Que tal provar um anel de US$ 35 mil? É só usar realidade aumentada

Os anéis da Cartier podem custar o mesmo que um carro. Mas dá para experimentá-los graças à tecnologia de realidade aumentada hiperrealista

Crédito: Cartier

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

Estou usando o icônico anel Trinity da Cartier: três aros de ouro branco 18 quilates entrelaçados em volta do meu dedo anelar da mão direita, com 432 diamantes reluzentes.

Infelizmente, o anel não é meu. Mas, quando olho para minha mão com a joia, sob um abajur de vidro fosco no Cartier Retail Innovation Lab, em Nova York, me sinto como uma socialite francesa.

Crédito: Cartier

Mas não só não possuo o anel como nem mesmo o estou usando. No meu dedo, na verdade, está um simples “anel marcador” preto fosco com um pequeno ponto em relevo. Quando coloco a mão sob a lâmpada – que é muito mais que uma simples lâmpada – ela aparece em um tablet bem ao meu lado, em resolução 4K cristalina.

Conforme mexo os dedos, a imagem 3D no iPad segue o movimento, praticamente em tempo real. A única diferença é que estou usando um anel simples, que provavelmente vale US$ 100, enquanto a versão digital da minha mão ostenta US$ 35 mil em joias.

Crédito: Cartier

Essa experiência é conhecida como tecnologia de teste virtual e existe há cerca de uma década. Mas, nos últimos anos, os avanços tecnológicos levaram a uma explosão do uso de realidade aumentada (RA) para este tipo de aplicação, de móveis a óculos e vestuário.

No entanto, há uma diferença fundamental entre esses usos e o feito tecnológico que a Cartier acaba de realizar. Ao

As pessoas já estão comprando móveis e até casas sem sequer verem ao vivo. Por que não um anel de diamante?

contrário da maioria das iniciativas, esta não depende da tecnologia de modelagem 3D – na qual um modelo em três dimensões é sobreposto sobre um objeto real de forma meio estranha.

A Cartier utiliza redes adversárias generativas (GAN, na sigla em inglês), que são mais comumente usadas para criar vídeos deepfake.

“Quando o modelo 3D é renderizado pelo smartphone e não conhece as condições de iluminação, sempre acaba parecendo um desenho animado”, explica o chefe do Retail Innovation Lab da Cartier, Andrew Haarsager.

Para atingir o nível desejado de qualidade e garantir que o sistema funcione igualmente bem em qualquer mão, a marca de luxo treinou um sistema de IA em uma ampla variedade de tons de pele com base na linha de maquiagem inclusiva Fenty Beauty, da cantora Rihanna, que foi lançada com 40 tons diferentes e hoje conta com 50.

Crédito: Cartier

A equipe então trabalhou para reduzir o tempo da resposta da versão virtual para menos de 15 milissegundos, criando uma experiência fluida e contínua. Por enquanto, os clientes podem escolher entre 13 anéis, mas, em breve, serão adicionados mais 11.

Há outra diferença fundamental entre a tecnologia de RA da Cartier e a dos concorrentes: você não pode simplesmente baixar um aplicativo e “experimentar” um anel Trinity em casa. Por enquanto, a experiência está disponível apenas em algumas lojas físicas.

Isso soa como uma falha óbvia, mas o motivo por trás da decisão faz sentido. Mesmo as maiores butiques Cartier costumam ter apenas uma pequena parte do estoque da marca.

“A Cartier fabrica tantas variações diferentes de produtos e tantos itens exclusivos que eles só ficam disponíveis em um determinado local”, diz Haarsager. “Se uma joia estiver em exibição em Nova York, compradores de outros lugares podem nunca vê-la.”

Crédito: Cartier

Há também uma razão prática: a tecnologia GAN requer o uso do anel marcador. Ele possui um detalhe branco em relevo que serve como ponto de captura de movimento para ajudar o sistema a rastrear o anel conforme a pessoa move os dedos. Enviar um para cada cliente em potencial seria difícil e caro.

Notei que ter um anel no dedo – não importa que não seja o verdadeiro – contribuiu incrivelmente para a ilusão de estar usando a joia. Você pode mexer nele, girá-lo para frente e para trás e, se continuar olhando para o iPad (e não para sua mão de verdade), pode até esquecer qual é qual.

A esperança é que esta tecnologia se torne uma ferramenta de vendas extraordinária sem comprometer a experiência de varejo excepcional da qual a Cartier tanto se orgulha. E, de acordo com Haarsager, os resultados já são promissores.

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SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais