Parintins é o convite para re-nortear o olhar sobre criatividade e inovação

Este será o maior festival de Parintins de todos os tempos. A expectativa de público passa de 100 mil pessoas

Crédito: Michael Dantas/ SEC-AM

Babi Bono 4 minutos de leitura

Começo o ano tentando planejar quais são os eventos para onde quero ir, cobrir, saber o que está rolando. Trabalho com cultura, comportamento, inovação, criando estratégias e  desenvolvendo projetos que toquem as pessoas.

Ou seja, o radar precisa estar ligado para além do que nos parece comum. Sair da bolha dos algoritmos é para a vida, ou nossa criatividade fica engessada dentro das mesmas referências.

Já faz uns anos que trago algumas questões sobre a necessidade urgente da indústria criativa “re-nortear” o pensamento – e aqui falo pela perspectiva de beber sempre de fontes onde o tal “Norte Global” pauta as conversas de futuro, enquanto a ancestralidade de futuros possíveis está direcionada em vozes muitas vezes silenciadas além do eixo Rio-São Paulo.

Quais são as ações concretas que podem pautar futuros, principalmente no que diz respeito à tecnologia e inovação?

Hoje, meu convite é para a gente nortear o olhar, sim, mas a partir do eixo brasileiro. Nosso Norte. Há 3 anos seguidos vou para a Amazônia trabalhar e, desde então, esse processo só reforça o que venho falando sobre o Brasil (principalmente suas periferias) ser celeiro do mundo para pautar as transformações urgentes que precisamos nos negócios, nas narrativas, na tal agenda 2030. Estamos sem tempo, irmão. Literalmente.

Daniel Munduruku (Crédito: Reprodução/ Facebook)

Daniel Munduruku diria que o tempo da natureza tem todas as respostas. Ano passado, tive a honra de entrevistá-lo na Glocal Amazônia e uma fala me marcou.

“No Ocidente, nossa realização está colocada em um tempo que não temos (futuro?) e educamos nossas crianças para isso. Depois ficamos nos perguntando onde foi que erramos. Precisamos considerar nossas crianças sujeitos do presente. Não fazemos essa pergunta para uma criança indígena porque sabemos a resposta. Ela não vai ser nada. Ela já é tudo que precisa ser. Não faz sentido fazer essa pergunta a uma criança se não oferecemos para ela o hoje, o presente”.

ENTENDE AGORA POR QUE PARINTINS?

Uma galera ainda nem desfez a mala voltando de Cannes e, por aqui, organizo a rede e a mochila para viver meu primeiro festival de Parintins (que acontece nesta sexta e sábado, dias 28 e 29 de junho). Ser o maior festival folclórico a céu  aberto do mundo já deveria ser motivo suficiente para os olhos do Brasil estarem aqui. Acontecer em numa ilha, no coração da maior floresta do planeta, também.

Se juntar a parte das lendas enquanto narrativa, das conversas sobre paixão e consumo – que fazem até as marcas deixarem seus protocolos de lado e assumir o vermelho e azul, cores dos Bois protagonistas da festa, como suas – fora toda conversa urgente sobre a pauta do clima, o aprendizado em termos de articulação coletiva, moda e comportamento, e inovação tecnológica, claro, estamos falando de profissionais que hoje trabalham no carnaval do Rio e de São Paulo, que criam para grandes marcas globais, que desenvolvem biotecnologia de ponta para o mundo. 

Crédito: Amazon Best

Este será o maior festival de Parintins de todos os tempos. A expectativa de público para este ano é de 130 mil pessoas. A cobertura pelas redes sociais já é a maior da história, um nível de engajamento altíssimo.

A inovação que é endereçada dentro da nossa casa vem de forma ancestral. Imagina se a gente bebesse dessa fonte. Será que não é aqui que os olhos do mundo deveriam estar quando falamos de inovação e futuro?

O tapete vermelho de alguns festivais do outro lado do oceano pode ser bem sedutor. Mas é aqui que o “case”, como os publicitários gostam de dizer, acontece de forma real, em um tapete vermelho e azul que eterniza impacto e legado. 

Quais são as ações concretas que podem pautar futuros, principalmente no que diz respeito à tecnologia e inovação?

Nos próximos dias, vou trazer um pouco dessa vivência, dos encontros, das pessoas. O lado B pela minha perspectiva da narrativa, das marcas, da inovação, das pessoas. E não estou sozinha: o ativista climático Marcelo Rocha também traz uma perspectiva diferente sobre tudo o que vamos ver por aqui. 

Escrevo essas linhas no meio do Rio Negro, encarando 18h de barco, com Wi-Fi via satélite. Esse, por si só, já é um ponto de inovação replicável para outras localidades remotas, veja só.

Para acompanhar coberturas oficiais, indico seguir o perfil dos Bois Garantido e Caprichoso e alguns influenciadores que estão fazendo conteúdos incríveis nas redes sociais: @vito @zenarede @praiaderio @amandamonteiro @zekpicoteiro @igorariasmusicais 

No mais, Parintins é o Norte pautando criatividade e inovação para o país inteiro. Por aqui, pretendo ser ponte para essa troca criativa. 

Bora? 

Com a colaboração de Marcelo Rocha.


SOBRE A AUTORA

Babi Bono é criativista, CCO e fundadora da @lemme.cria, consultoria de inovação e metodologia criativa que desenha soluções de comuni... saiba mais