No futuro, o algodão usado nos jeans poderá ser cultivado em estufas
Marca holandesa G-Star Raw trabalha com pesquisadores para plantar algodão em ambientes climatizados, permitindo o cultivo em países de clima frio
Nos últimos anos, marcas como Patagonia, Citizens of Humanity e Christy Dawn começaram a comprar algodão de fazendas que utilizam métodos de agricultura regenerativa. Mas, em breve, marcas de moda sustentável também poderão conseguir algodão de outra fonte: estufas. A G-Star Raw quer transformar isso em realidade.
A marca holandesa se associou a uma universidade local em um pequeno projeto piloto para cultivar algodão em uma estufa e, em seguida, usá-lo para criar brim (um tipo de tecido resistente, feito de algodão, linho ou fibra sintética). O resultado final foram cinco pares de jeans, feitos integralmente na Holanda.
Agora, a G-Star Raw está estudando como escalar essa produção para que produtores de brim possam criar jeans localmente, com uma pegada de carbono muito menor.
O DESAFIO DO CULTIVO LOCAL
O algodão cresce melhor em condições de clima quente e úmido, razão pela qual a maioria das plantações do mundo está na China, Índia, Brasil e no sul dos Estados Unidos. Isso apresenta algumas complicações para marcas europeias como a G-Star Raw, fundada na Holanda em 1986.
Dada a atual cadeia de suprimentos, ela precisa comprar algodão de lugares distantes, o que significa transportar a matéria-prima por longas distâncias, gerando uma grande quantidade de emissões de carbono.
“Isso também torna a rastreabilidade do material mais complicada”, diz Rebecka Sancho, chefe de sustentabilidade da G-Star, ao lembrar que as novas regulamentações implementadas na União Europeia exigem que as marcas rastreiem toda a cadeia de suprimentos de seus produtos.
Portanto, foi intrigante para Sancho quando a Universidade de Wageningen, reconhecida em todo o mundo por sua pesquisa agrícola, entrou em contato com a marca.
Os pesquisadores estavam interessados na colaboração da marca em um experimento para ver se era possível cultivar algodão na Holanda usando uma estufa. Eles queriam quantificar a pegada ambiental desse algodão, em comparação com aquele cultivado da maneira tradicional.
CULTIVO EM ESTUFA
O algodão “tradicional” normalmente requer grandes áreas de terra, mas o cultivado em estufa precisa de bem menos espaço, pois as plantas crescem muito mais altas. O algodão cultivado em fazendas tem cerca de um metro e meio de altura, enquanto aquele cultivado em estufa chega a mais de cinco metros.
O algodão também cresce de forma mais eficiente porque é possível controlar as condições ambientais, como iluminação, calor e água. Além disso, o algodão tradicional requer pesticidas para evitar pragas e doenças, o que não é o caso para plantas que crescem em estufas.
Os resultados do projeto piloto foram impressionantes. A estufa aumentou a produção de algodão em 2.300%, em comparação com a mesma quantidade de terra em uma fazenda. Cada planta produziu de nove a 12 vezes mais e o ambiente controlado permitiu que o algodão fosse cultivado por mais tempo que o normal.
O algodão tradicional também requer muita água para crescer. Podem ser necessários até 10 mil litros de água para produzir um quilo de algodão. Na estufa, as plantas precisaram de apenas 800 litros, usando água da chuva reciclada para irrigação.
Os pesquisadores dizem que essa técnica gera muito menos emissões de carbono, desde que a estufa inteira possa operar com energia renovável. Em estufas não é preciso arar o solo, uma atividade que libera carbono na atmosfera. E o algodão pode ser cultivado perto dos fabricantes que vão transformá-lo em roupas, reduzindo as emissões geradas no transporte.
Os resultados são animadores, mas é um projeto piloto muito pequeno. Criar roupas em grande escala usando algodão cultivado em estufa será um desafio gigantesco. No entanto, a G-Star quer inspirar outras empresas a pensar em como as estufas poderiam se tornar mais uma opção em seu arsenal para reduzir a pegada ambiental.
Este projeto também é um lembrete de que a indústria da moda ainda está nos primeiros estágios de seus esforços para encontrar soluções sustentáveis.
As marcas começaram a investir na agricultura regenerativa apenas nos últimos anos e os sistemas de reciclagem de tecidos estão muito no início. Isso significa que ainda há muito espaço para novas ideias – mesmo aquelas que parecem um pouco incomuns.