Erica: o risonho robô criado para despertar empatia

Robô humanoide consegue detectar quando alguém está rindo e optar por responder com uma risada sutil ou uma gargalhada. Engenhoso ou assustador?

Crédito: Life Productions/ rawpixel.com

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

Imagine a seguinte situação: num fim de semana qualquer você decide visitar sua avó, que mora sozinha. Quando você chega na porta dela, porém, percebe que ela está com outra visita, porque escuta os dois rindo. Quando você entra, descobre que o tal visitante é na verdade um robô humanoide – e que ele está rindo de uma piada da sua avó.

Uma cena como essa não se tornará realidade este ano, ou nos próximos 10 anos, mas é exatamente para torná-la possível que uma equipe de cientistas vem trabalhando dia e noite. Pesquisadores da Universidade de Kyoto, no Japão, estão ensinando um robô humanoide a rir em resposta a um riso humano.

O robô, chamado Erica, pode detectar quando uma pessoa está rindo, decidir se é apropriado rir de volta ou não e optar por responder com dois tipos diferentes de risadas: uma risada sutil ou uma risadinha mais ruidosa.

A pesquisa, publicada recentemente na revista Frontiers in Robotics and AI (Fronteiras da Robótica e da Inteligência Artificial, em tradução livre), foi feita em um robô humanoide que tem uma voz humana sintetizada e que é capaz de piscar e de mover os olhos enquanto conversa com humanos. Os cientistas esperam que isso possa ajudar a construir sistemas de IA mais empáticos.

Quando pensamos em robôs, geralmente os associamos a tarefas tediosas, como empilhar caixas pesadas em um depósito, colher vegetais em uma fazenda vertical ou até mesmo desentupir canos.

Mas com uma indústria doméstica de robôs projetada para atingir US$ 19 bilhões até 2027, robôs mais complexos e empáticos entraram em cena. O ElliQ, por exemplo, foi projetado para combater a solidão entre os idosos, e os criadores do Ollie afirmam que ele pode estimular pacientes com demência ou Alzheimer.

No caso de Erica, também, a empatia era fundamental. “Uma das maneiras de mostrar como entendemos as emoções dos outros ou como entendemos uma situação é através do riso”, diz Divesh Lala, um dos autores do estudo.

Estudos mostraram que quando uma pessoa imita o que outra pessoa está fazendo, este ato, conhecido como espelhamento, pode construir um forte relacionamento entre duas pessoas. Neste caso, Erica foi treinada para espelhar a risada de um humano para que ela possa se relacionar com as pessoas.

Os cientistas coletaram dados de mais de 80 diálogos entre estudantes universitários do sexo masculino e o robô, que foi originalmente operado remotamente por quatro atrizes. Os diálogos foram então analisados ​​e várias risadas foram categorizadas como “sociais” (o tipo de riso que damos apenas para sermos educados) ou “alegres” (aquela risada genuína, quando alguém conta uma boa piada).

Depois, os cientistas treinaram o algoritmo para distinguir as características básicas de cada tipo de risada, a fim de espelhá-las de forma coerente. “Se você assumir que todas as risadas são iguais, você vai responder a todas elas, mas se você não responder a nenhuma delas, também é constrangedor”, diz Lala. “Se um robô consegue distinguir entre os dois tipos, essa é uma descoberta útil.”

Por si só, o algoritmo do riso é bastante limitado, mas se ele for integrado a outros recursos, como processamento de linguagem natural e canalização (um aceno de cabeça, por exemplo, ou reconhecimentos verbais periódicos para mostrar que o robô está ouvindo), será possível criar um robô de conversação que pode ajudar os idosos a combater o isolamento social ou, como Lala arrisca, ensinar habilidades sociais a pessoas neurodiversas.

Vale a pena notar que nada disso tem nada a ver com humor real. Erica não consegue distinguir uma piada cafona de tiozão e um trocadilho espirituoso. Pelo menos, ainda não. O algoritmo não foi treinado para processar o significado das palavras, ele apenas ri.

“Erica não tem um senso de humor próprio, mas se ela reagir à risada do usuário, talvez o usuário sinta que entendeu alguma coisa”, diz Koji Inoue, principal autor do estudo.

Em seguida, a equipe quer adicionar diferentes tipos de risadas ao portfólio de Erica e conectar sua capacidade de processar a linguagem com sua capacidade de rir de acordo com o momento, para que ela possa decidir o que é engraçado e o que não é, baseando-se no significado das palavras. “Nosso alvo é a interação humana”, diz Inoue.

Um robô totalmente comunicativo e com um senso de humor bobo pode até não ficar pronto a tempo de sua avó recebê-lo para um chá, mas dentro de algumas décadas, quem sabe você não estará naquela mesma mesa de jantar contando piadas para um robô chamado Érica.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais