Estas belas calçadas ajudam a prevenir enchentes

O Flyt é um sistema de pavimentação modular feito de pedras permeáveis e incrivelmente bonitas

Crédito: Snohetta

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

As cidades não foram construídas para resistir a inundações. A mudança climática está causando tempestades mais frequentes (e mais severas), que por sua vez estão causando inundações repentinas mais frequentes (e mais severas). Em um mar de concreto, toda aquela água não tem para onde ir, a não ser para dentro das casas.

Esse problema tem estimulado o desenvolvimento de várias ferramentas de gerenciamento de água, que vão desde “parques alagáveis”, passando por “jardins de chuva” até calçadas permeáveis. Essa última solução consiste em projetar as calçadas de modo a permitir que a água penetre pelos blocos porosos, ou passe entre eles.

Crédito: Snohetta

As calçadas permeáveis não são novidade. Já foram usadas em estradas, áreas de estacionamento e em praças ao redor do mundo. Mas a maioria desses projetos foi liderada por engenheiros ou empreiteiros especializados e ficaram devendo nos quesitos flexibilidade e boa aparência -coisa que, geralmente, apenas bons designers sabem planejar.

Em outras palavras, essa é uma solução que já se provou eficaz para aliviar o impacto das inundações, mas que ainda não se tornou popular – em parte porque os produtos existentes raramente são esteticamente agradáveis.

Pense, por exemplo, no Snohetta, o célebre estúdio de arquitetura norueguês por trás da Ópera de Oslo e a extensão do Museu de Arte Moderna de São Francisco (Califórnia). Eles projetaram um sistema modular permeável chamado Flyt, composto por três pedras hexagonais de tamanhos variados.

Crédito: Snohetta

O sistema é especialmente projetado para que o espaçamento entre as pedras possa variar de menos de um 2,5 centímetros para cerca de 6 centímetros, permitindo vários graus de permeabilidade, dependendo do uso.

Com dois anos de produção, o Flyt foi desenvolvido em colaboração com o fabricante norueguês de pavimentados de concreto Asak, que já tinha três calçadas permeáveis em seu portfólio, mas nada que atendesse a espaços urbanos.

O Flyt, por sua vez, foi projetado especificamente para espaços urbanos como parques e praças, embora também possa ser aplicado em áreas de estacionamento, zonas de carga e outros espaços funcionais (onde atualmente é empregada a maioria desses novos pavimentos permeáveis).

Crédito: Snohetta

Em uma grande praça com tráfego intenso, os arquitetos podem optar por calçadas que permitem o menor espaço entre os módulos. Já em espaços com pouco tráfego de pedestres, como caminhos secundários ou poços ao redor de árvores, eles podem usar pequenas calçadas pavimentadas com vãos maiores no meio, garantindo uma transição perfeita entre os dois.

“Você pode sugerir caminhos, transições e usos diferentes. O que reunimos são apenas algumas ideias iniciais de como começar a usá-los”, diz Marius Myking, diretor de design de produto do estúdio Snohetta. “A graça toda é ver como outros criativos vão começar a usar nossa invenção.”

A variação de espaço entre os vãos é possível porque cada pedra tem um sistema de bloqueio diferente. A pedra menor tem os “dentes” mais salientes, então quando as pedras se encaixam, o espaço entre elas é naturalmente maior.

Crédito: Snohetta

Pela mesma lógica, a pedra maior tem os dentes menores, então o vão é menor. Dependendo do desnível, o sistema tem até 28% de permeabilidade. Ou seja: 28% do solo é totalmente permeável. Isso pode até não parecer muita coisa, mas é mais que o dobro do padrão norueguês, explica Myking.

Ainda é muito cedo para saber como essas pedras se comportarão na prática, mas as calçadas permeáveis já estão sendo planejadas para dois espaços públicos na Noruega.

O estúdio Snohetta ainda não encontrou uso para esse produto em seus próprios projetos. Entretanto, como observa Myking, “muito provavelmente, em breve, ele vai dar as caras aqui e ali”.

À medida que as cidades continuam buscando maneiras inovadoras de combater as mudanças climáticas, são exatamente essas intervenções aparentemente pequenas que podem trazer os maiores resultados, se forem implementadas em grande escala.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais