Este prédio comercial foi desenhado para durar 500 anos

O projeto, ainda por cima, é financeiramente viável

Créditos: Benjamin Benschneider/ PAE Engineers/ ZGF Architects

Nate Berg 4 minutos de leitura

Em uma esquina de um bairro histórico no centro de Portland, no estado norte-americano de Oregon, um novo prédio de escritórios acaba de lançar uma tendência que, provavelmente, está vindo para ficar. Se as estimativas dos construtores estiverem corretas, esse prédio ainda vai estar ali, intacto, daqui a cinco séculos.

O edifício comercial de uso misto, com cinco andares e quase 18 mil metros quadrados, foi projetado especialmente para durar 500 anos, com uma estrutura superforte e um design resiliente. Além disso, a infraestrutura local permitirá que o prédio produza sua própria energia, colete sua própria água e seja capaz de se adaptar às enormes mudanças climáticas nos próximos séculos.

Projetado e parcialmente desenvolvido pela ZGF Architects, em conjunto com a PAE Engineers – que também será a principal inquilina –, o edifício oferece aluguéis por preços apenas 8% maiores do que os de um prédio comercial convencional.

A edificação foi projetada para atender ao padrão do Living Building Challenge, um sistema de certificação de construção verde considerado um dos mais difíceis de alcançar. Priorizando projetos que tenham impacto positivo no meio ambiente, os edifícios Living Building Challenge geram mais energia do que consomem, limpam e reutilizam água e absorvem mais emissões de dióxido de carbono do que produzem.

Para o projeto de Portland, os desenvolvedores pretendiam mostrar que prédios de tamanho modesto poderiam ser construídos de acordo com esse padrão, de modo a conciliar todos os objetivos ambientais à sustentabilidade financeira. Atingir essas metas conjuntas dependeu de os engenheiros conseguirem estender o máximo possível a longevidade da construção.

Paul Schwer, presidente da PAE Engineers, conta que esse horizonte de 500 anos não tinha sido cogitado quando o planejamento começou. No entanto, quanto mais olhava para o projeto, mais sentido fazia criar um edifício capaz de resistir aos maiores desastres naturais e intempéries.

O projeto estrutural foi refeito para que tivesse a mesma robustez de hospitais, estações de bombeiros e delegacias de polícia. Essa decisão foi fundamental para a viabilidade financeira. Como o prédio agora estava sendo projetado para ser mais robusto e oscilar menos durante um possível terremoto, as paredes dos dois lados puderam chegar alguns centímetros mais próximo dos limites da propriedade e dos prédios vizinhos.

Adicionando apenas alguns centímetros à largura e ao comprimento, criou-se uma área útil adicional de dois mil metros quadrados. Embora isso tenha aumentado os custos em cerca de US$ 135 mil, o espaço adicional resultará em uma renda de aluguel adicional estimada em US$ 150 mil nos primeiros dez anos.

Outras soluções de design focadas na longevidade incluem uma fachada feita de alvenaria durável, além de janelas e isolamento projetados para permitir que o edifício resista a flutuações climáticas extremas.

A resiliência também foi priorizada. Todo o tratamento de efluentes ocorre no local e o prédio possui uma cisterna de 270 mil litros para armazenar água da chuva. Um sistema de ventilação usa aberturas de janela manuais e controladas por computador para regular a temperatura interna sem que haja a necessidade de muito aquecimento ou resfriamento.

Um sistema de painéis fotovoltaicos e baterias permite que o edifício opere fora da rede elétrica oficial por até 100 dias. Esses sistemas combinam técnicas de construção centenárias com materiais e sistemas modernos, de acordo com Kathy Berg, sócia da ZGF Architects.

Esses recursos de sustentabilidade conduziram o design por direções interessantes. O cliente e principal inquilino, a PAE Engineers, queria incluir um deck na cobertura, para os eventos e happy hours da empresa, mas as necessidades de água e energia atrapalhavam.

“Em um edifício onde a meta é capturar toda a água da chuva que cai sobre ele e obter o máximo de acesso solar possível, cada centímetro do telhado era importante”, explica Berg. Assim, os designers chegaram a um meio-termo.

Em vez de um deck no telhado, criaram um “deckony” – um canto superior do edifício que pode abrir as paredes para uma espécie de deck/ varanda interna/ externa. O “deckony” oferece um espaço social para almoço, reuniões informais e encontros de fim de expediente no bar embutido.

O planejamento em torno da resiliência climática e baseado em um horizonte de tempo muito longo, prevê Schwer, vai se tornar uma fórmula mais comum para os desenvolvedores construírem nas cidades.

Quase todos os sistemas e materiais do edifício podem ser facilmente encontrados no mercado. Schwer garante que “ninguém precisa ser uma Google, uma Georgia Tech ou uma Bullitt Foundation para executar um projeto como esse”.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais