Energia limpa: Suíça transforma trilhos de trem em “tapetes solares”

A startup Sun-Ways desenvolveu um mecanismo que pode transformar o espaço não utilizado entre os trilhos de trem em uma longa fazenda solar

Crédito: Sun-Ways

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

A energia solar é a chave para um futuro de energia limpa. Mas muita gente não quer fazendas solares de grande escala em seu quintal, muito por conta do espaço que elas ocupam e pelo impacto visual do conjunto de células fotovoltaicas na paisagem.

Esta situação é a razão pela qual as fazendas solares flutuantes estão se tornando cada vez mais populares. A Califórnia já está cobrindo alguns de seus canais com painéis solares e Coréia do Sul, França e Quênia, entre outros países, estão elevando painéis solares sobre palafitas e cultivando vegetais embaixo.

Mas em breve, os países que correm para atingir suas metas de zero líquido poderão contar com mais uma opção. A startup suíça Sun-Ways teve a ideia de colocar painéis solares entre os trilhos dos trens. Os painéis seriam instalados (e desinstalados para manutenção) por um trem especialmente construído com esse propósito, que os “desenrolaria” como um tapete.

Crédito: Sun-Ways

Por mais ousada que essa ideia pareça, a Sun-Ways na verdade tem dois concorrentes. A Greenrail e a Bankset Energy, localizadas respectivamente na Itália e na Inglaterra, já estão testando conceitos semelhantes.

Mas a Sun-Ways se destaca de duas maneiras. Por um lado, porque usa painéis de tamanho padrão, enquanto os outros usam painéis menores, que são colocados em cima das laterais dos trilhos. E, ao contrário de seus concorrentes, o equipamento da Sun-Ways não requer instalação manual.

A empresa está testando seu conceito em um projeto piloto de US$ 560 mil no oeste da Suíça. O piloto testará uma versão do mecanismo usando um trem normal adaptado. Correndo em um trecho de 40 metros perto da cidade de Neuchâtel, o trem vai instalar 60 painéis solares, transformando a lacuna entre os trilhos em uma faixa preta reflexiva – um verdadeiro tapete solar.

Crédito: Sun-Ways

Joseph Scuderi, executivo de marketing com experiência no setor de energia, fundou a Sun-Ways depois que teve a ideia pela primeira vez, enquanto esperava um trem e observava os trilhos. “É um espaço não utilizado”, diz Baptiste Danichert, cofundador da Sun-Ways.

Bill Nussey, fundador do Freeing Energy Project – cuja missão é acelerar a mudança para fontes de energia mais limpa e barata – diz que a ideia é intrigante e que “há muitas maneiras de fazê-la funcionar, mas [a Sun-Ways] terá que superar um uma série de grandes desafios, incluindo os detritos dos trens, a distância entre os painéis e o ponto de interconexão com a rede.”

Por enquanto, 100% da eletricidade gerada pelos painéis solares irá direto para a rede de energia, para abastecer as residências próximas. Mas, eventualmente, a equipe planeja usar parte dessa eletricidade para alimentar os próprios trens que circulam acima dos painéis.

De acordo com Danichert, cinco mil quilômetros de “trilhos solares” (que é o comprimento atual de toda a rede ferroviária suíça) podem gerar 1 gigawatt de energia por ano – energia suficiente para abastecer cerca de 750 mil residências.

Crédito: Sun-Ways

Considerando que existem mais de um milhão de quilômetros de linhas ferroviárias em todo o mundo, o potencial pode ser enorme, mesmo que o sistema não possa ser instalado em todos os trilhos. Mas o mais importante é que não ocuparia nenhum espaço de terras agrícolas ou florestas e não arruinaria nenhuma paisagem.

Para o próximo piloto, a equipe está usando um trem já existente, mas, eventualmente, eles planejam usar um personalizado. Será composto por dois vagões, um para armazenar os painéis solares antes de serem instalados e outro para instalá-los. 

Uma vez colocados, os painéis permanecerão nos trilhos por tempo indeterminado, ou até que seja necessária alguma manutenção. Se for o caso, o mesmo trem passará pela linha e seguirá o mesmo processo, mas em sentido inverso.

Danichert observa que o trem personalizado ajudará a acelerar consideravelmente o processo, de 250 metros por hora para um quilômetro por hora.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais