Removedores de manchas, os heróis improváveis da era da moda sustentável
Como se tornar um especialista em remoção de manchas e preservar as roupas que você realmente ama
Quem nunca passou por isso: ao saborear uma deliciosa massa, o molho de tomate respinga na sua camisa branca favorita. Mesmo depois de deixá-la muito tempo de molho e esfregar bastante, a mancha vermelha continua lá. No fim, a camisa vai parar no lixo e você compra uma nova.
Por décadas, a fast fashion tem dominado a indústria de vestuário, produzindo roupas tão baratas que se tornaram praticamente descartáveis. Segundo estimativas, os consumidores usam uma peça apenas de sete a 10 vezes antes de descartá-la. Esse consumo excessivo está levando o planeta à beira do colapso: a moda agora é responsável por 8% das emissões globais de carbono.
A solução é comprar menos roupas. Isso significa escolher peças de qualidade, projetadas para durar anos, senão décadas. E, para isso, também devemos aprender novas habilidades em relação aos cuidados com a roupa. Em outras palavras, precisamos nos tornar especialistas em remoção de manchas.
A CIÊNCIA DAS MANCHAS
A princípio, a ciência das manchas é bastante simples. Elas ocorrem quando uma substância estranha entra em contato com a superfície da roupa, saturando o tecido. A parte complicada é como cada substância específica interage com a textura.
Muitas pessoas recorrem a lavanderias para remover manchas difíceis, mas é possível lidar com quase qualquer uma em casa, de acordo com Hannah Yokoji, diretora de marca da The Laundress, empresa que desenvolve detergentes, incluindo soluções para manchas, que preservam o tecido.
Quando se trata de manchas difíceis, existem dois tipos principais: as ricas em cor – como molho de tomate, café, frutas e tinta – e as ricas em óleo, como molho para salada e maquiagem.
Segundo estimativas, os consumidores usam uma peça apenas de 7 a 10 vezes antes de descartá-la.
A gravidade de uma mancha também depende do tecido: quanto mais absorvente ele for, mais a mancha se fixa. Fibras vegetais, como algodão, linho e viscose (que é feita de polpa de madeira), são porosas e, portanto, mais propensas a absorver substâncias. Manchas em fibras de origem animal, como lã e caxemira, costumam ser mais fáceis de remover.
“Essas fibras têm as mesmas propriedades que o cabelo, o que facilita a lavagem”, explica Frej Lewenhaupt, fundador e CEO da Steamery, que produz vaporizadores, lâminas que removem bolinhas e removedores de manchas, todos projetados para prolongar a vida útil das roupas. Por outro lado, fibras sintéticas como nylon e poliéster tendem a absorver substâncias.
A ARTE DA REMOÇÃO DE MANCHAS
O segredo para o cuidado com as roupas é usar um agente de limpeza que remova a mancha sem danificar o tecido. Em todos os casos, quanto mais rápido se lida com uma mancha, maior a probabilidade de removê-la efetivamente.
O objetivo é evitar que o que foi derramado seja absorvido pelo tecido, usando um lenço ou guardanapo para limpar imediatamente. “Faz uma enorme diferença limpar a substância antes que ela tenha a chance de se fixar na fibra”, destaca Lewenhaupt.
Depois, é preciso considerar qual produto químico usar para remover a mancha. A maioria das empresas de cuidados com tecidos oferece soluções para manchas contendo diferentes enzimas – agentes biológicos que quebram as moléculas das manchas.
Enzimas específicas têm como alvo proteínas (como sangue e uma ampla variedade de alimentos, incluindo ovos e carne), taninos (como vinho) e manchas à base de óleo.
Usar um removedor de manchas ajuda bastante, segundo Yokoji. Funcionará ainda melhor se for usado com uma escova tira-manchas, que ajuda a solução a penetrar no tecido. No entanto, é crucial não deixar as enzimas no pano por muito tempo, especialmente em peças com cores vivas, porque pode levar à descoloração.
“A mancha tinge temporariamente o tecido. O papel da enzima é quebrar as moléculas da substância. Mas, se você deixá-la por muito tempo, ela também pode quebrar as moléculas de tinta do tecido”, explica a diretora da The Laundress.
Enzimas não são os únicos químicos que removem manchas. Existem outros produtos domésticos que podem resolver o problema. O peróxido de hidrogênio é bom para quebrar ligações químicas fortes em manchas persistentes e ricas em cor, como tinta e vinho.
Produtos com pH ácido, como vinagre e suco de limão, ativam moléculas nas manchas, fazendo com que se desprendam do tecido. Eles removem manchas de café e chá, além de mofo. Há também o bicarbonato de sódio e o amido de milho, que absorvem as moléculas da substância. Costumam funcionar bem em manchas de alimentos, como gordura e ketchup.
Depois de aplicar algum desses produtos, é hora de lavar a peça, tomando especial cuidado com a temperatura da água. A quente é mais eficaz em manchas ricas em óleo, pois o calor quebra as moléculas. Mas em muitos outros casos, como alimentos ou sangue, ela acaba fixando ainda mais a mancha no tecido. Nesses casos, só se deve usar água fria.
Lewenhaupt e Yokoji acreditam que aprender a remover manchas é uma habilidade que pode até mudar o comportamento de consumo. Você provavelmente se sentirá mais confiante em comprar uma peça mais cara, ou de uma cor mais viva, se souber que vai conseguir mantê-la em bom estado, mesmo que ela manche por algum motivo.
Seria então o caso de abandonar a fast fashion e investir em roupas que realmente valham a pena.