Esta arquiteta cria espaços inclusivos para pessoas neurodiversas
Bryony Roberts se dedica à criação de espaços inclusivos, que atraiam e acolham todos
No último mês de setembro, uma coleção de móveis urbanos bastante inusitados tomou conta da famosa praça Josie Robertson, em Nova York, nos arredores do Lincoln Center — edifício-sede de diversas companhias artísticas. Dezenas de almofadas macias foram espalhadas em volta da fonte, que fica bem no meio da praça. Algumas pessoas as juntavam para formar um pufe gigante, enquanto outras as arrastavam para algum canto mais silencioso.
“Pessoas de todas as idades começaram a improvisar suas próprias salas de estar”, diz Bryony Roberts, fundadora do Bryony Roberts Studio e designer por trás dessa instalação, chamada Softy.
A instalação fez parte do Big Umbrella Festival (Festival Grande Guarda-Chuva, em tradução livre), um evento anual que organiza atividades gratuitas para jovens com autismo e outras deficiências de desenvolvimento e para suas famílias. Softy ficou montada apenas por alguns dias, mas para Roberts já foi o suficiente para revelar como o espaço público pode ser versátil, ativo e, acima de tudo, inclusivo.
Ao longo dos últimos anos, Roberts dedicou grande parte de sua prática à criação de espaços como este, com foco particular em pessoas neurodiversas – termo usado para descrever distúrbios do desenvolvimento, como transtorno do espectro do autismo, TDAH e dislexia.
A Organização Mundial da Saúde estima que uma em cada oito pessoas no mundo seja neurodiversa. Mas, considerando que muitas dessas condições são difíceis de diagnosticar, o número provavelmente é maior.
Apesar de a neurodiversidade ser comum, poucos espaços públicos são moldados para dar conta das diferentes maneiras pelas quais as pessoas pensam, se comunicam e interagem com o ambiente construído. Parte do problema é que não há diretrizes definidas sobre como projetar espaços de modo a abranger a neurodiversidade. É por isso que Roberts está agora trabalhando em um projeto chamado Cidade Neurodiversa.
Desenvolvido em colaboração com o estúdio de arquitetura Verona Carpenter e com o WIP Collaborative, um coletivo feminista formado por profissionais de design independentes, o conceito foi um dos dois projetos vencedores do concurso promovido pelo Design Trust for Public Space’s (uma incubadora de design para espaços públicos) com o tema Cidade Restaurativa.
A Cidade Neurodiversa defende espaços públicos inclusivos que abracem todos, independentemente de seu estado físico, neurológico ou emocional. Enquanto o Design Trust levanta fundos, o projeto ainda está em suas fases iniciais. Mas quando for dada a largada, a equipe começará examinando os espaços públicos existentes na cidade, incluindo playgrounds, parques temporários e ruas.
Até 2024, Roberts espera que eles tenham reunido ideias suficientes para desenvolver diretrizes de design e recomendações de políticas. Nesse ponto, vão formar um comitê consultivo e se coordenar com as agências da cidade para implementar essas políticas em espaços públicos novos ou já existentes.
Enquanto isso, Roberts tem se concentrado em intervenções artísticas pequenas, mas igualmente transformadoras. Cada uma delas foi desenvolvida em conjunto com defensores da neurodiversidade, terapeutas ocupacionais e organizações, como o Marcus Autism Center e o Parent to Parent.
No ano passado, na cidade de Atlanta, ela projetou Outside The Lines (Fora das Linhas), uma instalação sinuosa com fitas multicoloridas que balançavam conforme o vento soprava, além de assentos feitos de rede em forma de teia.
Uma semana depois, em Manhattan, abriu o Restorative Ground (Pátio Restaurativo), um playground para todas as idades projetado com o WIP Collaborative e que apresenta zonas distintas para ler, brincar e descansar. Em 2022, montou a Softy, no Lincoln Center.
Cada projeto foi desenvolvido tendo em vista populações neurodiversas, mas elas são bem diferentes entre si. Essa estratégia reflete uma verdade clara: a experiência de alguém no espectro não pode ser generalizada. “Se você conheceu uma pessoa autista, então só conheceu uma pessoa autista”, diz Roberts.
Ainda assim, alguns denominadores comuns conectam os projetos. De modo geral, texturas e padrões visuais podem acalmar pessoas com autismo e outras deficiências de desenvolvimento. Em contrapartida, muitos estímulos podem gerar estresse para outras. “Por isso é importante criar e oferecer escolhas”, diz ela.
Fundamentalmente, os princípios de design defendidos por Roberts – estímulos sensoriais e a capacidade de escolher onde e como você quer se sentar em um espaço público – também se aplicam a pessoas neurotípicas. “Muitas não se sentem à vontade nos espaços públicos comuns e precisam de uma gama maior de opções”, diz ela.