Novo museu do MIT quer desmistificar a complexidade da tecnologia

Em um ambiente acolhedor, o novo Museu do MIT aborda os temas mais impactantes, assustadores e preocupantes da ciência

Crédito: AI: Mind the Gap/ Anna Olivella/ MIT Museum

Nate Berg 4 minutos de leitura

Sentado em uma mesa com a bandeira dos EUA ao fundo, o presidente Richard Nixon se dirige a uma câmera de televisão. É julho de 1969 e o país acabara de tentar pousar uma espaçonave com dois homens na superfície da lua. “Boa noite, meus compatriotas americanos”, diz Nixon em um tom sombrio. “O destino quis que estes homens que foram explorar a lua ficassem na lua para descansar em paz durante toda a eternidade.”

Nesta versão alternativa da história, a missão Apollo falhou. O discurso que Nixon está lendo é real e havia sido escrito para o caso de pouso da NASA falhar, mas o vídeo é um deepfake – uma recriação de Nixon em vídeo desconcertantemente convincente, feita usando inteligência artificial por pesquisadores e artistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts MIT, na sigla em inglês).

Em exibição no recentemente reaberto Museu do MIT, a obra é um exemplo de como a ciência emergente pode se materializar de maneiras imprevistas.

Crédito: Anna Olivella/ MIT Museum

O território atraente – e, às vezes, preocupante – onde as novas tecnologias se cruzam com a sociedade é o tema abrangente do Museu do MIT, que acaba de passar por uma reformulação completa para seu novo espaço especialmente construído em Cambridge.

Com a expansão da sede anterior, ele passou a contar com três andares em uma torre comercial de 17 andares para contar a história do MIT, suas conquistas científicas ao longo dos anos e a forma como suas pesquisas continuam se refletindo no mundo real.

Crédito: Weiss Manfredi/ MIT Museum

“Estamos fazendo perguntas sobre quais são os impactos, quais são as decisões que precisam ser tomadas, como usamos essas tecnologias para melhorar nosso mundo e nossas vidas”, conta Ann Neumann, diretora de exposições e galerias.

Com mais de um milhão de objetos em uma coleção que remonta a 1861, o espaço poderia facilmente parecer abarrotado. Mas Neumann liderou o redesenho, observando que o objetivo era criar uma experiência que usasse a arte para aumentar a acessibilidade a temas que, à primeira vista, podem parecer complexos.

“Acho que entrelaçar a ciência e a arte coloca a ciência no contexto de que ela faz parte de nossa cultura e de nossas vidas, de que não é uma experiência restrita a uma torre de marfim”, diz Neumann.

Crédito: Anna Olivella/ MIT Museum

Ela quer que o museu tire das pessoas a impressão de que o MIT é “nerd demais para elas, elitista demais ou pouco receptivo”. “Nossa missão é ser uma porta aberta para o resto da comunidade.”

Em meia dúzia de galerias, o museu apresenta a rica história do papel do MIT no avanço da ciência e da tecnologia – desde os trabalhos individuais de cientistas vencedores do Prêmio Nobel até os modelos físicos usados ​​em salas de aula e laboratórios. Com design de exposição do Studio Joseph e experiências interativas criadas pela Bluecadet, o museu também expõe os visitantes a tópicos emergentes, como edição de genes e inteligência artificial.

A galeria de inteligência artificial é um destaque. Além do vídeo deepfake de Nixon, ela oferece uma janela interativa sobre como a tecnologia funciona, convidando o visitante a colaborar com uma IA para escrever um poema. “Estávamos realmente tentando promover essas experiências em que você aprende fazendo”, resume Katie Savage, diretora criativa da Bluecadet.

Poesia colaborativa (Crédito: Anna Olivella/ MIT Museum)

As exposições também integram muito vídeo, abraçando o lado dinâmico das experiências e descobertas científicas. ““Neste museu, dá para aprender muito sem necessariamente ler as legendas. Você consegue ver como as coisas funcionam”, diz Wendy Joseph, do Studio Joseph.

“Baleia”, de Andy Cavatorta, faz parte da exposição “In Concert:Ganson & Cavatorta” (Crédito: MIT Museum)

Esse pensamento foi aplicado desde as galerias individuais até o andar principal do museu, que visa tornar difusas as fronteiras entre a universidade e a comunidade do entorno. Instalado nos três primeiros andares de um novo prédio, o térreo do museu é aberto ao público.

Há um café e uma grande escadaria que funcionam como um espaço de encontro fora do horário comercial e um local para eventos. “É um fórum público vivo, no coração do museu”, diz Neumann.

Crédito: John Horner/ Höweler + Yoon Architecture/ MIT Museum

Criar um espaço que pareça aberto e que contrarie o estereótipo do MIT como um terreno reservado para supergênios é parte integrante da missão do museu.

“É importante ser um lugar onde a comunidade possa fazer parte da conversa e do processo de tomada de decisão sobre como essas tecnologias que estão mudando nosso mundo estão sendo implementadas”, diz Neumann.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais