Em meio a controvérsias, Shein se prepara abrir o capital nos EUA
O sucesso do IPO pode depender de como a empresa será percebida: como uma excelente opção ou um símbolo de consumo desenfreado e irresponsável
A polêmica marca chinesa de fast fashion Shein, entrou com pedido confidencial para abrir seu capital nos Estados Unidos, de acordo com a CNBC. Fundada em 2012, a empresa se tornou uma das marcas de moda favoritas da geração Z, graças ao seu marketing e publicidade em plataformas de mídia social.
No entanto, ao longo de mais de uma década, a Shein enfrentou diversas controvérsias, incluindo alegações de uso de trabalho forçado e críticas pelo impacto ambiental negativo de suas roupas.
as características que tornam a Shein uma queridinha da geração Z são as mesmas que a tornam uma vilã.
A principal questão é: qual imagem prevalecerá? Será a versão polêmica, que afasta os jovens consumidores, ou a de uma marca acessível e valiosa, adorada por todos?
Embora os detalhes dos registros financeiros ainda não tenham sido divulgados publicamente, a empresa sediada em Cingapura teria acumulado uma receita de cerca de US$ 23 bilhões e um lucro de US$ 800 milhões em 2022, com expectativas de crescimento em 2023.
Ela foi avaliada em cerca de US$ 66 bilhões em uma rodada de investimentos em maio deste ano e provavelmente buscará uma avaliação mais alta agora. No entanto, isso dependerá, em parte, de como ela é percebida: como uma marca de moda acessível ou como um símbolo eticamente questionável de consumo excessivo.
FOCO NA GERAÇÃO Z
A Shein construiu uma versão turbinada do modelo de fast fashion, que se tornou conhecido pela H&M e PELA Zara, respondendo rapidamente às novas tendências. Seu negócio envolve uma cadeia de suprimentos sofisticada e uma rede de milhares de pequenos produtores, oferecendo uma grande variedade de produtos, muitas vezes a preços surpreendentemente baixos.
Apesar de vender online em cerca de 150 países, os Estados Unidos se tornaram seu maior mercado. Recentemente, a marca tomou medidas para se tornar um marketplace para outros vendedores (competindo com a Amazon) e adquiriu uma participação na rede varejista Forever 21.
Marcas que dependem fortemente do marketing em redes sociais sempre estarão sujeitas aos caprichos da internet.
Desde o início, a estratégia da Shein focou na Geração Z, ajustando constantemente sua variedade de produtos para responder às tendências praticamente em tempo real, lançando milhares de novas peças diariamente e enfatizando preços acessíveis, com marketing digital agressivo, especialmente em mídias sociais e por meio de influenciadores.
Suas vendas quadruplicaram de 2019 a 2021 (impulsionadas pelos hábitos de compra durante a pandemia) e, no ano passado, a marca se tornou a maior varejista de moda exclusivamente online do mundo.
Mas desde então sua reputação vem sofrendo desgastes. A empresa enfrentou uma série de controvérsias e reportagens críticas, desde disputas de propriedade intelectual até acusações de que sua cadeia de suprimentos estaria repleta de violações trabalhistas e de direitos humanos, além de ter um impacto ambiental negativo.
As críticas podem ter tido um impacto significativo. As vendas desaceleraram consideravelmente em 2022, de acordo com dados citados pela “Business of Fashion”. E parece que tiveram grande influência na geração Z. Segundo um relatório da Morning Consult publicado em junho, a preferência pela Shein entre esse público caiu quase 20 pontos ao longo do ano anterior.
“Marcas que dependem fortemente do marketing em redes sociais sempre estarão sujeitas aos caprichos da internet”, observa o relatório. “Elas podem se recuperar de incidentes virais isolados, mas repercussões negativas persistentes são um desafio de longo prazo."
Desde o início, a estratégia da Shein focou na geração Z, ajustando seu catálogo de produtos para responder às tendências praticamente em tempo real.
Na verdade, as características que tornam a Shein uma queridinha da geração Z são as mesmas que a tornam uma vilã. Produtos hipereficientes, de baixo custo e da moda inevitavelmente entrarão em conflito com preocupações ambientais, por exemplo.
“A Shein está tornando o fast fashion muito mais rápido, levando a um enorme consumo desnecessário”, disse o analista de varejo da GlobalData, Neil Saunders, à CBS MoneyWatch, observando que sua capacidade de lançar duas mil peças novas por dia “é ruim para o meio ambiente”.
A empresa parece estar ciente das diferentes visões sobre a marca e, talvez, da necessidade de ajustar sua imagem – ou até seu modelo de negócios. De forma mais ampla, a Shein precisará convencer os investidores de que sua marca é vista como uma opção de valor na moda, não como um símbolo do capitalismo voraz.
Resta saber se a geração Z, e os consumidores em geral, também estarão convencidos disso.