Nike estreia tênis e tecidos com alta tecnologia na Olimpíada de Paris

A Nike se une à Hyperice para criar dois novos equipamentos de vestir que ajudam os atletas a se recuperarem de uma partida

Crédito: Nike

Mark Wilson 4 minutos de leitura

Foi como se alguém estivesse me jogando um balde de água fria.  Mas não do jeito que vocês estão pensando.

Eu estava na sede da Nike, no Oregon (EUA), visitando uma sala cheia de inovações para a Olimpíada. Ao lado do novo equipamento de corrida da marca, avistei um colete e um par de botas que serão usados por alguns atletas nos Jogos de Paris. 

A Nike é uma empresa conhecida pelo alto desempenho nos campos e nas quadras, mas essas inovações são uma tentativa de expandir seu alcance para a preparação e recuperação de atletas.

O colete colocado sobre um manequim era de um branco incomparável. Não consegui conter o riso quando vi os pequenos ventiladores saindo daquela roupa – parecia que tinham saído de uma torre de PC e foram costurados no tecido.

Acontece que esse é um colete capaz de monitorar a temperatura do corpo. Ele foi projetado para resfriar ou aquecer o usuário utilizando uma combinação de balões internos e uma bateria integrada.

Crédito: Nike

Um minuto depois de vestir o tal colete e de acionar os miniventiladores, eu já conseguia sentir o ar quente sendo expelido. Ao mesmo tempo, meus ombros iam ficando mais frios a cada segundo, até passarem de frios para gelados – como se um líquido congelante estivesse escorrendo pela minha pele. A sensação chega a ser assustadora. 

Tanto esse colete quanto as botas foram desenvolvidos em conjunto com a Hyperice, uma das principais empresas de equipamentos de reabilitação esportiva. Ela fabrica produtos como as leggings Normatec almofadadas, que você conecta na tomada para promover a circulação nas pernas, oferecendo os benefícios da terapia de compressão no conforto do seu sofá. 

Desde o ano passado, a Nike vem trabalhando com a empresa para integrar algumas dessas tecnologias em produtos que possam se encaixar melhor na vida de um atleta, para que ele possa se aquecer facilmente antes e se refrescar depois, promovendo desempenho e recuperação em um único pacote.

A BOTA NIKE X HYPERICE

A bota Hyperice se ajusta aos pés como se fosse a “versão sapato” das leggings de compressão da marca. Apesar de esconder várias compressas em seu interior e elementos de aquecimento, ela não é muito mais volumosa do que um tênis. 

Enquanto o colete serve para resfriar ou aquecer o corpo antes ou depois de uma corrida, a bota serve para massagear o sistema circulatório, fazendo o fluxo sanguíneo fluir passivamente enquanto você faz o que quiser. É como uma terapia em movimento.

Crédito: Nike

Colocando um dos pés na bota (o outro eu deixei no meu próprio sapato, para comparar), apertei um botão e o sapato foi ativado, ronronando como um mini colchão inflável. A combinação de calor e balões de inflar/ desinflar lembrava um pouco um medidor de pressão arterial.

Não é muito normal andar por aí usando um dispositivo mecânico sem se preocupar em danificá-lo, mas o design do Hyperice passa uma sensação muito mais natural do que usar uma bota de esqui.

A sensação é agradável, mas não consegui perceber realmente a diferença até tirar o calçado e esperar alguns minutos. A diferença entre as condições dos meus dois pés era gritante. O pé com Hyperice-d estava relaxado e visivelmente mais flexível.

A NIKE AMPLIA SEU ALCANCE

A Hyperice é uma parceria interessante para a Nike em alguns aspectos. Em primeiro lugar, os experimentos da Nike com aquilo que a maioria de nós chamaria de tecnologia – produtos eletrônicos – não deram certo. 

O Fuelband da Nike foi um precursor atraente do Apple Watch, mas a maioria das pessoas parou de usá-lo com o tempo e, por isso, a Nike o descontinuou cinco anos após o lançamento. O tênis Adapt BB com cadarço automático eram uma maravilha técnica com uma utilidade inovadora, mas que nunca superou os obstáculos (preço, volume/ peso, carregador, aplicativo etc.). 

Crédito: Nike

Mas a Hyperice é uma parceira tecnológica com um histórico comprovado em um mercado que a Nike ainda não domina. Há um número limitado de tênis que você consegue vender a alguém para os dias de jogos ou para a pista de corrida, e o tamanho gigantesco da Nike dificulta esse crescimento.

No entanto, esses produtos Hyperice não são feitos para o campo ou para a quadra e sim para os momentos imediatamente antes ou depois da prática esportiva. 

O primeiro teste dessas novas invenções será em Paris, antes de elas serem aprimoradas para o mercado de consumo. Mas, para o diretor de inovação da Nike, John Hoke, o significado dessa colaboração e estratégia é muito maior do que qualquer próximo lançamento de produto.

"Agora, podemos pensar em ir mais longe e mais fundo com cada atleta que acompanhamos, considerando acessibilidade, expressão pessoal, a ciência da confiança etc. Calçados inteligentes, coletes inteligentes – a reabilitação de atletas é uma área totalmente nova para nós", diz Hoke.


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais