Estes maiôs e biquínis são feitos com redes de pesca abandonadas no mar
Nova coleção da Vitamin A ajuda a lançar luz sobre o problema da poluição plástica nos oceanos
Quando pescadores se aventuram no mar, muitas vezes retornam sem suas redes de pesca. Em alguns casos, pedaços delas se perdem. Em outros, eles decidem abandoná-las porque estão muito danificadas para qualquer tipo de reparo.
Seja qual for o caso, essas redes feitas de plástico representam uma ameaça à vida marinha – frequentemente tartarugas, focas, golfinhos e até aves ficam presas nelas. O Fundo Mundial para a Natureza observa que centenas de animais podem ser capturados em uma única rede, ameaçando até os recifes de coral ao bloquear a luz do Sol.
Pesquisadores afirmam que quase metade da Grande Mancha de Lixo do Pacífico é composta por redes de pesca. E, como o plástico não se decompõe, com o tempo ele se fragmenta em pequenas partículas que acabam na cadeia alimentar, envenenando animais e seres humanos.
Diante desta dura realidade, algumas empresas estão buscando recolher redes de pesca abandonadas e transformá-las em novos materiais. A marca de moda praia Vitamin A é uma delas. A empresa está lançando uma nova coleção feita a partir de redes recicladas. O objetivo é lançar luz sobre o problema e ajudar a expandir o mercado para esse material reciclado.
Amahlia Stevens fundou a Vitamin A em 2000 com o objetivo de criar roupas de banho a partir de tecidos à base de plantas ou reciclados. No ano passado, a empresa foi adquirida pela Swim USA, dona de marcas como Miraclesuit e Amoressa e que licencia outras, como Ralph Lauren.
Durante uma conversa com seu fornecedor de tecidos (a empresa sul-coreana Hyosung), a equipe de design da Vitamin A ficou sabendo de um novo material composto por 80% de redes de pesca e 20% de elastano reciclados. E imediatamente se interessaram.
“Queríamos apoiar o desenvolvimento desse novo material e pensamos que as clientes da Vitamin A seriam as primeiras a entender sua importância”, afirma Mark Sunderland, vice-presidente de inovação de produtos da Swim USA.
Há cerca de uma década, as marcas vêm usando nylon reciclado feito de redes que os pescadores enviam para reciclagem. Mas coletar e reciclar redes abandonadas é um processo muito mais complicado, segundo Laura Nilo, gerente de marketing da Hyosung nos EUA.
Para isso, equipes são enviadas ao mar para recuperar essas redes, que estão presas a outros resíduos, algas e animais mortos. Muitas vezes, o material está consideravelmente degradado pela água salgada e por diversos outros fatores, tornando-o muito mais difícil de reciclar do que as redes de pesca coletadas através dos canais tradicionais de reciclagem.
A Hyosung fez parceria com uma empresa de coleta para recuperar toneladas dessas redes abandonadas, que são então submetidas a um processo industrial de reciclagem. Elas são limpas, classificadas e depois passam por um processo de despolimerização, no qual o nylon é decomposto em sua estrutura química fundamental, antes de ser repolimerizado.
A fabricante criou um tecido completamente novo para a Vitamin A, composto em grande parte por redes abandonadas, mas também por elastano reciclado, para dar elasticidade ao material. A aparência e textura são idênticas a de qualquer outro traje de banho no mercado.
O tecido é elástico e macio ao toque. No entanto, é muito mais caro do que outros materiais semelhantes. “Ele passa por um processo de reciclagem muito mais elaborado, e isso aumenta o custo”, explica Nilo.
As peças da nova coleção de biquínis e maiôs da Vitamin A custarão entre US$ 200 e US$ 240, a mesma faixa de preço das demais coleções da marca. A empresa vê isso como uma oportunidade de chamar a atenção para o problema das redes abandonadas por meio do marketing.
“Nossas clientes querem saber que seus biquínis e maiôs não estão prejudicando o planeta”, afirma Sunderland. “Com esta linha, estamos oferecendo a elas um produto que contribui ativamente para a saúde dos oceanos.”