Esqueça os Jetsons: transporte do futuro será mais parecido com Westworld

Projetos futuristas de transporte público já estão em andamento

Crédito: Evgeniy Tuhachewscky/ Unsplash

Burcu Olgen, Fatima Mehrzad, Negarsadat Rahimi e Sara El Khatib 4 minutos de leitura

Antes da pandemia, as escolhas mais comuns de meios de locomoção se resumiam a caminhar, dirigir ou usar o transporte público. Os aplicativos de celular também já nos permitiam solicitar corridas em carros comuns, alugar bicicletas ou até mesmo uma scooter.

Uma viagem curta podia começar em uma rua residencial e percorrer vias comerciais movimentadas, exigindo que desviássemos de ciclistas e motoristas de entrega e fizéssemos manobras rápidas em cruzamentos movimentados.

Mas, depois da pandemia, não foram apenas as formas de deslocamento que mudaram. A própria experiência de deslocar-se pelas cidades se alterou completamente. As prefeituras vêm instalando ciclovias, reduzindo faixas de automóveis e estacionamentos, ampliando as calçadas e áreas verdes e criando mais espaço para carros elétricos.

Se tudo isso foi possível em tão pouco tempo, o que poderia acontecer em décadas de mudanças nas ruas? O transporte público ainda existiria? Se sim, como seria?

A PRÓXIMA GERAÇÃO

A mudança na forma como nos deslocamos já começou. Graças a projetos de transporte de última geração, o transporte público está se tornando mais eficiente, empregando ônibus e trens autônomos e instalando sistemas automáticos de emissão de passagens.

Projetos futuristas de transporte público exploram a transformação de cidades comuns em cidades inteligentes, abordando questões de segurança e de privacidade, criando novos padrões técnicos e lançando projetos de cidades inteligentes, como o campus em Chongqing, na China, cuja energia é controlada por inteligência artificial.

Projetos futuristas de transporte público exploram a transformação de cidades comuns em cidades inteligentes.

As narrativas de ficção científica sempre imaginaram a vida urbana do futuro. Clássicos como "Blade Runner" e "Agente do Futuro" (Ghost in the Shell) trazem representações especulativas do futuro como imaginado na época. Aliás, o atual sistema de crédito social da China ecoa o sistema de vigilância em massa descrito no livro "1984", de George Orwell.

FUTUROS URBANOS

Nas séries de ficção científica "Carbono Alterado" (Altered Carbon) e "Westworld", os cenários urbanos constituem uma parte significativa da representação do futuro. Cidades futuristas são representadas como densamente povoadas, com arranha-céus elevando-se acima de ruas movimentadas e estreitas.

Em "Carbono Alterado" (da Netflix), as ruas lembram os animados mercados populares, cheios de barracas de mercadores. Os ricos vivem acima das nuvens, em arranha-céus ultraluxuosos, e usam os céus para literalmente voar acima das pessoas comuns.

Na série televisiva "Westworld", da HBO, as casas são administradas por uma inteligência artificial que ajusta o ambiente às necessidades dos moradores, funciona como sistema de segurança e até dá conselhos. Do lado de fora, anúncios holográficos podem ser vistos com o uso de lentes de contato inteligentes, que aumentam a paisagem urbana com conteúdo antes oculto.

Em "Westworld" há veículos elétricos autônomos para os cidadãos comuns e drones de luxo para os ricos. As lentes inteligentes substituíram os smartphones e as compras são hiper-realistas, com espelhos inteligentes que dispensam o cliente de experimentar (fisicamente) as roupas.

O curioso é que essas tecnologias – lentes inteligentes, espelhos inteligentes e ambientes aprimorados – já existem.

FUTUROS INCLUSIVOS

Então, como serão os nossos deslocamentos diários no futuro? Imagine sair de casa em um drone voador que o leva até a via principal para pegar um ônibus voador. Você veria as notícias em sua lente de contato inteligente.

Cidades futuristas são representadas como densamente povoadas, com arranha-céus elevando-se acima de ruas movimentadas e estreitas.

Chegaria à sua parada e, enquanto caminhasse, um casaco na vitrine de uma loja chamaria sua atenção. Você se aproximaria e o experimentaria virtualmente para ver como fica. Depois, seria só comprar com um clique e pedir para que entregassem direto na sua casa.

Ônibus e carros passariam em alta velocidade bem pertinho, mas não haveria batidas porque uma inteligência artificial sofisticada controlaria todo o tráfego.

A paisagem urbana não se resumiria mais à camada do chão, mas incluiria muitas passagens, entrelaçadas em diferentes altitudes, mais altas e mais baixas. Parques e áreas verdes abertas cresceriam verticalmente, criando bolsões privados de vegetação dentro das estruturas de arranha-céus.

Hoje, as cidades já são verdadeiros centros para o desenvolvimento e a aplicação da tecnologia digital.  Mas a criação das cidades do futuro traz muitos desafios, como acessibilidade, coesão social, equidade e combate às mudanças climáticas. Os grupos marginalizados precisam ser considerados no processo de planejamento deste futuro.

A questão permanece: quem projetará esse futuro, empresas privadas ou setor público? Equipes de planejamento urbano, designers e governos precisam ser capazes de acompanhar essas tecnologias em rápida mudança, pois elas podem moldar nosso mundo – para melhor ou para pior.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Burcu Olgen, Fatima Mehrzad, Negarsadat Rahimi e Sara El Khatib são doutorandos em design e artes computacionais na Concordia University. saiba mais