O símbolo de tudo o que há de errado com a Tesla
O uso de materiais ruins no volante do Model S é o mais recente de uma lista problemas nos automóveis do fabricante
O volante esquisito do Tesla Model S é ainda pior do que todos esperavam. Este meio volante foi lançado em 2021 no Model S, que custa a partir de US$ 95 mil. Não apenas o design tornou o veículo extremamente difícil dirigir em qualquer tipo de manobra em baixa velocidade, como agora o volante de algumas unidades está literalmente caindo aos pedaços depois de menos de 20 mil quilômetros rodados.
O volante é uma metáfora perfeita para tudo o que há de errado na Tesla: carros de luxo construídos com métodos e materiais muitas vezes medíocres, para dizer o mínimo.
O VOLANTE DO MODEL S É UMA PIADA
Embora a Lexus use um design semelhante, esse formato de volante é quase universalmente odiado por motoristas e críticos – tanto que, na verdade, ele gerou um mercado paralelo de substituições.
Rapidamente, surgiu um fluxo de postagens nas redes sociais destacando a má qualidade desse meio volante. Como relata o The Drive, tudo começou com o proprietário de um Tesla Model S Long Range (que custa a partir de US$ 115 mil), que viu seu volante começar a se desintegrar na marca de 38 mil quilômetros.
Um influenciador do TikTok e dono de um Model S Plaid (a partir de US$ 170 mil) postou uma foto de um pedaço de material solto após 20 mil quilômetros. Então, “dois quilômetros adiante”, postou outra foto mostrando que a situação “já tinha piorado”.
GARANTIA DE MÁ QUALIDADE
Como o jornalista automotivo Lewin Day apontou em seu artigo no The Drive, “a verdade fundamental é que a maioria das montadoras encontrou maneiras de criar acabamentos de volante que duram 160 mil quilômetros ou mais sem degradação excessiva”.
Day também observa, corretamente, que “a maioria das pessoas espera poder viver suas vidas normalmente, sem que seus carros sofram desgaste excessivo por causa de atividades básicas” como suar, usar álcool gel para desinfetar as mãos ou derramar café ou refrigerante.
Mas a coisa vai muito além do volante. O fato é que a internet está repleta de vídeos, tuítes e artigos sobre a má qualidade da construção e dos materiais dos carros da Tesla, não importa o modelo.
De um motorista que descobriu que o sistema de refrigeração do Modelo Y havia sido montado com madeira falsa até relatos de portas que não fecham, da ausência de porcas na suspensão dianteira e de parafusos faltando, o caminho para o sucesso da Tesla está aparentemente repleto de falhas na garantia de qualidade.
Milhares de problemas são postados nos quadros da National Highway Traffic Safety Administration (Administração Nacional de Segurança no Trânsito Rodoviário dos EUA). Mas a qualidade medíocre, ou simplesmente ruim, que esses carros apresentam pode ser resumida em vídeos de consumidores insatisfeitos, como os que ilustram este texto.
O uso de componentes de baixa qualidade, como no volante, é particularmente surpreendente para uma montadora que vende carros com preços comparáveis aos da Porsche. O consumidor também encontrará problemas de controle de qualidade nas telas touchscreen.
A Tesla teve, inclusive, que lidar com um processo de ação coletiva sobre telas defeituosas, que pareciam ter funcionado mal porque não foram feitas para suportar as oscilações de temperatura comuns no interior de um carro.
Esse exemplo da tela touchscreen é especialmente preocupante, porque o aparente desrespeito da empresa pela qualidade pode afetar a segurança do motorista. De fato, autoridades federais norte-americanas pediram à Tesla que instituísse padrões de segurança mais rígidos no piloto automático no início de 2021. Mas foram ignoradas.
O VOLANTE COMO METÁFORA
Se você acha que as reclamações são coisas de meia dúzia de chorões da internet e que as autoridades federais estão sendo excessivamente zelosas ou tentando destruir a reputação de Elon Musk, lembre-se de que a Tesla ficou em penúltimo lugar na pesquisa de confiabilidade de carros de 2021 da Consumer Reports.
Para pintar um cenário completo do quão pouco confiável um Tesla pode ser, um amigo que tem um Model 3 há quatro anos acabou de compartilhar um histórico completo dos consertos necessários desde a compra do carro novo: um ajuste de assento quebrado, três trocas de computador de bordo, duas trocas de bateria de 12 volts, dois incidentes de falha no sistema de áudio, uma janela que não abriu após um reparo não relacionado a ela, uma câmera quebrada na cabine, um porta-malas que não fechou corretamente, uma troca de filtro CA devido ao cheiro de mofo e, o pior de tudo: três vezes o carro desligou sem motivo no meio do caminho.
Ah, e o cinto de segurança foi reinstalado incorretamente duas vezes após outro conserto. Ou seja: os problemas geram mais problemas.
No fim das contas, parece que temos a metáfora perfeita para os problemas de qualidade da Tesla e a visão errática de seu fundador: má direção e promessas não cumpridas. Elon Musk promete entregar o primeiro carro completamente autônomo do mundo, mas ainda está descobrindo como fabricar um volante.