Instalações temporárias de arte deixam benefícios para as cidades?

Instalações pop-up, como o 'See Monster', no Reino Unido, carregam uma mistura de vantagens e desvantagens

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Tim Gale 4 minutos de leitura

Durante este outono europeu, os turistas que visitarem Weston-super-Mare, na costa oeste da Inglaterra, vão se deparar com uma visão insólita: o Monstro do Mar (See Monster), uma instalação de arte ao ar livre que reaproveitou uma plataforma de petróleo desativada e a converteu em um enorme jardim suspenso.

Localizado em uma piscina rasa que costumava abrigar os antigos banhos ao ar livre de Tropicana – e que já foi o palco da instalação Dismaland, do artista Banksy – a instalação See Monster é uma das 10 principais obras que compõem o festival Unboxed: Creativity in the U.K.

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O festival foi concebido como uma celebração pós-Brexit e recebeu financiamentos de quase US$ 135 milhões do governo do Reino Unido O objetivo desse evento anual com atividades gratuitas é inspirar conversas e futuras carreiras em ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

O See Monster é um projeto enorme e ambicioso. É uma das maiores obras de arte pública da história do Reino Unido e a primeira a reutilizar uma estrutura que antes era sinônimo de combustíveis fósseis para aumentar a conscientização sobre a emergência climática, energia renovável e sustentabilidade.

Mas muitos têm questionado o impacto e o legado do projeto. Particularmente, os críticos mencionam que a decisão de derrubá-lo após apenas seis semanas de operação (no próximo dia 5 de novembro) parece um desperdício e contraria sua própria mensagem ambiental.

Esses pop-ups são uma distração dos problemas mais profundos da vida urbana, como a poluição do ar e a pobreza.

O See Monster também foi alvo de críticas que incluem o próprio festival Unboxed, rotulado como “um uso irresponsável do dinheiro público” em um momento de grande incerteza e dificuldades econômicas.

Assim como havia acontecido com a controversa instalação temporária Marble Arch Mound, em Londres – uma colina artificial de 25 metros de altura que ultrapassou o orçamento previsto e foi amplamente criticada –, o See Monster também tem gerado polêmicas a respeito dos benefícios das atrações “pop-up” para a revitalização das cidades e agitado as discussões mais gerais sobre revitalização urbana guiada pela cultura.

TURISMO POP-UP

Com 35 metros de altura e pesando 450 toneladas, o See Monster é dividido em quatro níveis, com uma cachoeira de 10 metros em forma de cascata caindo do nível mais baixo até a base. Conta ainda com pequenas árvores, plantas e gramíneas.

Há também um escorregador de playground e esculturas animadas, incluindo cerca de seis mil “balanças” presas ao exterior que se movem com o vento. Para completar, atomizadores de água para gerar nuvens e vários mirantes que oferecem vistas incomparáveis ​​do resort e da paisagem circundante. 

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A instalação atrai uma gama de visitantes, desde turistas curiosos a visitas organizadas por grupos escolares. Essas atrações turísticas que surgem rapidamente e são desmontadas logo depois são a extensão de uma tendência que começou nos anos 1990, com lojas pop-up em unidades vazias ao longo de ruas, shopping centers e bairros.

As “indústrias da experiência”, incluindo o turismo, são usadas há muito tempo como ferramenta de revitalização urbana. Antigas fábricas, armazéns, portos e minas têm sido transformados em museus, bares, restaurantes, hotéis e shopping centers.

Estruturas como See Monster dão um passo a mais. Em vez de uma mudança permanente de uso, eles ocupam, reutilizam e adaptam temporariamente estruturas e infraestruturas existentes em bairros e cidades que ficaram redundantes ou abandonadas – seja por crises econômicas e financeiras, seja por outros gatilhos de mudança, como a pandemia.

Essas instalações temporárias são pensadas para a era do Instagram, gerando inúmeras selfies, comentários positivos e “curtidas” nas redes sociais.

Pesquisas mostram que instalações e eventos pop-up podem atrair tráfego, gastos e publicidade significativos para a cidade anfitriã. Também podem ajudar a reimaginar um local degradado ou subutilizado, como o Tropicana, visando atrair investimentos privados e uma mudança permanente de uso (como no caso do Castlefield Viaduct Park, em Manchester).

As possibilidades mais altruístas incluem a criação de espaços abertos para recreação das comunidades, a promoção de mudanças comportamentais (por exemplo, praticar exercícios ou uma vida sustentável) ou arrecadação de dinheiro para boas causas.

O “CULTO DO TEMPORÁRIO”

Esses pop-ups são uma distração dos problemas mais profundos do capitalismo e da vida urbana, como a poluição do ar e a pobreza opressiva. Nisso, eles tendem a perpetuar as desigualdades, em vez de atacar suas causas mais profundas.

Mas os efeitos vão depender muito de cada pop-up. Projetos ambiciosos e caros, como o See Monster, se esforçam para corresponder ao hype que geram e são vulneráveis ​​às críticas de que o dinheiro teria sido mais bem gasto em escolas e hospitais.

Esquemas menores, liderados pela comunidade com ambições modestas, ou eventos fortuitos como Dismaland, que parecem surgir do nada, provavelmente serão mais bem recebidos e deixarão um legado positivo.

Embora os pop-ups sejam de natureza transitória, a tendência para o turismo efêmero e baseado em eventos em áreas urbanas veio para ficar. Isso significa que o debate sobre se eles são bons ou ruins para as cidades continuará, mesmo muito depois de o See Monster ter sido desmontado.


SOBRE O AUTOR

Tim Gale é o principal acadêmico em gestão de turismo na Bournemouth University. saiba mais