Nova série de Bill Nye quer usar o humor para salvar o planeta

“The End is Nye” promove a ciência e a tecnologia que podem evitar grandes desastres – desde que os políticos e o público colaborem

Crédito: Peacock

Susan Karlin 4 minutos de leitura

No final de agosto, a plataforma de streaming Peacock (ainda indisponível no Brasil) estreou uma nova série sobre desastres e acidentes baseada em dados científicos. Em “The End is Nye”, Bill Nye, ex-engenheiro que se tornou apresentador de TV, revela os mitos e os detalhes das mais diferentes ameaças à vida humana, que vão de vulcões e asteroides a regimes autoritários, mudança climática e guerras químicas. 

Os seis episódios de 45 minutos impressionam os espectadores com desastres globais épicos – naturais ou causados pelo homem – em um espetáculo de efeitos visuais que nos dá um vislumbre de esperança sobre como a ciência pode nos ajudar a sobreviver, a mitigar ou até a impedir que essas tragédias e atrocidades ocorram.

No mês passado, os participantes da San Diego Comic-Con tiveram uma prévia do que está por vir, quando Nye subiu ao palco para apresentar um trailer do programa.

“Aconselha-se a discrição do espectador” Nye alertou, porque os episódios se lançam em cenários assustadoramente plausíveis que poderiam resultar de um ataque de asteroide, de uma enorme explosão solar que destrói redes elétricas, de um supervulcão, de um enorme terremoto, bem como dos estragos ambientais resultantes das mudanças climáticas e do aquecimento global.

“Devemos ter a capacidade de nos preparar para essas coisas”, disse Nye à platéia lotadao. “Devemos ser capazes de ver um asteroide se aproximando e conseguir fazer algo a respeito. Devemos ser capazes de perceber que está ficando muito quente aqui. Temos que fazer alguma coisa para parar o aumento da temperatura dos oceanos e da atmosfera.”

ALERTAS APOCALÍPTICOS E ENGRAÇADOS

Os cocriadores da série, Seth MacFarlane e Brannon Braga – os mesmos responsáveis por programas como "The Orville" e "Cosmos" – trabalharam com cientistas consultores e também com um escatologista, um especialista em “fim da humanidade”.

Mas eles deliberadamente usam do senso de humor e do humor negro na hora de dar seus alertas apocalípticos, fazendo brincadeiras inclusive com o jeito charmoso e trapalhão do apresentador Nye. 

Cada episódio foca em um desastre que poderia causar o fim do mundo pelo olhar de um cientista ignorado e preocupado em informar que o fim está próximo. Todos terminam com Nye sofrendo uma morte constrangedora (à moda do personagem Kenny, de South Park).

Na segunda metade do episódio, ele se recupera para nos mostrar como as tecnologias atuais e as soluções científicas poderiam ajudar a evitar esses destinos. “Temos que investir intelecto e recursos para nos prepararmos”, diz Nye.

Crédito: Peacock/ Divulgação

MacFarlane aparece em cada show como um bombástico “cuja ignorância ou negligência deliberada fez um desastre acontecer”, contou o ator ao pessoal da Comic-Con. No episódio piloto, ele é um congressista que se recusa a emitir alertas de emergência, causando mortes em massa por causa de uma super tempestade induzida pelo aquecimento global.

Mais tarde, um Nye ressuscitado apresenta soluções que incluem zonas úmidas, fazendas de turbinas eólicas marinhas e tecnologias de captura de carbono capazes de mitigar tempestades e resfriar a Terra.

“Tentamos chegar a um resultado que não desencadeasse reações exageradas em algumas pessoas, especialmente nos negacionistas”, disse Braga, que também atua como diretor e showrunner. “O humor é o componente vital. Você quer se divertir assistindo ao programa, mas também não quer menosprezar a gravidade da situação ou a ciência.”

MEDO DO BEM

O programa surgiu de uma ligação pandêmica que MacFarlane fez a Braga tarde da noite sobre o crescente medo opressivo na TV, perguntando: “como poderíamos usar esse medo como uma força para o bem?”

“O medo é uma emoção universal. Ele te agarra pelo pescoço. Então, vamos fazer um programa que te assuste de verdade, mas que depois mostre como a ciência e a engenhosidade podem nos ajudar a superar os piores momentos e deixar você com um sentimento realmente otimista”, diz Braga.

Eles fizeram um brainstorming no quintal de MacFarlane usando alfinetes e blocos de notas e descartando fatos científicos obscuros. “O Katrina foi um furacão de categoria 5, mas você sabia que existem furacões de categoria 6? Até agora, eles só ocorreram em mar aberto, mas e se eles acontecerem em terra?” perguntou Nye. "Isso não seria péssimo?"

Crédito: Peacock/ Divulgação

A produção teve seus próprios desastres naturais. Depois de arremessar Braga para fazer suas acrobacias, Nye conseguiu distender um músculo dando quatro passos rápidos no estúdio com um chroma key verde ao fundo.  

O programa consegue esse equilíbrio precário entre entretenimento e educação, mas o elefante na sala continua. As soluções científicas podem até já existir, mas será que estamos dispostos a adotá-las? Especialmente considerando os obstáculos políticos para aprovar políticas de mudança climática ou para envolver o público em algo tão simples quanto usar máscaras.

Nada disso parece afetar Nye, que mantém o otimismo em seu programa e que encontra esperança no aumento da conscientização das gerações emergentes. “Os jovens não vão tolerar essa falta de ação”, acredita.


SOBRE A AUTORA

Susan Karlin é colaboradora da Fast Company e cobre ciência espacial e veículos autônomos. Já trabalhou para The New York Times, NPR, ... saiba mais