O futuro da indústria da música está no seu passado: videoclipes

Videoclipes são uma forma única de se conectar com artistas e ainda têm um enorme potencial a ser explorado

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Joe Berkowitz 4 minutos de leitura

“O vídeo matou a estrela do rádio”, como anunciou o primeiro videoclipe transmitido na MTV norte-americana. E agora o TikTok e os serviços de streaming parecem ter matado os videoclipes. Pelo menos por enquanto.

Para deixar claro, eles não estão exatamente mortos. A grande maioria dos singles de sucesso em 2024 ainda vem acompanhada de um clipe. Esses vídeos circulam no TikTok em trechos de 15 segundos e alguns até se tornam marcos temporais compartilhados amplamente.

No entanto, esses momentos são raros e passageiros se comparados à era de ouro dos videoclipes, nos anos 1990. Hoje, é comum que um hit como “Flowers”, da Miley Cyrus, acumule 1,8 bilhão de reproduções no Spotify em um ano, mas atinja apenas 720 milhões de visualizações no YouTube no mesmo período.

“Descobrir uma música através de um videoclipe é uma experiência muito mais intensa do que apenas ouvi-la no Spotify”

As músicas agora encontram seus fãs de diversas maneiras, e os videoclipes muitas vezes parecem ser um item quase dispensável na longa lista do que fazer ao lançar um novo álbum. Mas talvez seja a hora de eles voltarem a ser mais do que apenas um complemento. Talvez uma geração de fãs de música esteja pronta para um retorno cultural dos videoclipes – mesmo que ainda não se dê conta disso.

“Descobrir uma música através de um videoclipe é uma experiência muito mais intensa do que apenas ouvi-la no Spotify”, afirma Eric Weiner, fundador da agência criativa musical The Wild Honey Pie. “A conexão que você cria com o artista, sua arte e personalidade é completamente diferente quando há um componente visual com estilo e narrativa.”

O QUE OS VIDEOCLIPES JÁ FORAM

É difícil explicar a um estudante universitário de hoje o quanto os videoclipes dominaram a cultura nas décadas de 80 e 90. Milhões de pessoas ligavam suas TVs diariamente para acompanhar as mudanças nos rankings de popularidade e tinham opiniões fortes sobre quem levaria os prêmios no Video Music Awards.

Naquela época, não eram apenas adolescentes que assistiam a videoclipes. Havia tantos adultos prestando atenção que Hollywood não teve escolha a não ser fazer o mesmo. Diretores como David Fincher, F. Gary Gray e Spike Jonze começaram suas carreiras dirigindo clipes antes de alcançarem sucesso no cinema.

O declínio do videoclipe começou após a transmissão do VMA de 2001, no qual Britney Spears se apresentou dançando com uma cobra

Não está claro exatamente quando os videoclipes começaram a perder seu encanto. Certamente, isso não aconteceu da noite para o dia. O que podemos dizer é que o declínio começou após a transmissão do VMA de 2001, no qual Britney Spears se apresentou dançando com uma cobra sobre os ombros.

Nos anos seguintes, a indústria da música viu uma queda nas vendas de CDs, enquanto surgiam serviços de compartilhamento de arquivos, como o Napster. Com menos dinheiro, as gravadoras passaram a investir menos em clipes; ao mesmo tempo, quanto mais músicas os fãs descobriam em serviços de streaming como o Pandora, menos viam a necessidade de um vídeo para acompanhá-las.

Britney Spears durante o VMA de 2001

De acordo com Weiner, a MTV norte-americana perdeu relevância por volta de 2008, quando cancelou seu principal programa de videoclipes, o “Total Request Live”. Ele sabe bem do que está falando, já que trabalhou como coordenador de música na emissora de 2011 a 2013, selecionando e licenciando faixas para vários programas.

“A MTV errou ao não inovar”, diz Weiner. “Eles encontraram uma mina de ouro nos reality shows e não pensaram em criar uma plataforma de streaming de música ou videoclipes. Quando finalmente tentaram, já era tarde demais.”

O QUE OS VIDEOCLIPES AINDA PODEM SER

O que poderia trazer os clipes de volta seria aumentar o financiamento. As gravadoras têm investido cada vez menos neles com o sucesso do streaming. Segundo Weiner, elas frequentemente procuram a The Wild Honey Pie para fazer videoclipes com um orçamento de US$ 5 mil. Embora seja possível criar um ótimo vídeo com esse valor, é uma limitação. É aí que as marcas podem entrar em cena.

Videoclipes são mídias ideais para parcerias sutis com marcas. Eles não precisam parecer comerciais ou como se estivessem exibindo anúncios gigantes durante os shows ao vivo do artista. A banda OK Go, por exemplo, ficou conhecida por seus vídeos criativos e encontrou maneiras inteligentes de fazer acordos de patrocínio sem torná-los óbvios.

Videoclipe da banda OK Go criado com gravidade zero

Alguns artistas promissores não têm problemas para financiar seus clipes; o que eles precisam é de uma curadoria melhor para chamar a atenção. Weiner acredita que os principais serviços de streaming poderiam trazer os últimos resquícios do jornalismo musical para ajudar nessa tarefa. Ele vê na Apple Music e no Spotify uma nova oportunidade para blogs de música conectarem fãs com seus novos artistas favoritos – e para melhorar a curadoria de outras formas.

No mínimo, poderiam adicionar às suas plataformas um ranking bem divulgado e de fácil acesso dos clipes mais populares em determinado momento. Isso poderia ajudar a promover os inúmeros videoclipes inexplorados para os usuários. Às vezes, as pessoas simplesmente não sabem o que querem até descobrir que existe.

Mesmo que seja algo de mais de 40 anos atrás.


SOBRE O AUTOR

Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais