Esqueça a Torre Eiffel: espaços mais bonitos da Olimpíada estão no subúrbio

Menos conhecida que a região central de Paris é a beleza de seus subúrbios, onde se encontram alguns dos locais mais interessantes dos Jogos Olímpicos

Crédito: Antoine Mercusot/ Chatillon Architectes

Sam Lubell 4 minutos de leitura

As Olimpíadas e Paralimpíadas de Paris vão exibir a grandiosidade de uma das cidades mais bonitas do mundo, com arenas em locais como a Torre Eiffel (para vôlei de praia e judô), Les Invalides (arco e flecha) e até o Palácio Versailles (hipismo, pentatlo).

Mas um dos locais mais fascinantes e surpreendentes desta Olimpíada está em Saint-Ouen, um subúrbio ao norte da cidade, mais conhecido por seu animado mercado de pulgas. A instalação é conhecida como La Grande Nef (algo como "Grande Proa") e parece uma nave espacial elegante dos anos 70, ou a parte inferior de um barco bem estiloso.

O prédio se projeta sobre uma extremidade da Île-des-Vannes, uma ilha fina e curvada no Sena. Localizada do outro lado do rio, em frente à Vila Olímpica, La Grande Nef será principalmente um local de treinamento para as Paralimpíadas. A renovação da estrutura foi feita pelo escritório de arquitetura Chatillon Architects e custeada pela organização do torneio.

Construída em 1971, a paraboloide em forma de sela – que é o centro de um grande complexo esportivo local – sediou concertos de música, competições esportivas internacionais e comícios políticos; mais notavelmente para congressos do Partido Comunista Francês, que ganhou força nos chamados Banlieues Rouges, ou Subúrbios Vermelhos de Paris.

Seu principal designer, o arquiteto e historiador Anatole Kopp, havia visitado a União Soviética em busca de inspiração e imaginou uma utopia comunista, construindo habitações sociais, escolas, edifícios administrativos e instalações de saúde. Mas o prédio estava abandonado desde 2014, coberto de pichações e mato, danificado pela água, ou seja, pendurado por um fio.

O fundador da Chatillon Architects, François Chatillon, é um dos 34 arquitetos-chefes de monumentos históricos da França. Desde que se especializou em preservação histórica, ele supervisionou a restauração da casa de Voltaire, o Obelisco de Luxor na Place de la Concorde e o Grand Palais – o centro cultural que sediará as competições de esgrima e tae-kwon-do.

Mas a Grande Nef apresentou um desafio particular devido à sua estrutura única. Ela foi projetada como uma ferramenta para mostrar a modernidade da área. Embora o prédio pareça ser construído completamente de concreto, na verdade é sustentado apenas por dois arcos de concreto, entre os quais se estendem cabos de aço, todos segurando o fino telhado de metal.

Crédito: Antoine Mercusot/ Chatillon Architectes

Assim, ao atualizar a estrutura, a equipe teve que fazer inserções cuidadosas para não perturbar esse delicado equilíbrio estrutural ou a maravilhosa forma do edifício original. "É preciso muita energia e imaginação para restaurar esse tipo de construção", diz Chatillon. "Não há regras para esse tipo de coisa."

BRILHO PÓS-OLIMPÍADAS

A renovação também adapta o prédio aos padrões atuais, com melhorias na acessibilidade para deficientes, novos painéis acústicos de madeira, iluminação LED e a instalação de um piso esportivo de nível olímpico. Novos assentos em um tom decididamente dos anos 1970 remetem aos assentos originais.

Após os Jogos, a Grande Nef dará ao bairro uma atração muito necessária e um centro de vida social, capaz de sediar torneios esportivos, concertos e outros eventos novamente. A administração de Saint-Ouen organizou uma competição para restaurar o restante do complexo atlético Île-des-Vannes.

A restauração da Grande Nef faz parte de uma estratégia maior da Olimpíada de Paris para investir nos subúrbios, há muito negligenciados da cidade.

Complexo aquático (Crédito: Reprodução)

A poucos minutos da Grande Nef, em Saint-Denis, está o Centro Aquático Olímpico. Coberto com painéis solares, será uma das maiores fazendas solares da França, fornecendo quase toda a energia do local. Parte dela será desmontada após os Jogos, restando uma estrutura suficiente para fornecer energia ao bairro.

A Vila Olímpica, que abrange tanto Saint-Denis quanto Saint-Ouen, foi planejada por Dominique Perrault, arquiteto da biblioteca François Mitterrand. A maioria de seus edifícios é feita com materiais de origem biológica e, após o torneio, a vila vai virar um conjunto de moradias acessíveis de uso misto.

Crédito: KOZ

A arena Paris La Défense, projetada por Christian de Portzamparc na vizinha Nanterre, tem uma fachada caleidoscópica composta por 600 escamas móveis de alumínio e vidro. Em Saint-Denis está também o Stade de France, que terá um papel central durante a Olimpíada e foi amplamente modernizado.

Arena La Défense (Crédito: EGF)

Esse esforço para reconectar e revitalizar os subúrbios através dos Jogos Olímpicos é um componente importante da estratégia "Grand Paris", uma tentativa contínua de melhorar as ligações (e reduzir as desigualdades) entre Paris e seus subúrbios.

    A cidade, a região e o país investiram bilhões para incentivar essa mudança, incluindo o Grand Paris Express, uma expansão da rede ferroviária que inclui uma estação projetada por Kengo Kuma em Saint-Denis. A Olimpíada é uma grande oportunidade para mostrar os resultados.


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