O segredo dos vestidos mais tecnológicos da alta costura

O estilista Cameron Hughes combina robótica e engenharia para criar roupas tecnológicas para clientes famosos

Crédito: Cameron Hughes

Jude Cramer 4 minutos de leitura

Os designs criados por Cameron Hughes se movimentam como se tivessem vida própria. Em um vestido, penas roxas se erguem e abaixam como as de um pássaro. Em outro, uma nuvem de borboletas robóticas bate suas asas.

Além destes, outro chama atenção: uma saia com tubos giratórios que mudam a cor da peça de rosa para azul e vice-versa. O estilista nova-iorquino de 29 anos cria vestidos de alta costura com uma boa dose de tecnologia. E suas criações já caíram na graça de celebridades como Doja Cat, Charli XCX e Gigi Hadid.

@cameronhughes It’s finally done here’s how I assembled it. #fashionindustry #kineticsculpture #fashiontech ♬ Forever - Labrinth
@cameronhughes The dress is finished. #metgala #fashion #magic ♬ Alice in Wonderland - Joanna Wang

Toda essa originalidade é posta em prática através de técnicas próprias que Hughes desenvolveu, trazendo elementos de design industrial e engenharia da computação para o mundo da moda. “Desenvolvi do zero as técnicas que usei em vários deles”, conta o estilista. “É um processo de tentativa e erro, com muita experimentação. Leva muito, muito tempo para que a ideia funcione.” 

Hughes nunca estudou formalmente moda ou robótica. Ele cursou escultura na Universidade de Syracuse, em Nova York, e só depois de abandonar a faculdade e começar a trabalhar como designer de produtos descobriu seu talento para combinar tecnologia e alta costura.

“Eu aprendi sozinho praticamente tudo o que sei”, diz ele. “Quando quero fazer algo, descubro como fazê-lo.”

O projeto atual do estilista, por enquanto apelidado de “vestido de pétalas”, lembra uma saia de balé futurista. “Pétalas” controladas por motores e cobertas com um tecido azul-petróleo brilhante se movem para cima, para baixo e para os lados, como um tutu da mais alta tecnologia, criando um movimento hipnotizante. Hughes começou a trabalhar no projeto na metade do ano passado e agora, finalmente, está quase concluído.

@cameronhughes Finally a fully programmed dress movement. #fashiontech #sewing #fashion #robotics ♬ Happy - DJ Keblinger$

O vestido conta com os mesmos motores usados originalmente em uma peça criada por ele para a cantora Charli XCX, que aparece no videoclipe de “Used To Know Me”. No vídeo, uma crista de penas se movimenta para frente e para trás ao redor do pescoço da artista.

Para conceber o design, ele se baseou em diversas referências, como o icônico vestido “Birth of Venus”, do estilista Thierry Mugler (usado pela rapper Cardi B no Grammy de 2019) e o “Living Dress”, que fez parte do figurino da segunda turnê mundial de Lady Gaga, a “Monster Ball Tour”.

Figurino do videoclipe "Used to Know Me", de Charli XCX (Crédito: YouTube)

Criar um conceito inovador é uma coisa. Executá-lo é outra bem diferente. “É aí que minha experiência com design industrial entra em jogo”, diz ele. Seus designs geralmente são construídos a partir do movimento que ele está tentando criar, e não da aparência final das roupas, o que significa que primeiro precisa encontrar a combinação certa de motores e programação para dar vida à sua ideia.

O próximo passo é encontrar uma forma de disfarçar e integrar todo o aparato robótico à roupa. Para isso, Hughes precisou dominar a arte de esconder os servomotores. Para o vestido de pétalas, ele imprimiu em 3D, lixou e repintou dobradiças e, em seguida, moldou-as cuidadosamente no manequim para acentuar a cintura, em vez de roubar a atenção. “Passei muito tempo fazendo com que ficassem o menor possível para que não aparecessem e, depois, com que contribuíssem para a silhueta do vestido”, conta Hughes. “Isso por si só já é uma obra de arte.”

Apesar da escala do desafio, o estilista faz tudo sozinho. “Cada ponto, cada linha de código, tudo sou eu quem faz”, diz ele. “É por isso que demorei cinco meses para fazer o vestido [de pétalas].”

Ele produz todas as suas criações em seu estúdio – algo que gostaria de mudar no futuro, conforme sua marca se torna mais conhecida.

“Meu objetivo era criar coisas malucas que ninguém jamais havia feito”, afirma Hughes. “Mas acho que é hora de criar peças que sejam mais fabricáveis, mais usáveis e ver o que posso fazer com isso.”

Embora diga que adoraria criar uma coleção completa de alta costura algum dia e apresentá-la em um desfile igualmente surpreendente, seu objetivo de longo prazo é montar uma empresa de engenharia ligada à sua marca e entrar no setor de varejo com um modelo de fabricação inovador, como tecnologia de tecelagem 3D, juntamente com novas técnicas, como confecção automatizada de roupas, que ainda não existem. (Ele espera inventar algumas delas.)

Até lá, Hughes continuará testando os limites do design, misturando costura, codificação e engenharia. “Tudo isso é arte, apenas em um meio diferente”, diz ele. “Trata-se de descobrir como manipular certas coisas com um corpo em mente, em vez de um objeto.”


SOBRE O AUTOR