Projetado para queimar, memorial é dedicado às vítimas da Covid-19

Crédito: Andrew Moore/ Artichoke/ Ricardo Gomez Angel/ Unsplash

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Para quem perdeu parentes ou amigos para a Covid-19, o luto dos últimos dois anos foi se tornando um verdadeiro fardo. Os moradores de uma comunidade inglesa resolveram mitigar a dor com fogo.

Em Bedworth, a cerca de 160 quilômetros de Londres, um elaborado memorial dedicado às vítimas da doença foi construído em um parque público. No último sábado (28 de maio), a estrutura de 20 metros de altura, delicadamente construída em madeira, foi incendiada.

Créditos: Andrew Moore/ Artichoke

Batizada de Santuário, a estrutura poderia ser considerada uma espécie de arte efêmera, criada para oferecer aos familiares e amigos um lugar para encarar o sofrimento e depois vê-lo transformar-se em cinzas.

Idealizado por David Best, o Santuário foi desenhado no formato de um pagode – tipo de templo comum em países do Oriente, como China e Japão. O artista californiano se especializou em criar espaços com o intuito de ajudar as pessoas a lidar com a perda de entes queridos e a superar a dor ao vê-lo consumir-se pelas chamas.

A ideia é inspirada na queima do templo que é o ponto alto do Burning Man, festival de arte e contracultura que acontece todo ano no deserto de Nevada, nos Estados Unidos. O memorial inglês ficou aberto ao público por oito dias. Os visitantes eram convidados a deixar mensagens no local.

“O movimento de pessoas no templo era constante”, conta Helen Marriage, cofundadora da produtora de “eventos efêmeros” Artichoke, responsável pelo projeto. “A superfície ficou toda coberta e as pessoas começaram a trazer objetos e lembranças de seus entes queridos. Estavam por todo lado, em cada fresta e buraco disponível.”

Segundo ela, o que a motivou a erguer um monumento temporário às vítimas da Covid-19 foi o desejo criar uma espécie de espaço sagrado que ajudasse as pessoas a processar as emoções. “Todo mundo precisa de um espaço onde possa dizer coisas que não diria em nenhum outro lugar, onde possa contar sua história, seja ela de dor ou de amor”, explica Helen.

Com apenas 30 mil habitantes, Bedworth foi escolhida por não ter nada de especial, para enfatizar o quão abrangente foi o impacto da pandemia e como é universal a necessidade de se encontrar um jeito de lidar com a perda de alguém amado.

Assim como seus outros trabalhos, o memorial às vítimas da Covid era uma intrincada torre feita de madeira elaboradamente esculpida. Os cortes mais detalhados foram feitos por computador, dando a quem estava no interior do monumento a sensação de andar sob uma toalha de renda.

A obra foi erguida por 12 membros da equipe de David Best, mas contou também com a colaboração de centenas de pessoas da comunidade local, que ajudaram a desenhar alguns dos painéis que enfeitavam o Santuário.

Na manhã de sábado, o templo foi incendiado em uma cerimônia ensaiada. Moradores de Bedworth foram escolhidos para levar as tochas que atearam fogo à estrutura. Baseada em sua experiência anterior com as obras efêmeras de David Best, Helen diz que a experiência é uma incrível combinação de várias emoções.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais