O robô que recupera o que Google, Apple e Amazon deixaram para trás

Basicamente, a humanidade

Crédito: Argodesign

Mark Wilson 4 minutos de leitura

É a coisa mais fofa do mundo.

Você pode deixar o Wink parado em cima de uma mesa, quietinho. Mas basta olhar para o robozinho que ele ganha vida e te olha de volta, atento como um cão fiel. Se você pedir "Wink, pode acender a luz?" e apontar para uma lâmpada da sala, ele vai girar na direção dessa luz, dar uma piscadinha e... pronto, ela acenderá!

À primeira vista, isso tudo pode parecer um truque tecnológico. Mas, na verdade, trata-se de um conceito de robô funcional bem pensado pela Argodesign. Embora as tecnologias da Apple, do Google e da Amazon tenham aprendido a entender nossa fala e a interagir por meio de todos os tipos de alto-falantes inteligentes – como quando fazemos pesquisas ou consultas –, as conversas ainda soam lentas e artificiais.

Os assistentes de voz simplesmente não são tão satisfatórios quanto deveriam ser. E o robô Wink parece realçar o quanto diversas nuances comunicativas são perdidas com esses assistentes mais comuns.

  

Crédito: Argodesign

Geralmente, a voz amorfa e robótica da Siri ou da Alexa repete tudo o que dissemos e ainda avisa em voz alta o que vão fazer a seguir, só porque precisam confirmar que entenderam – o tipo de coisa que, na comunicação da vida real entre humanos, seria facilmente resolvida com um simples olhar ou gesto de confirmação com a cabeça.   

“Todos os seres com quem interagimos na vida e aos quais reagimos têm um rosto. Isso influencia nossa disposição de nos envolver com eles”, diz Mark Rolston, fundador da Argodesign. “Não tenho vontade conversar com algo que não tem uma 'cara'. Fico sem saber para onde direcionar as minhas energias.”

No entanto, não basta adicionar um rosto humanizado a um robô para que as pessoas o achem simpático. Às vezes, robôs com traços humanos podem até parecer assustadores ou esquisitos, como neste caso.

“Atribuir dois olhos e um rosto… nem sempre dá certo”, diz Guus Baggermans, designer principal da Argodesign. “Quando alguém trabalha com um robô na prática, é a maneira como eles se movem que faz a gente sentir que eles são acessíveis, seguros e amigáveis.”

Crédito: Argodesign

Baggermans desenvolveu o design industrial do Wink recorrendo a uma quantidade mínima de antropomorfismo e mesmo de acabamentos. Em vez disso, definiu sua acessibilidade por meio dos movimentos. Ele só tem um olho – com aquela pálpebra piscando, inspirada no protagonista robô do filme "Curto-Circuito" (Johnny Five), de 1986.

Em termos de rosto, é só isso. Enquanto está desligado nas mãos de Baggerman, o Wink parece até um pau de selfie. Mas quando o robozinho acorda, ativado pelo olhar de uma pessoa, seus movimentos convidam à conversa.

Essa simpatia traz muitos benefícios práticos. Primeiro, porque o Wink não reage do nada a uma palavra-gatilho, como a Siri, e nunca começa a funcionar sozinho, sem que você faça contato visual. Em segundo lugar, o Wink não apenas enxerga você; ele também consegue enxergar objetos e triangular seu olhar para entender sobre o que você está falando.

Isso significa que você pode pedir ao Wink para enviar informações para um telefone em sua mão ou ligar/ desligar uma luz específica em casa só olhando na direção dela.

Crédito: Argodesign

Por conta de seus gestos e movimentos, o Wink não precisa de luzes que brilham em vermelho ou verde, ou de outras abstrações mecânicas do comportamento humano, para demonstrar se está ouvindo ou não. Nem precisa falar nada para confirmar que ouviu corretamente o que você disse. Ele só precisa piscar, olhar e acenar com a cabeça.

 Sendo realistas, é provável que esses gestos e movimentos acabem caindo nas mãos de uma empresa como a Amazon, que não demonstrou o melhor histórico de privacidade do usuário com a Alexa ou com o Ring. Mas imagine o potencial dessa tecnologia nas mãos de uma organização mais altruísta e auditável.

O Wink já é bem bacana, mas ainda pode ser aprimorado: a Argodesign está trabalhando com a Apptronic em um robô totalmente humanoide, em um projeto financiado pela NASA. Mas, embora tenha desenvolvido um protótipo funcional, seria necessário haver interesse externo e investimento para trazê-lo ao mercado.

A empresa acredita que poderia operar na plataforma de casas inteligentes Matter, e tem feito simulações de como o Wink ficaria com mais ajustes e acabamentos (ficaria mais parecido como uma garrafa térmica ou com um moedor de pimenta automático, em vez de lembrar um pau de selfie).

Mas, mesmo que esse projeto não vá para frente, o Wink nos serve como um lembrete do que estamos perdendo na era dos assistentes de voz com áudio: ou seja, a humanidade.


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais