Quanto tempo leva para fazer um tênis? Com este novo processo, só 6 minutos

Após quatro anos em desenvolvimento, empresa lança tecnologia inovadora que deixa os tênis mais leves, reduz o desperdício e acelera a produção

Crédito: On

Mark Wilson 3 minutos de leitura

A inspiração pode vir de qualquer lugar. Neste caso, veio de uma pistola de cola quente durante o Halloween.

Johannes Voelchert, membro sênior da equipe de inovação da marca de calçados On, assistiu a um vídeo no qual um artesão ensinava a fazer uma teia de aranha usando fios de cola quente. Então pensou: “seria possível criar um calçado da mesma maneira?”.

Voelchert decidiu contar a ideia para sua equipe e, surpreendentemente, todos levaram o desafio a sério – inclusive o diretor da empresa. “Disse a eles: ‘podem abusar da criatividade, eu pago’”, conta Ilmarin Heitz, o executivo que incentivou o desenvolvimento do tênis.

Quatro anos depois, o experimento cresceu e hoje inclui 20 designers e engenheiros. O resultado foi uma nova técnica de fabricação de tênis, que recebeu o nome de “Lightspray”. Colocando uma forma em um braço robótico, a On consegue pulverizar toda a parte superior do calçado com um único filamento contínuo, em apenas três minutos.

Isso foi um divisor de águas, já que a parte mais difícil de fabricar em um tênis é a parte superior. As solas são feitas a partir de um molde, mas as partes superiores precisam passar por todo o processo da produção tradicional de vestuário, que inclui diversos tecidos, fios de tensão, costura e cola. 

Quando somamos a isso todos os fornecedores envolvidos, a fabricação de um par de tênis – que pode ter até 100 peças – pode levar vários dias. Isso sem mencionar a logística e o transporte, que fazem esse tempo subir para semanas. Mas os novos calçados da empresa são compostos por apenas cinco partes e levam só seis minutos para serem produzidos. 

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A tecnologia foi apresentada ao público com o Cloudboom Strike LS – lançado em edição limitada em abril e que estará disponível novamente no último trimestre do ano por US$ 330.

COMO FUNCIONA O CLOUDBOOM STRIKE LS

O Cloudboom Strike LS é um tênis de corrida com retorno de energia que reduz o peso ao incorporar alguns dos melhores avanços em impressão 3D.

Para produzi-lo, um braço robótico posiciona a sola na frente de um pulverizador. Ele gira o calçado enquanto o spray o cobre com poliuretano termoplástico (TPU), criando um fluxo em formato de hélice – em um único fio contínuo, que adere à sola e a si mesmo sem cola. 

Mesmo sendo um único material, a On ainda pode ajustar a respirabilidade, elasticidade e suporte da parte superior em diferentes pontos através de dois métodos: movendo o calçado para mais perto ou mais longe do pulverizador ou aumentando ou diminuindo o diâmetro da hélice. O resultado é um par de tênis tão ajustado aos pés que os atletas preferem usá-lo sem meias.

A etapa de produção da parte superior leva alguns minutos. O braço robótico passa o calçado para outro robô, que o pulveriza com uma tinta que seca em três minutos para aplicar cor. Depois disso, ele já está pronto para ser usado. A On afirma que esse método não é apenas mais rápido, como também reduz em 75% a pegada de carbono dessa parte do processo.

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A empresa está se concentrando na produção e no desempenho do Cloudboom Strike LS para depois buscar formas de reduzir seu impacto ambiental – embora o componente mais problemático seja a placa de retorno de energia de fibra de carbono, que é tecnicamente reciclável, mas requer muita energia para isso.

A longo prazo, a On tem o mesmo objetivo da Adidas de anos atrás: usar o Lightspray para substituir produtos asiáticos nos mercados ao redor do mundo, acelerando a produção, reduzindo o impacto e acompanhando as tendências.

    “Não há limites para essa tecnologia”, diz Heitz. “Ela permite produzir qualquer coisa, de qualquer lugar, usando a quantidade de material que quiser.”


    SOBRE O AUTOR

    Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais