Em formato de pizza, mapa do universo mostra até o Big Bang

A Via Láctea é apenas um pixel

Crédito: B. Ménard e N. Shtarkman/ Universidade Johns Hopkins

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

Todo bom mapa tem um marcador indicando ao observador o local onde ele se encontra. Geralmente, esse elemento gráfico vem acompanhado da famosa frase “Você está aqui”. Mas, no caso deste mapa extraordinário, o tal marcador se encontra lá embaixo, na pontinha inferior, e representa toda a Via Láctea – sim, a nossa galáxia inteira cabe em um pixel minúsculo.

Crédito: B. Ménard e N. Shtarkman/ Universidade Johns Hopkins

Astrônomos da Universidade Johns Hopkins projetaram um mapa interativo do universo que ilustra 200 mil galáxias e que se estende desde a Via Láctea até a borda do universo observável. Cada galáxia é representada como um pixel.

Crédito: B. Ménard e N. Shtarkman/ Universidade Johns Hopkins

Nos últimos 20 anos, os cientistas mapearam milhões de galáxias usando um telescópio de 2,5 metros de largura no Novo México, culminando em um levantamento astronômico chamado Sloan Digital Sky Survey – o maior e mais detalhado que já foi feito.

Junto com o artista 3D e designer Nikita Shtarkman, os cientistas usaram princípios de codificação e de visualização de dados para traduzir 15 anos desses dados em um mapa inspirador, que ainda por cima é agradável aos olhos e cientificamente preciso.

“Esses dados estão acessíveis há anos e os astrofísicos trabalham neles há muito tempo. Mas ninguém ainda havia se dado ao trabalho de fazer um mapa bonito e acessível para quem não é cientista”, explica o astrofísico Brice Ménard, professor da Universidade Johns Hopkins que liderou o projeto.

O mapa é representativo de todo o cosmos, mas a visualização final mostra apenas uma fração do universo observável, para aumentar a legibilidade. Seria impossível renderizar um mapa mostrando todo o cosmos em 2D – em vez de uma fatia de pizza, em duas dimensões, ele pareceria uma esfera.

Por isso, a equipe decidiu destacar uma “fatia” do cosmos, com cerca de 10 graus de espessura, que representa “apenas” 200 mil galáxias, em comparação com os bilhões delas que veríamos se fosse representado na íntegra. Ménard explica que, se eles tivessem escolhido retratar todas as galáxias que conhecemos no universo, o mapa estaria “completamente saturado”.

Para projetar um mapa cientificamente preciso, a equipe usou um algoritmo capaz de traçar uma série de coordenadas 3D fornecidas pelo Sloan Digital Sky Survey. O que começou como uma planilha “intimidadora”, como relembra Shtarkman, transformou-se em um mapa acessível – que até os mais avessos à ciência conseguem entender.

Crédito: B. Ménard e N. Shtarkman/ Universidade Johns Hopkins

O resultado é um verdadeiro banquete para os olhos codificado em cores. O canto inferior do mapa é uma constelação de galáxias espirais em um azul pálido, que mostra como seria a Via Láctea se pudéssemos observá-la de fora.

Em seguida, o mapa fica amarelo para representar as galáxias elípticas – aquelas que estão mais distantes, mas são mais brilhantes que as galáxias espirais. No meio, que equivale ao céu de cerca de quatro bilhões de anos atrás, o mapa fica vermelho, porque as galáxias elípticas aparecem vermelhas à distância.

Crédito: B. Ménard e N. Shtarkman/ Universidade Johns Hopkins

Além disso, as galáxias são difíceis de distinguir. Por isso, o mapa dá lugar aos quasares, buracos negros supermassivos, tão poderosos que criam um disco de luz extremamente brilhante enquanto sugam tudo o que existe ao seu redor. Os quasares mais próximos aparecem em azul. Conforme o universo se expande, eles aparecem avermelhados, como as galáxias elípticas.

A parte superior do mapa é cercada por uma faixa de mármore amarelo e turquesa que representa o primeiro flash de luz emitido logo após o Big Bang, 13,7 bilhões de anos atrás. Conhecida como The Cosmic Microwave Background, a imagem é um amálgama de três anos de varreduras realizadas pelo telescópio espacial Planck, da Agência Espacial Europeia.

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Crédito: B. Ménard e N. Shtarkman/ Universidade Johns Hopkins

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Percorrer o mapa inteiro é uma experiência que faz a gente se sentir muito pequeno diante da imensidão do universo, mas também nos revela os imensos avanços científicos dos últimos anos.

“O principal objetivo desse mapa era fazer com que as pessoas vissem como é o universo e mostrar que os astrofísicos já mapearam uma boa fração de tudo o que há”, diz Ménard. “Vinte anos atrás, a maior parte desse mapa estaria em branco.”


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais