Dona da Coach compra a dona da Versace: o que muda no mercado de luxo

O acordo de US$ 8,5 bilhões levanta grandes questões sobre o futuro da moda de luxo

Créditos: Phiwath Jittamas/ sxn/ iStock

Morgan Clendaniel 3 minutos de leitura

A Tapestry, holding norte-americana que detém marcas como Coach e Kate Spade, anunciou a aquisição da Capri, proprietária da Michael Kors, Versace e Jimmy Choo, por US$ 8,5 bilhões. O acordo é o mais recente de uma série de outros que vêm ocorrendo no setor e levanta questões importantes sobre o futuro da própria empresa, das marcas sob seu controle e do mercado de luxo como um todo.

1. O acordo pode elevar a Tapestry ao patamar da alta-costura?

A Tapestry sempre esteve à margem no setor da moda de luxo, não conseguindo atingir o mesmo nível de conglomerados como Kering (dono da Gucci, Balenciaga, Bottega Veneta) ou a LVMH (Louis Vuitton, Dior, Fendi), mas aspirando alcançar essa excelência. 

Em 2017, a Coach passou a fazer parte da holding quando a empresa adquiriu a Kate Spade por US$ 2,4 bilhões, e implementou uma reestruturação para se diferenciar após anos presa em um limbo entre fast fashion e alta-costura. Esse mesmo princípio foi aplicado à Kate Spade após a aquisição.

Apesar do sucesso da Coach, que reportou aumento de receita este ano, a Tapestry ainda busca se consolidar no mercado de luxo. A Capri (dona da Versace) proporciona um passaporte para um mundo mais exclusivo.

As vendas também se recuperaram após a pandemia, e essa fusão une duas grandes forças regionais (Tapestry na China e Capri na Europa). Resta ver como ela vai aplicar sua estratégia para competir com as maiores casas de moda.

2. Qual é o estado atual do mercado de luxo?

Os produtos de luxo sofreram um impacto significativo durante a pandemia, mas em grande parte se recuperaram desde então, especialmente nos EUA. Já o mercado chinês permaneceu em baixa por mais tempo devido às restrições da Covid-19 (embora agora esteja crescendo novamente). 

É por isso que parece crucial para a Tapestry avançar nesse setor, visto que, de acordo com um relatório recente, a maioria dos gastos com esses produtos vem de compradores ricos. Muitas marcas de moda estão se concentrando cada vez mais nesse tipo de consumidor como estratégia para impulsionar vendas.

Essa tendência também pode ser observada nos investimentos imobiliários, já que as marcas estão inaugurando lojas em grandes centros urbanos com áreas comerciais de alto padrão.

A Hermès, por exemplo, abriu recentemente uma com mais de 1,8 mil metros quadrados na Madison Avenue, em Nova York. A Rodeo Drive (em Los Angeles) está vendo um boom, com nomes como Dior e Louis Vuitton, que visam atender especificamente a um público com maior poder aquisitivo.

3. A onda de acordos no setor de luxo vai continuar?

Esse acordo é apenas o mais recente de uma série de fusões e aquisições entre grandes casas de moda nos últimos anos.

A LVMH comprou a Tiffany por US$ 15,8 bilhões em 2021 e a Kering adquiriu 30% da Valentino em julho de 2023, em um esforço para recuperar os prejuízos causados pela queda das vendas da Gucci.

Mais acordos estão por vir? A LVMH é atualmente o maior grupo de moda de luxo do mundo (em termos de vendas) e claramente está em busca de mais aquisições para se consolidar ainda mais no setor.

Em maio de 2023, a Richemont, proprietária da Cartier, declarou que não estava à venda, apesar dos rumores sobre o forte interesse da LVMH, que também foi mencionada como potencial compradora da Bergdorf Goodman.

Dado este cenário de negociações, empresas menores como a Richemont podem se tornar alvos interessantes para os grandes grupos de luxo, mesmo que os rumores envolvendo a LVMH não se concretizem.


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