Produtos pirata da Olimpíada de Paris causam prejuízo de 1,7 bi de euros
Roupas falsificadas têm prejudicado empresas na França
No mercado de pulgas de Saint-Ouen, um ponto turístico não muito longe do Stade de France, onde os atletas vão competir nos Jogos Olímpicos de Paris, policiais invadiram e fecharam 11 lojas que vendiam produtos piratas. Eles confiscaram 63 mil itens, incluindo roupas, calçados e artigos de couro falsificados das marcas Louis Vuitton e Nike. Dez pessoas foram presas.
Produtos piratas são um grande negócio. Por ano, o comércio de roupas falsificadas causa prejuízos estimados em 1,7 bilhões de euros (o equivalente a quase R$ 10 bilhões) para empresas na França, de acordo com o Instituto da Propriedade Intelectual da União Europeia.
“Estamos discutindo o problema das falsificações há dois anos”, diz Michel Lavaud, chefe de segurança policial do subúrbio de Seine-Saint-Denis. Esta operação lembra as ações realizadas por outros anfitriões das Olimpíadas, como Pequim, em 2008, Londres, em 2012, e Rio de Janeiro, em 2016.
Mas a repressão policial aos comerciantes de rua em Seine-Saint-Denis, onde um em cada três residentes vive na pobreza (segundo as estatísticas nacionais francesas), tem sido criticada por agravar a situação de pessoas que já passam por dificuldades.
Axel Wilmort, pesquisador do instituto francês de estudos urbanos LAVUE, observou um aumento significativo na presença policial e na repressão aos vendedores informais nos arredores de Paris nos últimos três meses, com patrulhas frequentes e a instalação de barreiras que impedem os comerciantes de montarem suas barracas.
As operações contra vendedores informais perto da famosa colina de Montmartre, em Paris, se multiplicaram desde fevereiro, com 10 realizadas em quatro dias no início de junho para desmantelar um mercado de cerca de mil comerciantes, de acordo com uma carta do prefeito do distrito ao ministro do Interior que a agência de notícias “Reuters” teve acesso. Setenta toneladas de produtos foram destruídas apenas em março, segundo a carta.
MERCADO LUCRATIVO
Preocupados com a ameaça aos produtos oficiais, os organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris e o Comitê Olímpico Internacional se tornaram membros da associação francesa de proteção à propriedade intelectual (Unifab) no ano passado.
A organização trabalha com marcas para conscientizar sobre os riscos relacionados aos produtos falsificados, que frequentemente violam regulamentos de segurança e ajudam a financiar atividades ilegais.
Um dos patrocinadores da Olimpíada de Paris, LVMH (maior conglomerado de marcas de luxo do mundo), é um membro de destaque. A LVMH não respondeu a um pedido de comentário sobre as recentes medidas anti-falsificação.
A empresa afirmou apenas que trabalha em estreita colaboração com autoridades e funcionários da alfândega para fazer valer seus direitos de propriedade intelectual e defender os consumidores dos falsificadores.
A França já havia intensificado o combate a falsificações. No ano passado, a alfândega apreendeu 20,5 milhões de produtos pirata, um aumento de 78% em relação aos 11,5 milhões confiscados em 2022, de acordo com dados divulgados em maio.
Recentemente, a Unifab ajudou a treinar 1,2 mil agentes alfandegários para verificar a autenticidade das mercadorias relacionadas à Olimpíada, sendo o mascote e as roupas oficiais os alvos mais prováveis de réplicas ilegais. As autoridades francesas também contam com 70 agentes de combate a falsificações online, buscando desmantelar redes criminosas locais e internacionais.
As operações contra vendedores informais perto da famosa colina de Montmartre se multiplicaram desde fevereiro.
“Paris não quer ser conhecida como a capital das falsificações da Europa”, observa o advogado de propriedade intelectual John Coldham, sócio da Gowling WLG, que trabalhou com marcas durante a operação “Fake Free London” antes da Olimpíada de 2012.
Uma preocupação maior para as empresas francesas é a possível relutância dos compradores de moda estrangeiros em visitar Paris durante os Jogos Olímpicos (por causa da pirataria), e não das receitas perdidas para as falsificações.
A Air France-KLM alertou na semana passada que espera um impacto de até 180 milhões de euros, pois alguns turistas estrangeiros evitam a capital francesa. A LVMH e seus concorrentes dizem que não esperam um aumento de receita com o evento esportivo e podem direcionar seu foco para outros lugares.
“As empresas de luxo estão indicando que estão prontas para receber compradores em outros lugares que não Paris: desde a Costa Azul [no litoral sul do país] até Milão e além”, afirma Luca Solca, analista de bens de luxo da empresa de pesquisa e análises de investimento Bernstein.