Iniciativa pretende reduzir o uso de plástico em embalagens de cosméticos

O setor de beleza é um mega poluidor. Será que o acesso mais facilitado a dados poderia mudar isso?

Créditos: Mykola Sosiukin/ iStock/ 8machine/ Unsplash

Elizabeth Segran 5 minutos de leitura

Todos os dias, milhões de pessoas precisam decidir o que fazer com suas embalagens de xampu e tubos de cremes vazios. O setor de beleza produz cerca de 120 bilhões de produtos por ano e a maioria das embalagens vai parar em aterros sanitários. Esse problema tem duas faces: muitos frascos e tubos simplesmente não são recicláveis, e muita gente não se preocupa em reciclar aqueles que são.

Mas os consumidores estão se conscientizando do seu impacto no planeta e 60% afirmam que pagariam mais por um produto com embalagem sustentável, de acordo com um relatório da McKinsey de 2020.

A Pact está tentando fazer com que mais marcas de produtos de beleza se preocupem com a sustentabilidade.

Os clientes estão preferindo marcas ecologicamente corretas, com cadeias de suprimentos responsáveis e embalagens facilmente recicláveis. Isso deu início a um movimento no setor de beleza para promover práticas mais sustentáveis.

Temos observado sinais de mudança em todo o setor. Nos EUA, a organização sem fins lucrativos Pact conseguiu reunir 150 marcas de produtos de beleza (e esse número não para de crescer) que se comprometeram a compartilhar suas melhores práticas de sustentabilidade e a buscar soluções de reciclagem para plásticos difíceis de reciclar.

Crédito: Pact

No mundo da tecnologia, a startup Bluebird criou um software de IA que permite que as marcas identifiquem instantaneamente o impacto do carbono e dos resíduos de suas embalagens. Melhor ainda: a Pact e a Bluebird uniram forças para garantir que todas as empresas membro da Pact tenham acesso a esses dados.

Estamos caminhando na direção certa, mas é importante levantar algumas questões maiores. Ainda não está claro se é possível para o setor de beleza reduzir seu impacto caso as empresas continuem produzindo um maior número de produtos a cada ano e convencendo os consumidores de que precisam deles. 

Para que haja uma mudança real, os consumidores precisarão não apenas reciclar seus produtos, mas também reduzir drasticamente o número de itens que compram.

FALTA DE DADOS

Um grande obstáculo à reciclagem é que não existe uma padronização das embalagens no setor de beleza, como já acontece com produtos como leite e suco, que usam caixas do tipo longa vida. Já os fornecedores de produtos de beleza oferecem uma ampla variedade de tubos e frascos, feitos de diversos materiais, dos quais apenas alguns são recicláveis. 

Para se destacarem nas prateleiras, as marcas geralmente criam embalagens personalizadas com tampas especiais e formas incomuns, a maioria das quais não é reciclável. Além disso, há o fato de que recursos especiais, como bombas e bicos de pulverização, são feitos de diversos materiais complexos, o que também os torna difíceis de reciclar.

Apenas 9% de todo o plástico do mundo é reciclado, e os especialistas acreditam que, no setor de beleza, essa proporção é ainda menor. "A maioria das embalagens é pequena demais para ser coletada pelas instalações de reciclagem", explica Carly Snider, gerente de programa da Pact. "E muitas delas são feitas de materiais mistos, que também são difíceis de reciclar."

Crédito: Bluebird

Jamie McCroskery, cofundador da Bluebird, observou como o processo de escolha de embalagens pelas marcas de produtos de beleza é confuso. "Mesmo que queiram se tornar mais sustentáveis, é difícil para elas testar todas as diferentes opções de embalagens e descobrir qual é a melhor", diz ele.

"Lançamos nossa iniciativa justamente com o objetivo de ajudar as marcas a quantificar a reciclabilidade e o impacto climático na hora de tomar essas decisões."

Só 9% de todo o plástico produzido é reciclado e os especialistas acreditam que, no setor de beleza, essa proporção é ainda menor.

A Bluebird passou um ano e meio reunindo dados sobre as diferentes opções de embalagens disponíveis no mercado, definindo do que são feitas e de onde vêm seus materiais.

Mesmo no âmbito do plástico, há dezenas de opções que as marcas podem escolher – desde o PET (politereftalato de etileno), que é transparente, reutilizável e reciclável, até o LDPE (polietileno de baixa densidade), que é amplamente usado em garrafas “amassáveis”, mas que não é reciclável.

Crédito: Bluebird

As marcas agora podem fazer upload de imagens de seus produtos no site da Bluebird para saber onde eles foram adquiridos e quanto carbono foi emitido no transporte. Lá, elas também conseguem saber se são recicláveis e reutilizáveis. Em alguns casos, as marcas usaram essas informações para encontrar embalagens alternativas que são recicláveis e, dessa forma, reduzir sua pegada de carbono. 

"Ferramentas como essa são particularmente importantes para as pequenas empresas, que não têm recursos para fazer esse tipo de pesquisa internamente", comenta Maxine Bedat, fundadora e diretora executiva do New Standard Institute, um grupo de estudos que busca promover a sustentabilidade por meio de acesso à informação.

HORA DA MUDANÇA

A Pact está tentando fazer com que mais marcas de produtos de beleza se preocupem com a sustentabilidade. Seu objetivo é integrar o setor para promover o máximo de reciclagem possível. No momento, mais de 150 marcas integram o Pact Collective, entre elas L'Oréal, Fenty Beauty e Benefit.

A maioria das embalagens de cosméticos é pequena demais para ser coletada pelas instalações de reciclagem.

Os membros desse coletivo são responsáveis por educar os consumidores sobre como reciclar produtos e como descartar de forma responsável as embalagens que não podem ser recicladas em casa.

"Ainda não temos uma solução para substituirmos totalmente o plástico, por isso precisamos encontrar maneiras de coletar os materiais que são destinados ao aterro sanitário e dar um jeito de reciclá-los", diz Snider.

Mas esses programas de reciclagem são apenas um primeiro passo rumo a uma mudança mais ampla. O mais importante é que as marcas parem de usar tanto plástico e adotem alternativas, como embalagens reutilizáveis. "Não há como sair desse impasse apenas por meio da reciclagem", ela conclui.


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais