Macintosh 40 anos: a máquina que revolucionou a indústria de computadores

Projetar produtos com foco na usabilidade, elegância e prazer compensa

Crédito: Rafael Garcin/ Unsplash

Jacob O. Wobbrock 4 minutos de leitura

Inovar em tecnologia requer solucionar problemas técnicos complexos, certo? Sim e não. Ao completar 40 anos, o Macintosh comprova que o que começou com a Apple apostando no conceito de “experiência do usuário” em seu principal produto de 1984 é, hoje, claramente justificado pelos produtos de sucesso lançados desde então.

A empresa provou que projetar com foco na usabilidade, eficiência, acessibilidade, elegância e prazer compensa. O valor de mercado da Apple hoje é de mais de US$ 2,8 trilhões e sua marca é tão associada ao termo “design” quanto as maiores grifes de moda de Nova York ou Milão. Ela transformou a tecnologia em moda e fez isso através da experiência do usuário.

Tudo começou com o Macintosh.

A Apple apresentou seu novo computador pessoal em um comercial durante o intervalo do Super Bowl 18, em 22 de janeiro de 1984. O anúncio parecia mais a estreia de um filme do que o lançamento de uma tecnologia. Ele, de fato, foi dirigido pelo cineasta Ridley Scott. 

Isso porque Steve Jobs sabia que não estava vendendo apenas poder de computação, armazenamento ou uma solução de editoração eletrônica. Era um produto para ser usado por seres humanos, para ser levado para suas casas e integrado às suas vidas.

Não se tratava de computação. IBM, Commodore e Tandy faziam computadores. O foco do primeiro Macintosh era fazer os seres humanos se sentirem confortáveis com uma nova extensão de si mesmos, não como entusiastas da computação, mas como pessoas comuns.

Todas aquelas “coisas de computador” – circuitos, fios e monitores – foram cuidadosamente embaladas e escondidas em uma caixa integrada e elegante.

Os usuários não precisavam mexer dentro dela. Não havia por que pensar sobre o seu conteúdo, assim como não pensavam nas costuras de suas roupas. Em vez disso, eles se concentrariam em como aquela caixa os fazia sentir.

ALÉM DA METÁFORA DO MOUSE E DA ÁREA DE TRABALHO

O Macintosh não foi o primeiro computador a ter uma interface gráfica ou a usar a metáfora da área de trabalho – ícones, arquivos, pastas e janelas. Também não foi o primeiro destinado ao uso doméstico, profissional ou educacional. Tampouco a ter um mouse. Nem mesmo foi o primeiro computador da Apple a ter qualquer uma dessas coisas. O Lisa, lançado um ano antes, já tinha tudo isso.

Mas ele reuniu vários avanços para oferecer às pessoas um acessório – não para entusiastas de tecnologia, mas para mães que trabalhavam em casa, pais que praticavam esportes e alunos que o usavam para escrever documentos, editar planilhas, fazer desenhos e jogar.

O Macintosh revolucionou a indústria de computação pessoal e tudo o que viria depois ao proporcionar uma experiência de usuário satisfatória e simplificada.

Enquanto os computadores costumavam ter sequências de entrada complexas na forma de comandos ou mouses com vários botões, ele usava a metáfora de área de trabalho, na qual a tela era uma representação da superfície física de uma mesa.

Os usuários podiam clicar diretamente em arquivos e pastas para abri-los. Além disso, tinha um mouse de um botão que permitia clicar, clicar duas vezes e arrastar e soltar ícones sem precisar digitar comandos.

O Macintosh simplificou as técnicas de interação necessárias para operar um computador e melhorou o funcionamento para velocidades razoáveis. Comandos complexos e teclas dedicadas foram substituídos por operações de apontar e clicar, menus suspensos, janelas e ícones arrastáveis, além de funções de desfazer, cortar, copiar e colar em todo o sistema.

Ao contrário do Lisa, ele só podia executar um programa por vez, mas isso simplificava a experiência do usuário. O Macintosh também forneceu aos desenvolvedores de aplicativos uma caixa de ferramentas de interface do usuário, permitindo que os programas tivessem uma aparência e sensação padrão através de widgets de interface comuns, como botões, menus, fontes, caixas de diálogo e janelas.

Dessa forma, a curva de aprendizado dos usuários foi achatada, permitindo que as pessoas se tornassem proficientes em pouco tempo. A computação, assim como a moda, agora era para todos.

UMA BOA EXPERIÊNCIA

Enquanto os sistemas anteriores priorizavam a capacidade técnica, o Macintosh foi projetado para que usuários não especializados – no trabalho, na escola ou em casa – experimentassem um tipo de usabilidade pronta para uso que hoje é a marca registrada não apenas da maioria dos produtos da Apple, mas de toda uma indústria de eletrônicos, dispositivos inteligentes e computadores de todos os tipos.

O Macintosh revolucionou a indústria de computação pessoal e tudo o que viria depois ao proporcionar uma experiência de usuário satisfatória e simplificada.

Hoje, raramente produtos de consumo têm sucesso no mercado com base apenas na funcionalidade. As pessoas esperam uma boa experiência do usuário e estão dispostos a pagar mais por isso. O Macintosh iniciou essa tendência e demonstrou sua importância.

É irônico que um dos maiores divisores de água tecnológicos nunca tenha sido realmente uma questão de tecnologia. Sempre foi sobre as pessoas. Isso serve de inspiração para aqueles que desejam desenvolver a próxima grande inovação tecnológica e de alerta para quem considera a experiência do usuário apenas uma preocupação secundária.

Este artigo foi reproduzido do The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Jacob O. Wobbrock é professor de informação na Universidade de Washington. saiba mais