Esta nova fonte, tipo “arábica”, pode ajudar pessoas a lidar com a dislexia
Uma nova fonte chamada Maqroo tenta melhorar a legibilidade por meio de formatos de letras irregulares
Maqroo é uma palavra árabe que significa "legível". Esse foi o nome dado à primeira fonte árabe criada especialmente para leitores com dislexia.
"O árabe é um sistema de escrita complicado", explica Abdo Mohamed, fundador da empresa de tipografia Boharat e diretor de arte da agência Leo Burnett Dubai, que liderou o projeto. "Estamos acostumados a usar o mesmo corpo para diversas letras. Assim, são apenas as marcas que se diferenciam."
Mas essa estrutura consistente do formato das letras pode gerar transtornos para pessoas com dislexia, que têm dificuldade em distinguir os caracteres.
Mohamed e sua equipe desenvolveram a fonte Maqroo para o Dia Internacional das Pessoas Determinadas como parte de uma parceria entre a Leo Burnett e a Omantel, a empresa de telecomunicações (majoritariamente estatal) de Omã, país da península arábica.
Eles contrataram o Institute of Learning Disability, que conectou a equipe com voluntários disléxicos. Foram os voluntários que ajudaram a definir o formato final das letras, para que elas atendessem melhor às suas necessidades.
Como as letras árabes têm muitas formas semelhantes, a equipe da Leo Burnett acrescentou um toque de irregularidade às do Maqroo. Eles acrescentaram um espaço irregular entre elas, aumentaram o tamanho e a forma dos nuqtas e tashkeels (pontos e símbolos usados como acentos diferenciais em árabe).
Mudaram também as formas do canto das letras, ou o espaço interno de uma forma de letra, como em B, D e O nos idiomas latinos. Quando uma letra é usada duas vezes seguidas, uma delas é alterada "para que fique diferente", explica Mohamed. "Até mesmo os pontos vão ficar em uma altura diferente."
Por fim, eles eliminaram as ligaduras, que são casos em que duas letras se combinam em um único glifo. "Isso confundia mais os leitores", diz Mohamed.
FONTES ESPECIAIS REALMENTE AJUDAM?
A ciência por trás das fontes favoráveis à dislexia é discutível, embora isso não tenha impedido muita gente de tentar criar fontes que melhorem a legibilidade.
Veja o caso da Dyslexie, uma fonte de Christian Boer que usa o mesmo conceito de irregularidade para ajudar pessoas com dislexia a ler o alfabeto latino com mais facilidade.
Alguns estudos apontaram que a fonte não era melhor do que a Arial em termos de velocidade de leitura e compreensão. Em vez disso, as pesquisas sugerem que o uso de linhas de texto mais curtas e maior espaço entre as letras são mais úteis.
Ao contrário de suas correspondentes em alfabeto latino, a Maqroo ainda não foi testada quanto à sua eficácia. Mas, até o momento, não tinha havido nenhuma tentativa de desenvolver uma fonte árabe para leitores com dislexia.
"Há cerca de 650 fontes árabes utilizáveis em todo o mundo, e nenhuma delas é compatível com dislexia", diz Rahul Sharma, da Leo Burnett. Pelo menos, a Maqroo está tentando mudar isso.