como alguém poderia replicar, ou mesmo projetar, esse senso de pertencimento em um pedaço de terra intocada?

“Não dá, mas é possível com planejamento”, afirma Cubillos, citando como exemplo a antiga capital do império asteca. Quando os astecas construíram a cidade de Tenochtitlan (onde atualmente está localizada a Cidade do México) por volta de 1325, optaram por ergue-la em uma ilha para se protegerem de invasores. Em seguida, criaram uma sofisticada rede de aquedutos e canais para transportar água doce.

Essa conexão onipresente com a água, argumenta ele, os ajudou a construir uma cidade que prosperou por séculos. “Podemos pesquisar outras comunidades ou cidades prósperas pelo mundo e, desde sempre, elas têm esse elemento comum: pessoas que se unem em torno de uma fonte de água ou de um solo fértil.”

Crédito: Gensler

A construção de Elysium se sustenta sobre um princípio semelhante, já que fica às margens do reservatório García Sola. Por isso, Cubillos acredita que, ao estimular a personalidade do lugar e ao oferecer às pessoas uma base sólida, elas mesmas vão continuar criando sobre essa base. “Você prepara o solo e deixa as pessoas plantarem as sementes.”

A fase de plantio, no entanto, levará algum tempo. Cubillos informa que a construção está pronta para começar no distrito economicamente mais lucrativo de todos – o de entretenimento – porque Nuchera sofreu pressão do governo local para criar empregos.

A partir daí, ele espera que as instalações esportivas e educacionais venham na sequência, depois o turismo relacionado à saúde e ao bem-estar e, por fim, as áreas residenciais em maior escala. Em outras palavras, a cidade provavelmente se parecerá com uma “Eurovegas” antes de se tornar, de fato, Elysium.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais