No topo do mundo: Silver Art Projects abriga estúdios de arte no coração de NY
A cidade de Nova York é inacessível para muitos artistas, mas a Silver Art oferece alguns estúdios gratuitos no coração de Manhattan
Em 2015, havia mais artistas morando na cidade de Nova York do que nunca (cerca de 55 mil). Mas, entre janeiro de 2021 e o início de 2022, os aluguéis aumentaram 33%, afastando cada vez mais os artistas dos bairros criativos da cidade.
A organização sem fins lucrativos Silver Art Projects, fundada em 2018, oferece residências artísticas no 28º andar do 4 World Trade Center. Assim como outras, a missão da entidade é apoiar artistas que estão sendo empurrados para fora da cidade.
A Silver Art oferece estúdios gratuitos e orientação para um seleto grupo de artistas. Até o momento, mais de 50 – de pintores e artistas visuais a fotógrafos e escultores – já participaram do projeto.
Em junho terminou a segunda temporada de residência, que recebeu 25 artistas. Enquanto a Silver Art analisa mais de 1,2 mil inscrições para sua próxima temporada, conversei com quatro artistas que participaram da mais recente.
A maioria produzia sua arte em casa antes de ingressar na Silver Art, mas a residência abriu novas oportunidades: Chella Man fará parte de uma exposição de arte em uma galeria em Tribeca; Helina Metaferia está inaugurando uma exposição individual no Museu de Arte da Rhode Island School of Design e continuará na Silver Art como mentora.
A seguir, eles contam um pouco sobre a experiência.
“ONDE MAIS VOCÊ PODE ENCONTRAR UMA COMUNIDADE TÃO GRANDE?” - HELINA METAFERIA
Eu me mudei para Nova York em 2019 e, embora diga que não farei mais [residências], sempre volto porque onde mais você pode encontrar uma comunidade tão grande e uma rede de pessoas com ideias semelhantes, comprometidas com a prática artística?
Meu estúdio [no 4 World Trade Center] não é grande, talvez uns 55 metros quadrados. Perto de onde moro, no Harlem, um estúdio desse tamanho custaria US$ 2 mil por mês. Imagina pagar tudo isso! Não é um lugar para morar, é um espaço profissional para apresentar suas obras aos curadores.
Participarei da Bienal de Sharjah [nos Emirados Árabes Unidos] em 2023. E parte do motivo pelo qual fui convidada foi porque o curador da bienal me procurou dizendo: “estarei em Nova York, adoraria visitar seu estúdio.” Oportunidades como essa são o motivo de eu estar aqui. Mas apenas isso não é suficiente. Ter esse apoio faz toda a diferença.
“AS GALERIAS SÃO MUITO PRÓXIMAS” - SUSAN CHEN
Eu precisava urgentemente de um estúdio, mas morava em Connecticut e ninguém ia até lá. Aqui em Nova York, as pessoas vão até você porque as galerias [em Tribeca e Chelsea] ficam bem próximas. Isso meio que mexe um pouco com o seu ego porque você está no World Trade Center, e, às vezes, é como se estivesse no topo do mundo.
É um prédio de escritórios classe A, ou seja, é excelente. Há vários escritórios e lojas para alugar na cidade de Nova York, mas a maioria dos proprietários não quer ceder seus espaços para artistas através de subsídios ou gratuitamente.
Talvez, se os proprietários entendessem como esse modelo de negócios poderia ajudá-los, a cidade teria inúmeros espaços prósperos novamente. Artistas colocam muito amor e dedicação em seu trabalho, e isso acaba se amplificando. Acho que é por isso que a gentrificação inevitavelmente acontece onde quer que eles estejam.
“EU ESTAVA OCUPANDO ESPAÇOS” - CHELLA MAN
Mudar para o estúdio da Silver Art me permitiu criar obras maiores e também me conectar com todo o ecossistema de artistas que temos no 28º andar. O estúdio é lindo, com janelas do chão ao teto, e fica em uma área muito tranquila, então sentimos que nossa arte está segura lá.
Pude criar minha maior pintura: um tríptico intitulado I Live and Die Every Day (Vivo e Morro Todos os Dias) de 183 x 325 centímetros. Minha obra analisa como as construções sociais e políticas modernas impactam e limitam meu acesso enquanto artista surdo, trans, chinês e judeu.
Senti que, ao ir mais longe do que jamais fui capaz, estava ocupando espaços. Algo que muitas pessoas marginalizadas, infelizmente, têm que pôr em prática de forma intencional e consciente, já que somos ensinados a não fazê-lo.
“O DIRETOR DO MOMA VEIO VISITAR CADA UM DE NÓS” - BUBI CANAL
Graças à Silver Art Projects, consegui meu próprio estúdio. Foi uma experiência incrível ter um espaço tão grande só para mim. Às vezes, recebemos visitas de representantes de instituições, galerias e museus.
O diretor do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) veio visitar cada um de nós. Me senti emocionado com o fato de que alguém que conhecia e já tinha visto inúmeras obras de arte me deu um feedback positivo. No Brooklyn, onde moro há 10 anos, é diferente. Já recebi visitas de curadores, colecionadores, mas não de representantes de instituições.
Vou trabalhar em uma série NFT com o [mercado NFT] Nifty no próximo mês. O produtor dos NFTs trabalhava na Gagosian Gallery na época em que visitou meu estúdio. Agora ele trabalha no Nifty, me contatou e disse: “visitei seu estúdio na Silver Art; você gostaria de lançar alguns NFTs conosco?”