No Japão, até as tampas de bueiros são obras de arte

Documentário lança luz sobre o fascinante processo de fabricação por trás das tampas de bueiro japonesas, que são fundidas em areia e pintadas à mão

Crédito: Behrouz Mehri/ AFP/ Getty Images

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

Vamos falar sobre um tema inusitado? Tampas de bueiro. Elas estão presentes em todas as cidades do mundo, mas ninguém realmente presta atenção a estas placas feias, fedorentas e enferrujadas, a menos que estejam desalinhadas com as marcações das vias – ou sejam arremessadas a metros de altura devido a uma explosão interna, uma cena apavorante.

Essas tampas de metal estão entre os equipamentos menos glamurosos de que as cidades precisam para manter seus sistemas funcionando. Mas e se eu disser que elas também podem ser obras de artes? No Japão, as tampas de bueiro enfeitam as ruas e colorem mais as cidades.

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O país é conhecido pela forma criativa com que dá vida a estas placas sem graça, pintando-as com símbolos, pontos turísticos e eventos relacionados à cidade ou região em que se encontram. A prática começou na década de 1980, como uma campanha de relações públicas, e se tornou tão popular que cerca de 95% dos municípios do país hoje têm seu próprio projeto.

Um minidocumentário lança luz sobre o fascinante processo de fabricação por trás delas, desde a fundição de moldes feitos de areia até a pintura à mão das placas. O vídeo foi produzido pela Process X, que documenta vários sistemas de fabricação no Japão. Nele, vemos os bastidores da maior fabricante de tampas de bueiro do país, a Hinode Suido, que está em operação há mais de 100 anos.

O processo começa com um funcionário operando um ímã gigante, que retira pilhas de sucata de aço de uma lixeira e libera o conteúdo em outra, levada então para uma enorme fornalha. Os moldes são produzidos usando uma técnica milenar conhecida como “fundição em areia” – um dos métodos mais antigos de fundição conhecidos, usado desde a Dinastia Shang, na China, por volta de 1.300 a.C.

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O aço derretido, que parece um fogo líquido nesse estágio, é despejado em um recipiente resistente, depois em um poço e, finalmente, despejado sobre os moldes. Depois que o metal esfria e endurece, os moldes de areia são quebrados.

Em seguida, uma máquina com garras, operada por um trabalhador, levanta as tampas recém-fabricadas e as encaixa em suportes individuais acoplados a um sistema de correia, que lembra um teleférico.

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Em uma sala separada, uma equipe de robôs faz o polimento das tampas. Um exército de máquinas com aparência semelhante à de um robô-aspirador transporta várias unidades para outros lugares, para que sejam polidas por humanos.

As placas finalizadas são encaixadas em um suporte sobre um tanque, para serem lavadas e revestidas com uma camada folheada. Essa camada atrai a tinta para a superfície metálica por meio de corrente elétrica. Então, são lavadas novamente e depois secas.

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As placas estão prontas para serem pintadas. O vídeo segue os artesãos conforme eles despejam uma tinta laranja em tubos de plástico e, em seguida, preenchem meticulosamente os espaços deixados pelos moldes.

Um dos desenhos revela um caminhão vermelho em destaque, com um fundo amarelo. Em outro, há tantos detalhes que são necessários tubos menores com bicos mais precisos para que a pintura saia perfeita.

As tampas finalizadas são cobertas com uma película de plástico e passam por testes para avaliar sua resistência à pressão antes de poderem ser colocadas nas ruas. Quem poderia imaginar que peças tão simples da infraestrutura urbana poderiam trazer beleza às cidades?


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais