Pesquisadores testaram a criatividade da IA. E ela passou com louvor

A inteligência artificial ficou entre os melhores no teste de originalidade de ideias, superando 99% dos participantes

Crédito: Koto Feja/ iStock

Erik Guzik 3 minutos de leitura

Das várias facetas do intelecto humano que se poderia esperar que a inteligência artificial emulasse, poucas pessoas colocariam a criatividade no topo da lista. Esta é uma habilidade incrivelmente misteriosa – e frustrantemente efêmera. Ela nos define como seres humanos e, aparentemente, desafia a lógica fria por trás da artificialidade das máquinas.

No entanto, a IA está sendo cada vez mais utilizada em tarefas que envolvem criatividade. Novas ferramentas como DALL-E e Midjourney estão se tornando parte da produção criativa. E o impacto disso é tanto social quanto econômico – para citar um exemplo, este é um ponto central na greve dos roteiristas de Hollywood.

modelos de IA como o GPT-4 são capazes de gerar ideias que as pessoas consideram inesperadas, novas e únicas.

Se o nosso recente estudo sobre a surpreendente originalidade da IA servir de indicativo, sua aplicação para a criatividade – junto com todas as promessas e perigos envolvidos – está apenas começando.

Ao lado dos pesquisadores Christian Byrge e Christian Gilde, decidimos avaliar as habilidades criativas da IA, submetendo-a ao Teste de Pensamento Criativo de Torrance (TTCT, na sigla em inglês). Além de aplicá-lo ao GPT-4 oito vezes, 24 dos nossos alunos de graduação também participaram do teste.

O TTCT exige que os participantes usem sua criatividade para realizar tarefas da vida real: fazer perguntas, ser mais eficiente, adivinhar a causa e o efeito de algo ou melhorar um produto. O teste pode pedir que sugiram formas de melhorar um brinquedo ou imaginem as consequências de uma situação hipotética.

Crédito: Fast Company

Todos os resultados foram avaliados por revisores treinados da Scholastic Testing Service, empresa que aplica o TTCT. Eles não sabiam de antemão que alguns dos testes haviam sido realizados por IA.

Por ser uma empresa privada, ela não compartilha provas passadas. Isso garantiu que o GPT-4 não pudesse buscar na internet avaliações anteriores. A organização possui um banco de dados com milhares de testes realizados por estudantes universitários e adultos, que serviu como um grupo de controle extra com o qual pudemos comparar as pontuações da IA.

até agora, poucos currículos visando o desenvolvimento da criatividade foram implementados no sistema educacional.

O resultado? O GPT-4 ficou entre os melhores no teste de originalidade de ideias, superando 99% dos participantes. Com base na nossa pesquisa, acreditamos que este é um dos primeiros exemplos em que IA alcança ou ultrapassa a capacidade humana de pensar de forma original.

Concluímos que modelos de IA como o GPT-4 são capazes de gerar ideias que as pessoas consideram inesperadas, novas e únicas. E outros pesquisadores estão chegando a conclusões semelhantes.

HABILIDADES CRIATIVAS DA IA

Independentemente do debate sobre as definições do que é criatividade e do processo criativo, os resultados gerados pelas versões mais recentes da IA são novos e úteis. Acreditamos que atendem à definição adotada na psicologia e na ciência de forma mais ampla.Além disso, as habilidades criativas das atuais iterações da IA não são totalmente inesperadas.

Em sua agora famosa proposta para o projeto de pesquisa de verão da Dartmouth College, realizada em 1956, os fundadores da inteligência artificial destacaram seu desejo de simular “todos os aspectos da aprendizagem ou qualquer outra característica da inteligência” – incluindo a criatividade.

os fundadores da IA acreditavam que a criatividade estava entre as manifestações da inteligência humana que as máquinas poderiam emular.

Na mesma proposta, o cientista da computação Nathaniel Rochester revelou sua motivação: “como criar uma máquina que demonstre originalidade na resolução de problemas?”

Aparentemente, os fundadores da IA acreditavam que a criatividade, incluindo a originalidade de ideias, estava entre as manifestações específicas da inteligência humana que as máquinas poderiam emular.

Na minha opinião, os resultados surpreendentes do GPT-4 e de outros modelos de inteligência artificial destacam uma preocupação mais urgente: até agora, poucos programas e currículos oficiais visando especificamente a criatividade humana e seu desenvolvimento foram implementados no sistema educacional dos EUA.

Nesse sentido, as habilidades criativas demonstradas pela IA podem servir de motivação para educadores e outros interessados em promover as habilidades criativas humanas, incluindo aqueles que veem a criatividade como uma condição essencial para o crescimento individual, social e econômico.

Este artigo foi originalmente publicado no The Conversation e reproduzido sob a licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Erik Guzik é professor clínico assistente de administração na Universidade de Montana. saiba mais