Criações dos melhores designers de moda da África – numa loja perto de você

A Folklore está desenvolvendo uma plataforma para diversas marcas em mercados emergentes venderem seus produtos em lojas do ocidente

Crédito: The Folklore/ Divulgação

Elizabeth Segran 4 minutos de leitura

Quando você visita uma região chique de compras – digamos, o Meatpacking District, em Nova York, ou a Champs Élysée, em Paris –, encontra as mais famosas grifes de luxo, de Chanel a Tory Burch. Mas a grande maioria foi fundada por designers brancos, com uma perspectiva bastante ocidental.

Amira Rasool (Crédito: The Folklore/ Divulgação)

Amira Rasool acredita que isso é um problema. Ela tem como missão ajudar designers africanos a conquistar espaço ao lado de seus colegas norte-americanos e europeus. Há quatro anos, lançou a Folklore, uma plataforma que faz curadoria dos principais designers africanos, como Ahluwalia e Thebe Magugu.

Mas, no dia 7 de setembro, vai expandir suas operações para além das vendas individuais e lançará uma nova plataforma chamada Folklore Connect, com o objetivo de conectar varejistas a designers africanos, facilitando compras em atacado e apresentando suas coleções a novos clientes.

Rasool sempre amou o mundo fashion e, quando pequena, queria ser jornalista de moda. Mas, ao ingressar na Rutgers University, passou a se interessar por estudos africanos e decidiu fazer mestrado na Universidade da Cidade do Cabo. Com o tempo, ocorreu-lhe que poderia unir suas duas paixões.

“Estava estudando figuras icônicas, como James Baldwin e W.E.B. Dubois. Essas pessoas dedicaram seu trabalho ao futuro social e econômico dos negros”, conta. “Vi uma oportunidade de amplificar a voz e as condições do povo negro, ajudando designers africanos a aumentar as exportações do continente.”

Crédito: The Folklore/ Divulgação

Ela começou a explorar indústrias emergentes e agitadas da moda africana, identificando marcas promissoras, como Orange Culture e Andrea Iyamah, da Nigéria, e House of Gozdawa, da África do Sul. Amira as trouxe para o Folklore Marketplace, um site que permite que clientes nos EUA, Europa e em todo o mundo comprem suas criações.

Mas logo descobriu que era difícil direcionar tráfego suficiente para o site de forma que causasse um grande impacto para as marcas. Para alcançar um público maior, ela precisava conectá-las a varejistas maiores – como a cadeia de lojas de departamento Nordstrom, ou mesmo butiques descoladas.

Este acabou por ser um empreendimento complexo. Por um lado, a infraestrutura de negócios na África é bastante desafiadora. Os sistemas de pagamentos globais não operam em muitos países africanos, portanto, seus designers não podem receber em contas bancárias locais.

Além disso, há questões de frete. Embora a DHL e a FedEx operem em todo o continente, é extremamente caro enviar compras individuais para o exterior. Mesmo nos EUA, marcas e varejistas conseguem diminuir os custos enviando grandes volumes de produtos.

Crédito: The Folklore/ Divulgação

Amira passou o ano de 2021 construindo a Folklore Connect, que oferece todos os serviços que os designers africanos precisam para trabalhar com varejistas norte-americanos e europeus. Designers e marcas podem se inscrever para fazer parte do Connect. Se forem selecionados, terão acesso a um conjunto de ferramentas, incluindo um sistema que oferece descontos de até 80% nos serviços de frete.

Algumas marcas da plataforma, como Rich Mnisi e Kendall Miles, são bastante famosas na África e, cada vez mais, conhecidas em todo o mundo. Mas, com a Connect, ela espera trazer também designers menos conhecidos e promissores.

“Começamos com designers da África e da diáspora, mas muitos desses problemas de infraestrutura ocorrem em outras partes do mundo, como na América do Sul e no Sudeste Asiático”, diz Amira. “Agora estamos abrindo nossa plataforma para designers de todas essas regiões.”

Crédito: The Folklore/ Divulgação

De certa forma, Amira está trabalhando para criar um conglomerado de luxo como o que vemos na Europa e nos EUA. A indústria de luxo moderna nasceu há um século, quando designers como Coco Chanel, Hermes e Louis Vuitton começaram a confeccionar roupas caras e elegantes.

Algumas marcas ficaram ainda mais poderosas com essa consolidação. A Louis Vuitton Moet Hennessy (LVMH), por exemplo, tem 75 marcas de luxo, incluindo Christian Dior e Givenchy. A Kering é dona da Gucci, da Balenciaga e de outras 13 marcas. Isso permitiu que investissem na construção de novas fábricas e na aquisição de imóveis de primeira linha.

A Folklore ainda está longe de atingir a escala da LVMH e Amira não está interessada em comprar nenhuma dessas empresas. Ainda assim, acredita que há uma lição que podemos tirar dos grandes conglomerados da moda: unir marcas de luxo e compartilhar recursos e logística.

Ela está empenhada em ajudar designers africanos a crescer e trazer riqueza para suas comunidades, mas também sente que o mundo da moda perde quando as marcas insistem em uma perspectiva tão eurocêntrica.

Muitos designers africanos incorporam padrões, paletas de cores e técnicas tradicionais em seus trabalhos, criando uma estética distinta das marcas ocidentais. Há muita beleza que consumidores norte-americanos e europeus ainda não têm acesso.

“Esses designers estão combinando sua herança cultural e aspectos de suas comunidades em seu trabalho”, diz ela. “Muito disso é novo para o ocidente.”


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais