Nem Taylor Swift consegue escapar do lado mais sombrio das redes sociais

As redes sociais favorecem o bullying: as chances de alguém se comportar de modo cruel na internet são maiores do que pessoalmente

Crédito: Fast Company Brasil

Angeline Close Scheinbaum 4 minutos de leitura

Como especialista em comportamento do consumidor, recentemente editei um livro sobre como as redes sociais afetam a saúde mental. Além disso, também sou muito fã da Taylor Swift.

Por isso, quando escutei o último álbum de Swift, "The Tortured Poets Department", não pude deixar de traçar paralelos com a pesquisa que venho realizando na última década.

A princípio, pode parecer uma comparação estranha. O que o álbum mais vendido de 2024 pode ter a ver com uma pesquisa sobre o lado obscuro das redes sociais? 

Mas me acompanhem: Taylor Swift vive no mesmo universo saturado de redes sociais que o resto de nós. Talvez seja por isso que os temas melancólicos de seu álbum ressoem para tanta gente. 

Agora que os jovens passam o tempo livre nas redes sociais, é hora de ligar o som e pensar seriamente sobre a saúde mental e o chamado de "bem-estar do consumidor". A seguir, partilho com vocês três lições que pude tirar do trabalho de Taylor.

Lição 1: a vida pelas lentes das redes sociais pode nos deixar deprimidos

Se você tem se sentido mal ultimamente, saiba que não está sozinho: a ansiedade e a depressão podem ser exacerbadas pelo uso excessivo das redes, segundo pesquisas. E o uso dessas mídias está aumentando.

A vida digital pode virar uma espécie de vício e, às vezes, manifestar-se como uma forma distinta de ansiedade chamada "ansiedade de desconexão", de acordo com os pesquisadores Line Lervik-Olsen, Bob Fennis e Tor Wallin Andreassen. Isso pode gerar sentimentos de depressão – um estado de espírito que se repete em todo o álbum "The Tortured Poets Department".

Muitas vezes, a depressão anda de mãos dadas com sentimentos de solidão. As redes sociais, de certa forma, fizeram com que as pessoas se sentissem ainda mais solitárias – quase quatro em cada cinco norte-americanos consideram que as redes sociais pioraram as segregações sociais, de acordo com a Pew Research.

A pandemia mostrou ao mundo que os relacionamentos nas mídias sociais não podem substituir a presença física. Até mesmo as celebridades com centenas de milhões de seguidores precisam de alguém por perto. Na música "The Prophecy", Swift canta sobre a solidão e o desejo de ter alguém que simplesmente goste da sua companhia.

"Don't want money/ Just someone who wants my company (Não quero dinheiro/ Só alguém que queira minha companhia)

Lição 2: comparações nos deixam infelizes

As redes sociais são um terreno fértil para comparações. E como as pessoas tendem a retratar versões idealizadas de si mesmas na internet, essas comparações geralmente são falsas ou distorcidas. 

Pesquisas demonstraram que as pessoas que utilizam as redes sociais tendem a fazer "comparações com quem está acima", julgando-se em relação a pessoas que consideram inspiradoras. Mas a rede pode gerar comparações falsas, pois o que alguém almeja pode não ser autêntico.

Isso pode levar àquilo que os pesquisadores chamam de "autodiscrepância negativa" – um sentimento de decepção por não conseguir atingir um ideal pessoal. A mídia social deixa as pessoas mais insatisfeitas com seu próprio senso de controle, inteligência e poder. Isso, por sua vez, pode piorar o estresse e a ansiedade.

O tema das comparações se manifesta em alto e bom som na música "The Tortured Poets Department", na qual Swift critica um parceiro com pretensões literárias – e a si mesma por namorá-lo.

Ela pode ser a estrela pop mais rica, famosa e bem-sucedida do planeta, mas o fato de se comparar com figuras ainda mais privilegiadas certamente fará com que qualquer pessoa se sinta pior.

You’re not Dylan Thomas, I’m not Patti Smith. This ain’t the Chelsea Hotel, we’re modern idiots. (Você não é Dylan Thomas, eu não sou Patti Smith. Isto aqui não é o Hotel Chelsea. Somos idiotas modernos)

Lição 3: o bullying é um problema sério

No mundo atual, focado nas redes sociais, o bullying migrou para as plataformas digitais. E, sem dúvida, as plataformas favorecem o bullying: é mais provável que as pessoas se comportem de forma maldosa na internet do que pessoalmente.

Os formuladores de políticas reconhecem cada vez mais o bullying como uma preocupação política importante. Um desses esforços, o Kids Online Safety Act (Lei de Segurança Online para Crianças), que, entre outras coisas, exigiria que as plataformas online tomassem medidas para lidar com o cyberbullying, foi recentemente aprovado no Senado dos EUA.

Em seu último álbum, Swift se refere aos seus agressores como víboras que "prejudicam sua imagem pública" e diz que os insultos a atingiram por muito tempo.

I’ll tell you something ’bout my good name. It’s mine alone to disgrace. I don’t cater to all these vipers dressed in empath’s clothing (Vou te dizer uma coisa sobre o meu bom nome. Só cabe a mim falar mal dele. Não ligo para essas víboras que fingem sentir empatia)

Temas como imagem pública e bullying estão presentes em todo o trabalho de Swift – o que não é surpreendente para alguém que teve uma vida tão pública, tanto online quanto fora dela.

Não se sabe se o uso generalizado das redes sociais ou o uso excessivo por si só causam alguns desses resultados. Mas nossa pesquisa demonstra que, de muitas maneiras, existe um lado mais sombrio nas redes sociais quando se trata do bem-estar do consumidor – até mesmo para as celebridades. 

Este artigo foi republicado do "The Conversation" sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE A AUTORA

Angeline Close Scheinbaum é professora associada de marketing na Universidade Clemson. saiba mais