Pandora cria joias com ouro e prata reciclados e diamantes de laboratório

A joalheria quer mostrar que há demanda por metais reciclados, embora sejam mais caros do que os novos

Crédito: Pandora/ Divulgação

Adele Peters 4 minutos de leitura

Os diamantes, a prata e o ouro da nova coleção de joias da Pandora, a maior produtora de joias do mundo, são fisicamente idênticos às pedras e metais vindos das minas. Mas esses diamantes foram cultivados em um laboratório com energia renovável, e todo o ouro e prata são reciclados.

A mudança faz parte da meta empresa de se tornar um modelo de negócio de baixo carbono. “Se analisarmos as emissões de CO2 da empresa, percebemos que a maioria que sai de dentro de nossas quatro paredes está ligada à produção”, diz Alexander Lacik, CEO da joalheria, com sede em Copenhague. “Por isso, nós dissemos: ‘ok, precisamos rever a nossa produção’.”

A empresa compra centenas de toneladas de prata a cada ano, e a equipe sabia que o uso de prata reciclada tem apenas uma fração do impacto ambiental do metal recém-extraído. Dentro de sua própria unidade de produção, a Pandora já estava adquirindo metais reciclados. Mas cerca de 30% dos componentes vêm de outros fornecedores.

Em 2020, a empresa prometeu que até 2025 vai usar apenas prata e ouro reciclados em todas as suas joias, incluindo nas

bilhões de dólares em metais preciosos são jogados fora todo ano em telefones, computadores e outros eletrônicos.

peças de fontes externas. A nova coleção, com 33 itens, é a primeira da empresa a utilizar metais 100% reciclados. A transição “não será tão fácil porque é preciso modificar toda a cadeia de valor”, admite Lacik.

Os refinadores de prata teriam que investir em novos equipamentos e precisam estar convencidos de que o investimento vale a pena. A Pandora, por sua vez, precisa de certificação de que a prata foi realmente reciclada.

Os fornecedores de peças precisam ajustar seus próprios processos para incorporar o material reciclado. E a oferta de prata reciclada precisa aumentar (geralmente, o ouro é mais reciclado, pois é mais valioso).

No momento, a maioria da prata reciclada vem das indústrias, incluindo a produção química e eletrônica. Mas muito mais poderia vir da coleta de peças e de aparelhos antigos. Atualmente, bilhões de dólares em metais preciosos são jogados fora todo ano em telefones, computadores e outros resíduos eletrônicos.

Crédito: Pandora/ Divulgação

A Pandora pretende espalhar a mensagem de que há demanda por prata e ouro reciclados, embora sejam mais caros do que o metal extraído. “Estamos tentando fazer disso um grande negócio, para que mais pessoas sigam esse caminho”, diz Lacik. Isso inclui outros fabricantes de joias e grandes usuários de metais preciosos, incluindo marcas de eletrônicos.

A empresa também quer incentivar a indústria a usar diamantes cultivados em laboratório. Em 2021, a Pandora anunciou que não usaria mais diamantes extraídos e que estava mudando exclusivamente para os cultivados artificialmente.

Se um diamante é cultivado, lapidado e polido com energia renovável, a pegada de carbono é 95% menor do que a dos extraídos. Além disso, os cultivados em laboratório evitam outros desafios éticos da mineração, incluindo o trabalho infantil. E, como os diamantes são carbono puro, o produto final é idêntico.

Crédito: Pandora/ Divulgação

“O resultado final é exatamente o mesmo, mas o caminho para chegar lá é diferente”, resume Lacik. “O caminho para um diamante extraído é de dois milhões de anos sob pressão e calor, enquanto para um diamante criado em laboratório é de algumas semanas.”

Dentro de uma máquina, o grão de diamante é bombardeado com átomos de carbono e, eventualmente, eles se ligam e criam uma pedra. Depois, a pedra é cortada e polida do mesmo modo que seria feito com um diamante extraído de mineração.

Crédito: Pandora/ Divulgação

A Pandora calculou que, se toda a indústria de diamantes deixar de lado a mineração, a sociedade deixará de emitir seis milhões de toneladas de carbono por ano. Isso é o equivalente a trocar todos os carros da cidade de Nova York por veículos elétricos.

É claro que a indústria como um todo não mudará de uma hora para a outra. A poderosa história de marketing que liga os diamantes ao conceito de amor eterno significa que ainda há demanda por pedras “reais”. Mas a Pandora não tem como alvo principal o mercado de noivado ou de bodas, e sim mulheres que desejam comprar joias com diamantes a um preço mais baixo.

“Vou conseguir converter todo o mercado de diamantes? Eu até gostaria de ser capaz de fazer isso, mas preciso ser realista”, diz Lacik. “Porém, sendo quem somos, podemos pelo menos colocar o assunto em pauta. Podemos apontar o caminho para a indústria.”


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais