Esta câmera de Lego não é de brinquedo, ela tira fotos de verdade

Se você quer montar sua própria câmera 35mm com peças de Lego, a ZH1 é exatamente o que você estava procurando

Crédito: Fast Company Brasil

Jesus Diaz 4 minutos de leitura

Meu plano era dar de presente de Natal para mim e para o meu filho uma daquelas câmeras Polaroid de última geração, mas, depois de ver a ZH1, não consigo mais pensar em outra coisa.

Essa preciosidade retrô não foi fabricada pela Laica, pela Nikon ou pela Minolta. Trata-se de uma câmera feita inteiramente de peças de Lego. Todas as partes são compostas por blocos de plástico, até a lente: uma lupa de Lego.

Foi justamente depois de encontrar por acaso uma pequena lupa de plástico, peça produzida pela empresa de brinquedos no curto período entre 1998 e 2013, que o designer da Lego ZH1 teve a ideia de construir a câmera. Ele pensou que seria perfeito criar uma câmera 35mm usando apenas peças de Lego.

“Eu não tinha nenhum Lego em casa, então comprei alguns conjuntos para dar início ao meu protótipo”, conta Zung Hoang. “Tentei usar peças de metal em algumas partes, para dar uma aparência mais realista, mas elas se soltavam com facilidade. Minha preocupação era com a funcionalidade – se determinado aspecto não tivesse uma função específica, eu não incluiria só por estética.”

Um dos maiores desafios para Hoang era que ele queria que a câmera fosse o mais barata possível, o que não foi nada fácil. Os Legos mais caros são aqueles com o maior número de peças. Assim, usar poucas peças era sua maior prioridade antes de inscrever o projeto no site Lego Ideas, o programa da empresa que transforma criações de amadores e profissionais em produtos reais.   

Após a inscrição, os fãs votam em seus projetos favoritos. Ao conseguir a quantidade de votos necessária, o projeto passa por algumas fases de avaliação feita pelos designers da Lego, até alcançar o status de aprovado. Conseguir uma faixa de preço razoável representa uma importante etapa do processo de avaliação.

Crédito: Zung Hoang

Uma vez aprovado, os designers aperfeiçoam o projeto apresentado, fazendo as alterações que julgarem necessárias, geralmente reduzindo o número de peças, para baixar os custos, aumentando a resistência do conjunto, para que ele se torne mais manuseável, e evitando técnicas consideradas inadequadas para os padrões da Lego.

Reproduzir cada uma das partes necessárias para construir uma câmera de Lego que funcionasse conflitava com o objetivo de usar poucas peças e também com o tamanho compacto que Hoang desejava.

A câmera precisava de muitos componentes. Produzir uma câmera 35mm com peças de metal já é difícil. Ele descobriu que recriar todo aquele mecanismo com peças de Lego em um tamanho aceitável era praticamente impossível.

Para garantir que todos os componentes fossem tanto funcionais quanto pequenos, Hoang teve de repetir o processo inúmeras vezes, até que tudo funcionasse perfeitamente. “A parte mais difícil foi o botão de liberação do obturador. Foi o que deu mais trabalho para aperfeiçoar: foram pelo menos 10 protótipos”, disse. 

MONTANDO TODAS AS PEÇAS

A maneira pela qual os blocos se unem tornou-se um problema para o caso da câmera fotográfica, por conta da leve flexibilidade do plástico ABS. Os blocos nunca ficam perfeitamente encaixados, há sempre espaços microscópicos entre eles que deixam a luz entrar. Foi extremamente difícil construir uma peça que fosse 100% à prova de luz.

Um dos primeiros erros que Hoang cometeu foi usar placas de cor clara. A luz passou através das placas e queimou completamente seus dois primeiros rolos de filme. “Eu mudei para placas pretas e tentei cobrir os espaços com três camadas [de peças]”, explicou. Ele usou a lanterna do celular para identificar o vazamento de luz pelas frestas até conseguir resolver o problema.

Crédito: Zung Hoang

Ainda que majoritariamente contornáveis, os desafios inerentes ao projeto de Lego indicavam que seu sonho de construir uma câmera 35mm realmente compacta jamais se concretizaria. Ele havia conseguido chegar à contagem final de aceitáveis 595 peças, mas o modelo definitivo era grande, media 25 cm x 10 cm x 12 cm.

Compare com uma Laica M6, que mede 13,8 cm x 4 cm x 7,7 cm, ou seja, é uma câmera consideravelmente grande, mas cujas dimensões não chegam à metade das dimensões da ZH1. O peso, no entanto, dá para comparar: a ZH1 pesa 500 gramas, enquanto a M6 é mais pesada (quase 580 gramas), porque, bom, é feita de metal, não de plástico.

Não que comparar tamanhos importe muito, claro. O que torna a ZH1 legal é o fato de que ela é feita de Lego e funciona, não que ela faz fotos incríveis. 

Graças à pequenina lente de plástico cheia de imperfeições e ao seu design mecânico, as fotos que a Lego ZH1 faz são assim, digamos, um tanto quanto charmosas e interessantes.

As imagens capturadas apresentam uma aparência suave, com um efeito de vinheta em torno delas, além de efeitos ópticos diferentes, aparentemente aleatórios, que conferem um toque de surrealismo. Por conta da velocidade lenta do obturador da câmera, os objetos em movimento aparecem desfocados.

    Se você quer uma ZH1 para chamar de sua, saiba que ela ainda não está disponível na loja da Lego. Ainda está passando pelo processo de seleção e você pode ajudar o projeto a ganhar. Caso queira, entre no site e vote agora mesmo. O mundo será um lugar melhor com essa câmera. Pelo menos, o meu será.


    SOBRE O AUTOR

    Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais