Etiquetas conectadas, uma forma de tornar a moda mais sustentável

Empresas como Nike, Coach e H&M estão começando a usar a tecnologia de identificação digital para rastrear seu estoque e criar novas linhas de negócios

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Yasmin Gagne 4 minutos de leitura

Em novembro, a H&M lançou um novo formato de varejo em uma de suas lojas conceito, no Brooklyn, em Nova York. Entre os novos recursos tecnológicos incorporados pela loja estão os espelhos inteligentes, que podem detectar o tamanho e a cor das roupas que o cliente experimenta, e a possibilidade de realizar pagamentos por aproximação usando um smartphone.

Mas a tecnologia mais impressionante passou despercebida pela maioria dos que visitaram a loja: todos os produtos vêm com uma etiqueta de identificação por radiofrequência (RFID), o que torna possível, tanto para a loja quanto para os clientes, rastrear o estoque e, inclusive, verificar as opções de tamanho, tudo em tempo real.

Estas etiquetas têm sido cada vez mais usadas por marcas como Salvatore Ferragamo e Lululemon, que recentemente passaram a incluí-las em seus sapatos e bolsas para rastreá-los fora da loja.

Com etiquetas inteligentes as empresas são capazes de entender o ciclo de vida dos produtos de forma mais completa.

Outra tecnologia que pode ser usada para etiquetar roupas – às vezes na forma de um QR code –, chamada de comunicação por campo de proximidade (NFC), permite que os usuários escaneiem o código para ter acesso a mais informações sobre o produto e para entrar em contato com o vendedor ou com a marca.

A maioria dos varejistas tem apenas uma ideia aproximada de quantos produtos há no estoque. Os funcionários da loja registram manualmente os vestidos, casacos e sapatos, escaneando os códigos de barras de cada peça: um sistema sujeito a erro humano.

Além disso, quando usam este sistema, as empresas não têm ideia do que acontece com as mercadorias quando saem da loja – por exemplo, como uma peça de roupa foi descartada ou se houve alguma revenda do produto.

MONITORAMENTO E GERENCIAMENTO

As etiquetas com tecnologia RFID e NFC podem ajudar as marcas a responder a algumas dessas perguntas. Com etiquetas inteligentes que podem ser lidas remotamente, as empresas são capazes de monitorar melhor o estoque e entender o ciclo de vida de seus produtos de forma mais completa.

Algumas versões destas etiquetas podem registrar e transmitir informações para empresas de revenda ou reciclagem, como a idade do produto e onde ele foi vendido anteriormente. A NFC, por sua vez, também é bastante útil para os clientes: basta escanear a etiqueta para ter acesso a diversas informações sobre o produto, desde dicas de estilos até a opção de comprar o item novamente.

Para permitir uma transformação circular do modelo de negócios, precisamos transformar produtos físicos em ativos rastreáveis.

Apesar de a RFID e a NFC não serem tecnologias novas, um número cada vez maior de marcas de moda passou a adotá-las, como uma forma de gerenciar melhor sua cadeia de suprimentos e iniciar programas de revenda. Nos últimos anos, marcas e varejistas – incluindo H&M, Nike, Ebay, Coach e Rent the Runway – incorporaram a tecnologia em suas fábricas.

Natasha Franck, fundadora e CEO da empresa de identificação digital Eon, conta que criou a empresa há sete anos para ajudar as marcas a se tornarem mais sustentáveis. “Para permitir uma transformação circular do modelo de negócios, precisamos transformar produtos físicos em ativos rastreáveis”, diz ela.

A Eon está trabalhando com marcas para criar identidades digitais – também conhecidas como Passaportes Digitais de Produtos, que em breve serão exigidos por lei na União Europeia – que ajudarão a armazenar e rastrear as informações ambientais dos produtos.

JORNADA DO PRODUTO

A tecnologia também permite que as empresas ofereçam aos clientes a opção de comprar pela internet e retirar na loja, receber o produto diretamente da filial mais próxima e acompanhar seus pedidos de perto, já que rastreia todo o estoque. Os clientes podem escanear a etiqueta de um produto e comprá-lo novamente ou receber recomendações de outros itens que combinam com ele.

“Cerca de 46% dos clientes consultam recomendações de roupas. A etiqueta NFC pode transformar produtos em um canal de comércio eletrônico e gerar mais lucros para a marca”, afirma Franck, acrescentando que algumas das marcas com as quais a Eon trabalha lançarão recursos como este em um futuro próximo.

A etiqueta NFC pode transformar produtos em um canal de comércio eletrônico e gerar mais lucros para a marca.

A capacidade de rastreamento da NFC e da RFID, por meio de identidades digitais, também podem servir como base para as marcas lançarem seus próprios programas de aluguel e acompanharem o estoque. “Depois que seus produtos [que carregam as etiquetas NFC] saem da loja, você pode atualizá-los com novos recursos remotamente”, diz Franck.

“É possível conectá-los ao software de gerenciamento de relacionamento com o cliente e, posteriormente, usar a tecnologia NFC para iniciar um programa de revenda ou aluguel.”

Joon Silverstein, vice-presidente sênior de marketing global e sustentabilidade da Coach, ressalta que adotar as etiquetas de identificação digital em todo o estoque é um passo para transformar a empresa em um ecossistema circular.

“Temos um programa em que os clientes podem devolver os produtos em qualquer das nossas lojas e trocá-los por crédito. Depois disso, eles são consertados, restaurados, reimaginados ou reciclados. As identidades digitais nos ajudarão a acompanhar toda a jornada do produto e compartilhá-la com os clientes.”


SOBRE A AUTORA

Yasmin Gagne é escritora e redatora da Fast Company. saiba mais