IA é capaz de criar um bizarro multiverso com ícones da cultura pop
Você certamente já viu imagens geradas por IAs, mas precisamos entender o efeito que elas terão nas nossas vidas e na realidade
Tudo o que você conhece está prestes a mudar com o Lexica.art, simplesmente o melhor e mais estranho mecanismo de busca de imagens na internet atualmente.
Passei duas horas imerso em um misto de fascínio, repulsa e surpresa enquanto me aventurava pelas imagens distorcidas geradas pela inteligência artificial do Stable Diffusion com base nas instruções, por vezes sórdidas, de seus usuários.
O Lexica.art permite que você digite o que quiser no campo de busca para encontrar imagens criadas a partir de prompts – comandos em texto – inseridos por usuários do software Stable Diffusion (SD) de todo o mundo.
Aqui estão os resultados que apareceram quando digitei a primeira coisa que me veio à mente: “Senhor dos Anéis”.
Um portal para várias realidades alternativas do filme se abriu diante de mim, onde cada personagem era mais bizarro e estranho que o outro. Surpreso, repousei minha xícara na mesa para olhar mais de perto até reparar bem nessa imagem, que me fez gargalhar tanto que quase cuspi o café:
O título absurdo. O personagem que parecia uma versão jovem do Kevin Bacon com cabelo esquisito, semelhante a um esfregão. E tudo ficou ainda melhor quando me dei conta de que podia clicar na imagem para ler o prompt que deu origem a ela: “Foto do novo romance erótico de senhor dos anéis”.
Foi quando percebi que havia milhões de versões bizarras de ícones da cultura pop esperando para serem descobertas. Então, comecei a pesquisar freneticamente outras obras. E claro, não podia deixar de fora “Star Wars”.
Eu vi uma versão em que todos os personagens eram “interpretados” por Mark Hamill, que deu vida a Luke Skywalker. Outra em que tinham a cara do Mark Zuckerberg. Era como se unissem as mentes de Andy Warhol e Duchamp e adicionassem uma boa dose de LSD. Então, pensei, por que não testar “Mad Men”?
Entre os resultados, encontrei uma imagem com o seguinte prompt: “Polaroid, sépia, jon hamm morando nas ruas de los angeles, barba por fazer, banguela, ao lado de uma barraca, rosto simétrico, rico em detalhes, etéreo, bombando no artstation”. Sem dúvidas, quem criou esse prompt estava tentando vender a ideia para estúdios de Hollywood:
Eu pesquisei “Beatles”.
Depois, “Mickey Mouse”.
Um atrás do outro. Não conseguia parar. Até digitar “McDonald’s” e me deparar com imagens que pareciam ter saído de um pesadelo:
Depois de um tempo, comecei a perceber que não se tratava apenas de diversão e horror: o Stable Diffusion está criando um multiverso de realidades alternativas, a partir das visões muito particulares de milhares de fãs, que provavelmente vibraram com a possibilidade de ver seus sonhos mais íntimos se tornem realidade através da tecnologia.
Por trás das imagens vemos seus desejos verdadeiros, como foi o caso do primeiro prompt que li: “Foto do novo romance erótico de senhor dos anéis”. Muitos deles são bastante diretos e não fazem cerimônia alguma.
Talvez as pessoas estejam usando o Stable Diffusion não apenas para vender suas ideias para estúdios de Hollywood ou criar memes e imagens absurdas, mas também para se expressar. Para ver sua imaginação ganhar vida, sem precisar das habilidades de um artista.
Se você está frustrado por não conseguir escrever fanfics ou criar uma história em quadrinhos, talvez esta possa ser a ferramenta perfeita para realizar seus desejos.
Mas o que acontece com a cultura quando se pode moldá-la para que atenda nossas vontades? O que poderíamos descobrir sobre nós mesmos, enquanto indivíduos e espécie humana, ao transformar a ideia de outra pessoa em algo que nos satisfaça?
Sem dúvida, grande parte das produções seriam de qualidade duvidosa, como os inúmeros reboots, sequências e spin-offs que Hollywood já produz.
Mas não é exatamente isso que já fazemos há muito tempo? Luke Skywalker é apenas uma adaptação – mesmo com seu péssimo corte de cabelo e seu sabre de luz – de outros personagens conhecidos, como Gilgamesh ou Prometeu.
Certamente, veremos um novo “Star Wars” com um elenco só de pessoas negras – quer a Disney aprove ou não. Bem como um novo “Senhor dos Anéis” em que Frodo, Sam e Aragorn vivem um romance poliamoroso.
O Lexica.art oferece uma formidável amostra do estranho mundo para o qual estamos caminhando. E imagino que isso terá consequências profundas em todos nós e nas experiências compartilhadas que moldam a cultura – provavelmente, transformando a realidade em infinitas experiências particulares.