Dupla cria máscaras para proteger rostos e celebrar a África

Crédito: Fast Company Brasil

Lilly Smith 4 minutos de leitura

Lâminas de bronze gravado com milímetros de espessura, golas de coral plissados cortados a laser. Não é alta costura, mas poderia ser. São máscaras faciais.

A arquiteta nigeriana Tosin Oshinowo e a designer têxtil britânica Chrissa Amuah criaram três máscaras faciais maravilhosas chamadas Freedom to Move, encomendadas pela Lexus. A marca é parceira automotiva oficial do evento anual Design Miami. O pedido era que a dupla criasse um “objeto de design dos nossos tempos” – e o que é mais apropriado para os tempos atuais do que uma máscara?

Chrissa Amuah e Tosin Oshinowo (Crédito: Spark Creative)

As máscaras foram desenhadas para celebrar o design e a história africana com um olhar contemporâneo, mesclando o artesanato tradicional africano da fundição do bronze e do latão com inovações contemporâneas, como a impressão 3D.

Hoje, as máscaras faciais são itens cotidianos essenciais, mas também têm sido importantes objetos de experimentos criativos, como os face shield futuristas, os visores chiques da Louis Vuitton, os capacetes transparentes da NASA. E, agora, esculturas maravilhosas. Como as próprias designers dizem, “se você precisa usar máscaras, que sejam espetaculares”.

Elas renderizaram três máscaras com modelos 3D e depois usaram impressoras 3D para um protótipo para testes. Depois, criaram moldes para a fundição a partir dos modelos 3D (os escudos de acrílico foram somente impressos em 3D).

Egaro (Crédito: cortesia da Freedom to Move, de Tosin Oshinowo e Chrissa Amuah)

Cada máscara tem elementos simbólicos importantes. A máscara Egaro, que parece um complexo face shield de bronze, tem o nome de uma área que costumava existir no Níger Oriental, conhecida por ser o berço da fundição na África. A peça possui uma forma convexa obtida por meio de dois painéis de bronze gravados em cada lado da face (o modelo, que as designers chamam de “breathe”, representam a função física integral do movimento humano e visualmente reflete “fractais” africanos ou formas geométricas, de acordo com Amuah). O objeto também possui uma banda metálica curvada na forma de um perfil, que se estende para fora.

Ógún (Crédito: cortesia da Freedom to Move, de Tosin Oshinowo e Chrissa Amuah)

A máscara Ògún – batizada com o nome do deus Iorubá da metalurgia, tecnologia e da guerra – conta com um face shield que se estende para além dos olhos a partir de uma parte de bronze decorado no pescoço. Por fim, a Pioneer Futures combina uma parte de couro cortado a laser que se estende do pescoço até a boca, uma brincadeira com os colarinhos vitorianos e com um capacete de acrílico. A cor é inspirada pelas contas de coral, que Amuah diz serem importantes para cultura nigeriana. É uma peça que chama a atenção e combina diferentes gêneros: “a era do esclarecimento encontra o afrofuturismo”, explica Amuah. Todas vêm com a opção de um face shield transparente.

Pioneer Futures (Crédito: cortesia da Freedom to Move, de Tosin Oshinowo e Chrissa Amuah)

As máscaras demoraram cerca de nove semanas para serem produzidas. Amuah foi para a Nigéria, onde vive Oshinowo, para trabalhar na série por três dessas semanas em meio a uma uma pandemia, que fez com que boa parte dos testes ergonômicos das partes impressas em acrílico e forjadas em bronze fossem feitas virtualmente – mas também durante os protestos nigerianos #ENDSARS, contra a brutalidade policial.

Em uma das vezes, elas ficaram presas no meio de um protesto depois de aterrissarem em Benin, onde se encontrariam com um fundidor de bronze. Balançaram folhas de palmeiras enquanto no meio da multidão para mostrar que estavam ali pacificamente, antes que alguém as levasse para casa até que tudo passasse. O gesto lembrou Oshinowo sobre a boa vontade dos seres humanos.

O episódio está em sintonia com o que a dupla espera que seja entendido sobre a coleção de máscaras. Ambas veem o projeto como uma plataforma para elevar a história cultural do design africano que frequentemente é deixada de lado, e inseri-la em um contexto internacional contemporâneo. O objetivo também é evocar a alegria. “Em tempos de guerra, a cabeça é sempre um elemento protegido”, afirma Amuah. Mas na cultura africana a cabeça também é celebrada, tal qual as peças criadas pela dupla.

“Definitivamente não há uma mensagem política, mas é uma forma linda de se mostrar uma outra perspectiva da África e a contribuição do continente com o mundo de uma forma que normalmente não é vista. No fim das contas, como seres humanos, estamos nessa todos juntos”, diz Amuah.


SOBRE A AUTORA

Lilly Smith escreve sobre design na Fast Company. saiba mais