Influenciadores de superplástico e a era das celebridades sintéticas

A empresa Superplastic incorpora uma nova geração de influenciadores, e eles são digitais

Crédito: Janky e Guggimon/ Superplastic

Connie Lin 6 minutos de leitura

Em novembro de 2021, quando a socialite e it-girl Paris Hilton se casou com o empreendedor de risco Carter Reum em uma cerimônia de gala, um verdadeiro desfile de estrelas atravessou o tapete vermelho em Bel Air, em Los Angeles.

Entre os convidados estavam Nicole Richie, Kim Kardashian, Paula Abdul, Emma Roberts, Rachel Zoe, Kimora Lee Simmons e Dayzee – uma personagem digital que tem dois doutorados (em física nuclear e engenharia aeroespacial) e que é capaz de consertar qualquer aparato, desde um lançador de foguetes até uma arma a laser.

A presença de Dayzee na festa não foi totalmente inusitada. Ela já havia participado do chá de panela de Paris, onde posou em cima de um banquinho rosa em formato de cogumelo. Semanas antes, elas também haviam sido fotografadas juntas, combinando óculos de sol de lente colorida e fazendo carão no meio de um deserto .

Durante a cerimônia, Dayzee se misturou às madrinhas de casamento como qualquer outro convidado, com seus olhos negros, seus cabelos roxos e sua pele... azul cintilante

Garotas poderosas. Feliz de ter você festejando comigo no meu chá de panela @therealdayzee. Animada pelo que ainda está por vir esta ano!

Mas, ao contrário dos demais convidados, Dayzee é uma celebridade sintética. Ela existe nas nuvens do digital, transitando entre o TikTok, o Instagram, o Twitter e o Discord, reunindo milhões de seguidores em todos os canais e parando de vez em quando para trocar DMs com celebridades do mundo real e com marcas de luxo.

Às vezes, Dayzee lança “colaborações” explosivas com essas marcas: curtas-metragens mostram Dayzee e seus companheiros – uma criatura travessa com aparência de gato chamada Janky e o coelho Guggimon – modelando para Gucci, dando uma voltinha numa Mercedes-Benz ou  planejando um grande assalto à famosa casa de leilões de arte Christie's

Janky e Guggimon (Crédito: Superplastic)

Por trás do sucesso de Dayzee e de seus amigos está a empresa Superplastic, uma verdadeira máquina de hypes que cria essas celebridades sintéticas, junto com suas elaboradas histórias "de vida".

Janky e Guggimon, por exemplo, são anarquistas charmosos que poderiam pôr fogo na sociedade, se não fosse por seu amor pela streetwear e pela alta costura. “Somos um estúdio experimental de design que fabrica personagens e também um universo de narrativas”, diz o fundador, Paul Budnitz.

A origem da empresa tem raízes na subversão das expectativas – o que condiz com sua estética punk-rock, inspirada no grafite. De certa forma, é difícil definir exatamente o que é a Superplastic. A melhor explicação seria algo como um império de propriedade intelectual, semelhante ao da Disney ou da Marvel.

No fundo, a Superplastic nasceu do amor de Budnitz pela arte e de seu desejo de criar um universo de personagens que ele pudesse expandir ao longo do tempo.

“Geralmente, quando alguém sonha em criar animações – que é algo que eu sempre quis fazer – o que acontece é que a pessoa cria uma ideia para um programa de animação e depois acaba vendendo essa ideia para um estúdio: Netflix, Warner Bros ou quem quer que seja. Mas aí eles viram os donos, você perde a propriedade.” explica Budnitz, que estudou arte na Universidade de Yale. “Você ganha parte dos lucros, mas eles fazem o que querem.”

Budnitz não queria isso. O que fazer, então? Foi daí que surgiu a ideia: “e se pudéssemos dispensar os estúdios e tornar os personagens superfamosos diretamente nas redes sociais?”

SUPERFAMOSOS

Eles de fato são “superfamosos”. As celebridades sintéticas da Superplastic – que agora também incluem Staxx, um “especialista em armas e combate” tatuado e de pele roxa – têm 18 milhões de seguidores nas mídias sociais, número que cresce um milhão a cada mês.

Desde então, a empresa se ramificou em parcerias com marcas, nas quais seus personagens podem ser licenciados como modelos de passarelas do metaverso para o desfile de moda Decentraland da Tommy Hilfiger, ou avatares no Fortnite, ou estrelas de videoclipes para, por exemplo, o projeto Gorillaz.

Eles também venderam dezenas de milhões de dólares em NFTs nos últimos anos – "antes do crash desse mercado", observa Budnitz – e conquistaram um nicho considerável em merchandising, fazendo e vendendo "brinquedos" de design por mais de US$ 1 mil.

Qualquer um que esteja passeando hoje pelo moderno bairro de Nolita, em Nova York, vai notar a vitrine da loja física da Superplastic. Nela, há uma escultura de uma criatura parecida com Mickey Mouse, de braços abertos como os de Jesus Cristo, com uma tiara dourada e pregos atravessando suas mãos e pés, suspensos sobre seis barras de ouro maciço.

Crédito: Superplastic

Hoje em dia, grande parte da receita da Superplastic vem da venda de brinquedos, que seguem a lógica da cultura hypebeast, com edições limitadas que se esgotam em minutos. Também têm desenvolvido eventos ao vivo, onde os personagens podem aparecer como hologramas.

“Os personagens estão atuando em todos esses espaços diferentes, o que gera dinheiro e sustenta a empresa, em vez de apenas participarem de um desenho animado e terceirizarem a venda de suas imagens para os profissionais de marketing, para que eles fabriquem pistolas de água”, diz Budnitz. “E tudo funciona como uma narrativa.”

Essa narrativa inclui Janky e Guggimon se tornando designers de brinquedos para colaborações com J Balvin e Steve Aoki. Mas, por trás de todas as decisões criativas, é claro, está uma equipe de 50 artistas humanos profissionais da Superplastic.

Agora, eles se tornarão os roteiristas por trás do típico primeiro passo para os personagens mais icônicos – um passo que Budnitz adiou por tanto tempo: vão estrelar um programa de TV animado, que está sendo  desenvolvido pelo  Amazon Studios.

Crédito: Superplastic

As celebridades da Superplastic confundem cada vez mais as fronteiras entre o real e o digital, assim como a Web 2.0 e a nova web3 estão fazendo hoje. Pode-se argumentar que Dayzee não poderia realmente estar presente no casamento de Paris Hilton, ou que Janky não poderia realmente ser o criador de designs de brinquedos.

Mas, quando entrou na última reunião de trabalho pelo Zoom, você realmente estava do outro lado da tela? Quando trocou mensagens com colegas de trabalho pelo aplicativo, você realmente participou? Quando lê os tuítes de qualquer celebridade de carne e osso, será que eles realmente escreveram aquelas palavras ou foi um relações públicas que escolheu a dedo o que publicar?

Crédito: Superplastic

Para Budnitz, o elemento humano é justamente o que mantém seus personagens vivos. “Eles são muito engraçados e adoráveis”, diz ele. “Guggimon já foi internado em uma clínica de reabilitação uma vez e Janky tende a ser atropelado de ansiedade pelas coisas. As pessoas se identificam com eles. Quando foram escolhidos como modelos para a Gucci, foi hilário, porque Janky saiu direto dali para comer um balde de nuggets de frango.

Budnitz ainda não pode divulgar muitos detalhes sobre o programa de TV, mas pode apostar que vai dar samba. “Somos muito exigentes – se não for para ser legal e se o processo não for divertido, não fazemos”, diz ele.

“Gostamos de trabalhar com a Mercedes-Benz porque eles nos deixaram redesenhar um daqueles bonecos que balançam a cabeça para decoração de painel de carro, mais especificamente um cachorro que a marca vendia nos anos 1970. Perguntamos: 'podemos refazer isso daqui?' Houve uma longa pausa em alemão... e então, eles responderam, 'é claro!'. No fim das contas, é isso: somos só um bando de artistas esquisitos."


SOBRE A AUTORA

Connie Lin é jornalista e colaboradora da Fast Company. saiba mais