Esta ponte de 12 toneladas pode ser levantada por uma só pessoa

A ponte rolante Cody Dock, inaugurada recentemente no leste de Londres, levou sete anos de pesquisa

Créditos: Jim Stephenson/ Thomas Randall-Page

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

Tradicionalmente, a engenharia conta com poucas técnicas para a construção de pontes móveis. Elas podem ter duas partes que abrem e fecham, como as palhetas de uma máquina de fliperama. Podem se abrir na horizontal, como portões. Ou podem subir e descer, como um elevador.

Mas, agora, um novo tipo de ponte retrátil pode entrar nessa lista: a ponte de rolamento, uma passarela de estrutura única que gira sobre si mesma.

Recém-inaugurada, essa passarela com arestas arredondadas pode rolar como um fardo de feno – só que, nesse caso, não estamos falando de um punhado de grama desidratada. Estamos falando de 12 toneladas de aço.

Crédito: Tim Allen/ Thomas Randall-Page

Projetada pelo arquiteto Thomas Randall-Page, com o apoio de engenharia da Price & Myers e da Fabrication by Cake Industries, a nova ponte Cody Dock Rolling faz exatamente aquilo que promete.

A estrutura é composta por dois enormes suportes laterais quadrados, conectados por um piso de aço plano, por onde pedestres e ciclistas podem atravessar.

Quando necessário – e Randall-Page calcula que isso acontecerá uma vez por semana –, esses suportes quadrados com arestas curvas, envoltos em dentes de aço, tornam-se rodas com superfície dentada. Eles se encaixam e rolam perfeitamente ao longo de faixas sinuosas incorporadas nas paredes internas do canal.

Em cerca de 20 minutos, a ponte se move sobre seu próprio eixo e gira 180 graus, para que o piso de aço se torne a passarela, deixando espaço suficiente para que os barcos passem por baixo.

A ponte está localizada em um canto esquecido do leste de Londres, perto de onde o rio Tâmisa encontra o rio Lea. A área, conhecida como Docklands, já foi o maior porto do mundo. Desativada, abandonada desde os anos 1980 e separada do rio por uma barragem, a doca acabou se transformando em um depósito de entulho e lixo. 

Nos últimos 12 anos, no entanto, cinco mil voluntários, liderados pela parceria sem fins lucrativos GasWorks Dock, têm trabalhado na limpeza, descontaminação e transformação dessa doca histórica em uma nova geração de "indústrias criativas".

Como parte dessa metamorfose, a barragem, que funcionava como uma passagem sobre o canal, está sendo demolida e doca está sendo inundada novamente, para que os barcos consigam aportar.

A ponte Cody Dock veio para reconectar esses dois lados e desbloquear a passagem que faltava para o Lea River Park se unir a outros parques vizinhos, formando um complexo. Juntos, eles somam mais de 40 quilômetros de área aberta, em um projeto concebido pelo famoso planejador britânico Patrick Abercrombie, em 1944.

Crédito: Guy Archard/ Thomas Randall-Page

A construção representou para a equipe de engenharia um "doutorado totalmente novo em matemática para projetar”, diz Randall-Page. Seu mecanismo de rolamento é facilitado por dois guinchos manuais, que permitem que apenas duas pessoas puxem uma ponte de 12 toneladas, usando nada mais do que a força humana.

Existem razões práticas para isso. Uma delas é que a ponte não faz uso de energia ou de motores para se mover, e uma mecânica completamente visível pode facilitar seu reparo. Se alguém começar a “ouvir um barulho estranho", vai saber onde procurar o problema.

Mas também existem razões mais poéticas. Há algo de significativo em projetar uma ponte mecânica para suceder um longo legado de infraestruturas engenhosas da era vitoriana, como as inúmeras barragens que caracterizam os canais de Londres.

Não há dúvida de que construir uma passarela comum teria sido muito mais fácil, mais rápido e mais barato. A Cody Dock Rolling Bridge levou cerca de sete anos de pesquisa e custou cerca de 250 mil libras (quase R$ 1,6 milhão).

Mas Randall-Page admite que “nem todo valor é mensurável”. "Parte da graça é que esse projeto é muito divertido", diz ele. "A maneira inesperada como essa ponte se move é o que a torna especial."


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais