O ilustrador que consegue explicar os trabalhos ganhadores do Prêmio Nobel

Johan Jarnestad traduz conceitos extremamente complicados em ilustrações fáceis de entender

Crédito: Johan Jarnestad/ The Royal Swedish Academy of Sciences

Elissaveta M. Brandon 4 minutos de leitura

Todos os anos, seis comitês se reúnem para selecionar os ganhadores do Prêmio Nobel em seis categorias. O processo de seleção é envolto em sigilo, mas sabe-se que dura meses. Cada categoria é, basicamente, coordenada por um grupo que, em seguida, consulta milhares de outros professores e ganhadores do prêmio para, finalmente, escolher o vencedor.

Em algum momento no final desse processo, outras quatro pessoas são incluídas: um escritor, um tradutor, um líder de projeto e um ilustrador. Nos últimos 13 anos, o ilustrador escolhido tem sido o mesmo. Ele se chama Johan Jarnestad e seu trabalho é traduzir conceitos complicados, que os cientistas passaram décadas pesquisando, em imagens de fácil compreensão para o público em geral. O grande objetivo? Tornar a ciência mais acessível.

Ao longo dos anos, Jarnestad ilustrou incríveis 39 prêmios Nobel, tendo criado mais de uma representação visual por laureado. A maioria dessas ilustrações é usada em comunicados para a imprensa, bem como em artigos destinados ao público em geral. Jarenstad conta que, às vezes, os laureados acabam adotando as suas ilustrações nas palestras que eles próprios dão, o que é sempre gratificante.

Crédito: Johan Jarnestad/ The Royal Swedish Academy of Sciences

No mês passado, Jarnestad criou quatro ilustrações relacionadas à economista norte-americana Claudia Goldin, que recebeu o Prêmio Nobel de Economia por ter contribuído para a compreensão dos avanços das mulheres no mercado de trabalho. 

Em uma delas, Jarnestad ilustrou como as escolhas de carreira das mulheres são influenciadas pelas expectativas que elas carregam, com uma imagem de três gerações diferentes de mulheres em um mesmo caminho: as duas primeiras estão segurando bebês e olhando para trás, para suas mães; a última está olhando para trás, mas também dando um passo à frente com uma pilha de livros na mão. Uma placa no final da estrada tem duas setas, indicando duas direções opostas: "expectativas" apontando para trás; "oportunidades" apontando para frente.

A ilustração é simples, mas cristaliza um padrão muito mais complexo identificado por Goldin: no século 20, a diferença de ganhos entre homens e mulheres quase não diminuiu, o que a economista atribuiu ao fato de que as mulheres decidiam o quanto (e com que afinco) iriam estudar com base no que suas mães estavam fazendo.

Crédito: Johan Jarnestad/ The Royal Swedish Academy of Sciences

Ao longo de seus 25 anos de carreira, as ilustrações e infográficos de Jarnestad foram publicados em revistas científicas de prestígio, como "Nature", "Science" e a revista científica popular sueca "Forskning & Framsteg".

Com os projetos do Prêmio Nobel, o resultado sempre varia, mas o processo é mais ou menos o mesmo: Jarnestad participa de reuniões com o respectivo comitê, onde desenha e ouve ao mesmo tempo. Sempre que não entende determinado conceito, ele faz perguntas. Muitas perguntas. 

"Preciso aceitar o fato de que não tenho o mesmo conhecimento que essas pessoas têm", diz ele, "mas, ao mesmo tempo, é um ambiente perfeito para trabalhar, porque essas pessoas dão palestras; elas se sentem muito à vontade para transmitir informações".

Durante todo o processo, ele segue seus próprios critérios para as ilustrações: Está correta? É compreensível para alguém que não tem acesso ao tipo de informação que ele teve? Está bonita? "Esse é o meu mantra", diz ele.

Crédito: Johan Jarnestad/ The Royal Swedish Academy of Sciences

As ilustrações têm sido um componente essencial da estratégia da Real Academia Sueca de Ciências. Karl Grandin é o diretor do Centro de História da Ciência, um dos institutos de pesquisa da Academia. Publicar um periódico foi a primeira decisão que a entidade tomou quando foi fundada, em 1739.

As primeiras cópias desse periódico mostram ilustrações detalhadas de plantas, borboletas e vários conceitos de física. Os conceitos científicos da época podem não ser tão técnicos como os de hoje, mas a intenção por trás das ilustrações era a mesma de agora.

O que nos leva a outro tipo de trabalho do portfólio de Jarnestad: as ilustrações para mídias sociais. Para o prêmio de Goldin, Jarnestad ilustrou a economista usando um chapéu de detetive e empunhando uma lupa em frente a um arquivo, com um leal golden retriever ao seu lado. Foi um toque pessoal, porque Jarnestad soube que a economista tem um vão dessa raça chamado Pika.

Crédito: Johan Jarnestad/ The Royal Swedish Academy of Sciences

A estratégia de mídia social da Academia é bastante recente, tem apenas quatro anos. "Não é preciso explicar tudo, mas é preciso chamar a atenção e despertar o interesse", diz Sara Rylander, diretora de comunicação da entidade, que aprova as ilustrações junto com o comitê do Nobel.

Nesse sentido, ilustrações como as de Jarnestad são uma ferramenta de comunicação crucial nos esforços da Academia não apenas para promover, mas também democratizar a ciência. Como disse Rylander: "as ilustrações não se sustentam sozinhas, mas o texto também não funcionaria sem elas."


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais