Jogar fora suas lingeries usadas? Que nada, agora elas são biodegradáveis

A marca Uwila Warrior está lançando uma coleção de peças íntimas feitas com fibras sintéticas que se decompõem após alguns anos

Crédito: Uwila Warrior

Elizabeth Segran 4 minutos de leitura

Marcas de lingerie recomendam descartar suas roupas íntimas após um ano. No passado, as roupas de baixo eram feitas de algodão e outras fibras orgânicas. Mas no mundo moderno, gostamos que a roupa íntima seja elástica e que absorva umidade. Assim, agora elas são produzidas com fibras sintéticas.

Essas fibras não se decompõem, permanecendo em aterros sanitários por centenas de anos, fragmentando-se em partículas pequenas que acabam nos cursos d'água e na cadeia alimentar. Isso é algo que por muito tempo esteve na cabeça de Lisa Mullan, cofundadora da marca de roupas íntimas Uwila Warrior.

Ela tentou fabricar suas peças com materiais sustentáveis, incluindo fibras orgânicas como bambu e poliéster reciclado. No entanto, no final de sua vida útil, os produtos contribuíam para a poluição plástica. "Mesmo nossas roupas íntimas de seda contêm algumas fibras sintéticas", diz ela. "É assim que elas mantêm a forma.”

Há alguns meses, Mullan se deparou com um artigo científico sobre uma startup que desenvolveu a tecnologia Ciclo, que altera a estrutura polimérica das fibras sintéticas para torná-las biodegradáveis. Resolveu então entrar em contato e propor uma parceria entre as empresas.

Agora, a Uwila Warrior está lançando uma coleção de lingeries e roupas de dormir feitas com fibras Ciclo. Elas são as primeiras peças íntimas no mercado feitas com fibras sintéticas que se decompõem após alguns anos.

Crédito: Uwila Warrior

Andrea Ferris, cofundadora e CEO da Intrinsic Advanced Materials (a empresa que desenvolveu a tecnologia Ciclo), trabalhava em uma fabricante de uniformes para grandes empresas, como o McDonald's.

"Usávamos poliéster porque era o melhor material em termos de preço, durabilidade e limpeza", diz ela. "Mas sabíamos que estávamos contribuindo para a crise dos microplásticos.”

Ao longo da última década, os cientistas descobriram que os microplásticos estão amplamente presentes nos alimentos e na água consumidos pela população. As microfibras foram identificadas como a forma mais abundante de microplástico na água, na terra e na atmosfera do planeta.

Crédito: Uwila Warrior

Há 12 anos, Ferris contratou uma equipe de cientistas para encontrar uma maneira de tornar as fibras sintéticas biodegradáveis. A equipe é liderada por Sudeep Motupalli Rao, engenheiro químico interessado em biomimética.

Para criar o Ciclo, Rao e sua equipe desenvolveram uma solução que altera a estrutura química do plástico, incorporando inúmeras vias biodegradáveis para que microorganismos possam consumir as fibras.

Em testes de laboratório de terceiros, o poliéster Ciclo se decompôs na mesma taxa que a lã, entre 2,6 e 3,7 anos, dependendo do ambiente em que se encontrava.

Outra vantagem é que o Ciclo não altera a qualidade do poliéster. Ele é tão durável e resistente quanto seria de outra forma. "Assim como outros tecidos orgânicos, ele só se decompõe em condições específicas, como em aterros sanitários ricos em microrganismos", diz Ferris. "Isso é crucial porque muitas marcas escolhem materiais sintéticos especificamente por sua durabilidade.”

Crédito: Uwila Warrior

A Intrinsic Advanced Materials agora trabalha com fabricantes de fibras sintéticas de todo o mundo para criar materiais Ciclo biodegradáveis, tornando o processo o mais simples possível. Basta colocar um grânulo no sistema de fabricação, como se fosse um grânulo de corante, e isso altera a estrutura da fibra.

Atualmente, o processo gera um pequeno aumento no preço, mais ou menos equivalente ao que custa a mudança de poliéster virgem para poliéster reciclado. "Nosso objetivo é expandir isso para que seja competitivo em preço, de modo que qualquer marca que use materiais sintéticos possa adotá-lo", diz Ferris.

Crédito: Uwila Warrior

Mas, por enquanto, a empresa ainda está divulgando a novidade. É aí que marcas pioneiras como a Uwila Warrior entram em cena. "Como uma marca pequena e ágil, podemos experimentar coisas novas", diz Mullan. "Nossa esperança é que outras confecções também se interessem pelo material.”

Ferris afirma que a tecnologia Ciclo pode ser incorporada em diversos tipos de plástico, incluindo garrafas descartáveis. No entanto, ela acredita que a sociedade deveria reduzir sua dependência de plásticos de uso único e migrar para soluções mais sustentáveis, como garrafas reutilizáveis.

No entanto, a indústria da moda não tem uma boa alternativa aos materiais à base de plástico, que compõem 60% de todos os tecidos no mercado. "As fibras plásticas são incrivelmente duráveis, o que é tanto a sua força quanto a sua fraqueza", diz Ferris. "As marcas continuarão a usá-las. Torná-las biodegradáveis é uma maneira de reduzir o impacto que elas causam.”


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais