Designers deveriam criar para seus pais, não para seus colegas

A indústria de tecnologia carrega consigo um preconceito etário, o que podemos fazer para corrigir isso?

Crédito: rawpixel.com/ Kaleidico/ John Jennings/ Unsplash

Brian Park 4 minutos de leitura

Estou construindo uma empresa de tecnologia sênior. E sim, estou ciente de que, para muitos de vocês, isso soa como um paradoxo: “Tecnologia para idosos? Meu [inserir membro da família aqui] mal sabe usar um smartphone!” Mas prepare-se para se surpreender: contarei o que aprendi e por que esta é uma visão errada.

Hoje, as estatísticas apontam que consumidores com 55 anos ou mais estão crescendo em número e detém 70% da riqueza do país. Isso é um fato claro. Por outro lado, estamos acostumados com a ideia de que as gerações mais velhas não ligam ou nem mesmo entendem sobre tecnologia. Este, por sua vez, é um enorme equívoco que a indústria continua a reforçar.

Antes de entrar para o setor de tecnologia sênior, passei mais de uma década trabalhando em produtos tecnológicos “comuns” – a maioria voltada para o público de 20 a 30 e poucos anos. E foi exatamente por ver de perto esse preconceito em relação à idade que acabei me interessando por desenvolver produtos inovadores para atender pessoas com 55 anos ou mais.

Como alguém que não faz parte do grupo demográfico no qual minha empresa se concentra, tive que aprender à moda antiga – com pesquisa, muitas conversas e vários erros. Hoje, quase dois anos depois, tenho dicas importantes sobre como desenvolver produtos para um público mais velho:

COLOQUE AS PESSOAS (NÃO A IDADE) EM PRIMEIRO LUGAR

Aprendi cedo que a pior maneira de menosprezar nossos usuários era focar na ideia de criar “um produto para alguém com mais de 55 anos”. Este grupo está longe de ser homogêneo. Além disso, esse pensamento e suas aplicações não refletem como essas pessoas se veem.

Como designers e gerentes de produto, temos que desenvolver nossos projetos com base na forma como nossos usuários se definem – o que, para esse grupo demográfico, quase nunca tem a ver com a idade.

o suposto analfabetismo tecnológico das gerações mais velhas é, de fato, uma falácia.

Essa mesma ideia se aplica a elementos de branding e comunicação, como títulos e imagens. Por exemplo, nunca usamos a palavra “sênior” porque é incompatível com a maneira como nossos usuários se descrevem. A partir do que ouvimos de consumidores e membros da equipe, adotamos o termo “adultos mais velhos”.

Também tomamos cuidado especial com as imagens. Os bancos de imagens sobre essa faixa etária estão cheios de fotos desfocadas, com iluminação por trás e um tom que remete aos “anos dourados”. A maioria traz pessoas com cabelos grisalhos andando no parque. Isso tira do sério os membros da nossa equipe que fazem parte deste grupo demográfico, já que essa representação está muito longe da maneira como vivem e se divertem.

Isso demonstra que o suposto analfabetismo tecnológico das gerações mais velhas é, de fato, uma falácia.

Basta pensar: pessoas com 50 anos ou mais foram, na verdade, as primeiras gerações a adotar a tecnologia – compraram os primeiros telefones celulares e jogaram os primeiros videogames, como Atari e Nintendo.

O fato de essas gerações não terem nascido em um mundo digital não significa que sejam ineptas ou desinteressadas. O que a indústria de tecnologia define como “incompetência tecnológica” costuma ser mais uma questão de hábito e treinamento.

Tome como exemplo o famoso “menu hambúrguer”. Jovens de 20 e poucos anos que cresceram com celulares na mão

pessoas com 50 anos ou mais compraram os primeiros telefones celulares e jogaram os primeiros videogames.

foram treinados durante anos para entender que essas três linhas são um menu expansível. Mas os usuários mais velhos não necessariamente conhecem a mesma linguagem de design – não porque seja complicada demais, mas porque não tiveram os mesmos anos de treinamento.

Em vez de atribuir isso a uma suposta incompetência, por que não tratar como um problema de design e treinamento? Como podemos criar designs e ferramentas educacionais para atender diferentes demografias? Por que não desenvolver produtos que esse grupo realmente quer, em vez de adaptar designs criados para um público totalmente diferente?

PENSE IGUALMENTE NA SUA EQUIPE

Focar em um grupo demográfico diferente do meu fez com que eu e minha equipe buscássemos as melhores práticas de design e marketing. Fazemos testes de usabilidade, conversamos com nossos consumidores, priorizamos designs elegantes e simples.

Por que não desenvolver produtos que esse grupo realmente quer, em vez de adaptar designs criados para um público totalmente diferente?

Quando estava criando o conceito da Hank, não comecei a construir nada imediatamente, como poderia ter feito em outras empresas. Embarquei em um cruzeiro de sete dias para as Bahamas e passei a viagem apresentando a ideia aos passageiros que seriam o público-alvo da minha futura empresa.

Em troca de feedback, eu dava vale-presentes da Amazon. De certa forma, descobri que não fazer parte do target torna tudo mais fácil, já que sempre devemos nos afastar de nossos preconceitos e suposições para ter sucesso naquilo que construímos.

Isso também me fez priorizar uma equipe mais velha, algo incomum em outras empresas de tecnologia. Não se trata necessariamente de um esforço para nos aproximar da nossa demografia-alvo; é mais um reflexo da necessidade de pessoas que tenham treinamento para entender e implementar as melhores práticas.

Ao contratar pessoas que entendem a forma de pensar, as necessidades e a posição dos nossos usuários, as equipes terão mais sucesso em se distanciar da ideia de criar produtos com jovens em mente. Pessoas com 55 anos ou mais foram negligenciadas e incompreendidas por muito tempo pela indústria de tecnologia e merecem um produto realmente arrojado.


SOBRE O AUTOR

Brian Park é cofundador e CEO da Hank, uma plataforma digital que conecta adultos com 55 anos ou mais a pessoas com os mesmos interesses. saiba mais