Má notícia para Hollywood: a geração Z está cansada de tantos remakes
Jovens cansaram de sequências e remakes, mas estúdios continuam apostando em títulos como Caça-Fantasmas, Planeta dos Macacos e Bad Boys
Algumas semanas atrás, assisti ao primeiro filme de Hollywood que me surpreendeu em muitos anos: "O Criador", do diretor Gareth Edwards.
Fazia muito tempo que eu não esperava muito da maioria dos filmes hollywoodianos porque, apesar dos orçamentos de centenas de milhões de dólares, eles geralmente têm efeitos especiais abaixo da média, roteiros que fazem parecer que o estúdio desistiu na metade do processo de escrita e um excesso de confiança em continuações de sucessos e em propriedades intelectuais já existentes.
Me apaixonei pelo filme justamente porque ele rompe com os moldes que Hollywood vem usando para contar suas histórias há quase duas décadas. "O Criador" é uma história completamente original, baseada em personagens e bem escrita, filmada principalmente em locações e não em cromaquis.
E, para um filme de ficção científica ambientado no futuro, tem um orçamento surpreendentemente pequeno, de apenas US$ 80 milhões, mas seus efeitos visuais parecem mais impressionantes e mais naturais do que qualquer coisa que a Marvel já tenha lançado.
Não é de se admirar que ele tenha sido indicado para o Oscar na categoria melhores efeitos visuais este ano. Perdeu, mas foi para outra maravilha de efeitos especiais de orçamento ultrabaixo, "Godzilla Minus One".
"O Criador" me proporcionou algo que eu não sentia há anos: esperança no futuro de Hollywood. Esperança de que o setor possa estar pronto novamente para confiar em roteiristas que contem histórias novas, mais modestas e originais e que tenham a criatividade necessária para contá-las. Esperança de que a era dos filmes sem originalidade, bombásticos e espetaculares e das sequências de sucessos de bilheteria possa estar chegando ao fim.
Não estou sozinho nessa. Uma pesquisa realizada pela Harris Poll revelou que 74% da geração Z e dos millennials – os principais públicos com os quais Hollywood conta – preferem filmes originais a remakes.
A indústria precisa repensar que tipo de atração vai levar daqui por diante para as telas dos cinemas.
Dessa fatia de público, 71% dizem que querem filmes e programas de TV que sejam "independentes ou de produtores menores". Em outras palavras: mais de dois terços do público do qual os grandes estúdios de Hollywood dependem para faturar nas bilheterias dos cinemas querem algo diferente daquilo que eles têm oferecido.
Não se trata apenas de público. Os artistas também querem que a indústria cinematográfica norte-americana saia da mesmice dos filmes genéricos de grande orçamento. No Oscar deste ano, em seu discurso de agradecimento após ganhar o prêmio de melhor roteiro adaptado – por "Ficção Americana" – o cineasta Cord Jefferson chamou a atenção para a dependência excessiva de Hollywood de blockbusters milionários.
"Em vez de fazer um filme de US$ 200 milhões, experimentem fazer 20 filmes de US$ 10 milhões, ou 50 de US$ 4 milhões", defendeu Jefferson. Vários estúdios tinham recusado seu filme, que, segundo consta, custou apenas US$ 10 milhões para ser produzido. "Gostaria que outras pessoas sentissem essa alegria [que senti ao fazer "Ficção Americana"], e essas pessoas estão por aí, tenho certeza."
Portanto, o público e os cineastas estão de acordo. Mas, mesmo assim, os próximos seis meses estarão repletos de blockbusters, sequências e remakes.
A mais nova sequência clássica estreia com "Caça-Fantasmas: O Império do Gelo". Em abril, há uma nova continuação de "A Profecia"; em maio, temos "Profissão: Perigo", baseado na série de TV dos anos 1980; e o enésimo episódio de "Planeta dos Macacos" ("O Reinado").
Em junho estreia "Bad Boys 4", "Divertidamente 2" e outro "Um Lugar Silencioso". Em julho, teremos "Meu Malvado Favorito 4", um novo "Um Tira da Pesada", a sequência de "Twisters" e mais um filme do Universo Marvel, "Deadpool & Wolverine". Em agosto é a vez de um novo "Aliens", e em setembro vem a sequência de "Os Fantasmas se Divertem", estrelada por Jenna Ortega, a favorita da geração Z.
Mas por que Hollywood continua explorando histórias conhecidas? Um dos motivos, é claro, é a aversão ao risco. Um título bem conhecido, por mais antigo que seja, ainda é uma aposta mais segura do que uma produção desconhecida, aos olhos dos produtores.
No entanto, esse tipo de avaliação de risco pode estar ficando ultrapassado, se a queda das vendas de ingressos de blockbusters (estou falando de você, Marvel) for uma indicação. De fato, o CEO da Disney, Bob Iger, admitiu recentemente que a empresa precisa diminuir a quantidade de filmes de super-heróis.
Outro motivo é que algumas pessoas em Hollywood podem simplesmente pensar que o público jovem talvez não perceba a diferença. Quantos espectadores da geração Z estão familiarizados com a série "Profissão: Perigo", da rede de TV ABC, da década de 1980? Provavelmente muito poucos. Então, pelo menos, isso faz com que ela pareça um pouco original.
A relativa popularidade do filme "Ficção Americana" e a originalidade e os efeitos especiais mais baratos (mas de cair o queixo) de "O Criador" e de "Godzilla Minus One" (da gigante japonesa do entretenimento Toho) – combinadas ao cansaço do público com o buzz dos filmes de grande orçamento – fazem com que o setor precise repensar que tipo de atração vai levar daqui por diante para as telas dos cinemas.